O Pampa chegou ao fim de 2024 com usos econômicos convencionais ligeiramente acima (45,6%) da cobertura de vegetação nativa (44,5%). As perdas de áreas naturais são puxadas pela agricultura, seguidas pela silvicultura, urbanização e mineração.
Isso posiciona o bioma – restrito ao Rio Grande do Sul – como o segundo brasileiro com o menor percentual de cobertura de vegetação nativa, só atrás da Mata Atlântica.
Desde meados dos anos 1980, a superfície com aquelas atividades cresceu aceleradamente, mostra o MapBiomas. As perdas acumuladas foram as maiores entre os biomas brasileiros nas últimas quatro décadas.
O avanço ocorreu principalmente sobre a vegetação de campos – a marca registrada do Pampa. A cobertura de florestas, banhados e restingas, embora com territórios menos extensos, permaneceu relativamente estável no período.
Na grande maioria dos municípios, as lavouras já superam a pecuária no uso dos campos. A soja lidera a eliminação do bioma, pois sua área quase quadruplicou. A silvicultura também se expandiu, sobretudo na Serra do sudeste e no litoral.
Conforme dados da Associação Gaúcha de Empresas Florestais (Ageflor), os 974 mil ha plantados no estado são a sexta maior área nacional, atrás de Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, São Paulo, Paraná e Santa Catarina.
Diante disso, cientistas lembram que dar cabo da vegetação nativa piora serviços ambientais como conservação do solo, infiltração de água e polinização. Também ameaça animais típicos do Pampa, inclusive ameaçados de extinção.
Não bastando, essas grandes perdas aumentam sua vulnerabilidade ambiental porque o bioma tem apenas 2,96% em unidades de conservação – a menor proporção do país.
Para o pesquisador do MapBiomas Pampa, Eduardo Vélez, isso pode ser fruto da baixa compreensão sobre o valor da vegetação nativa pampeana. “Sua perda não gera o mesmo impacto na percepção pública que o desmatamento, embora sua importância ecológica seja equivalente à das florestas”.
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