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Despedida triunfal: palmeiras que florescem uma única vez dão show no Rio

Floração da palmeira-talipot ocorre apenas no final da sua vida, após 50 a 70 anos de espera, e pode ser vista no Jardim Botânico e no Aterro do Flamengo

Duda Menegassi ·
1 de dezembro de 2025
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Moradores e visitantes da cidade do Rio de Janeiro que passeiam pelo Jardim Botânico ou pelo Aterro do Flamengo têm se encantado com uma imagem raríssima: a floração da palmeira-talipot. A inflorescência se assemelha a um largo buquê de palha dourada que orna o topo dessas árvores de até 30 metros de altura. Uma cena rara, já que essas palmeiras têm como característica florescer numa única primavera, já no final do seu ciclo de vida, entre 50 e 70 anos de idade. Uma espécie de despedida triunfal e uma estratégia desesperada de reprodução para garantir seus descendentes.

Apesar de incorporada à arborização urbana carioca – um legado do paisagista Burle Marx – a palmeira-talipot (Corypha umbraculifera) é uma espécie originária do sul da Índia e do Sri Lanka. A árvore tem uma estratégia peculiar de sobrevivência. Guarda energia ao longo de décadas para explodir em flor, com a produção de cerca de 25 milhões de flores, e, consequentemente, dar muitos frutos.

A fase de floração dura de um a dois meses e depois disso, num processo mais lento, vem a frutificação, que pode durar até um ano. A polinização é feita pelo vento. Com toda sua energia vital investida na produção dos seus descendentes, a palmeira entra na fase final e começa a perder gradualmente suas folhas.

“As flores dão origem aos frutos. Depois da frutificação, começa o processo de senescência. Perde folhas e morre. O processo é lento e dura cerca de um ano, tempo necessário para que os frutos amadureçam e caiam. A estratégia dela é garantir a continuidade da espécie, mesmo que o indivíduo desapareça”, explica o pesquisador Marcus Nadruz, coordenador da Coleção Viva do Jardim Botânico do Rio.

Local da floração no Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Foto: Carolina Morena

A floração coincidente de dois indivíduos no Jardim Botânico e outros quatro no Aterro, sugerem que elas tenham uma idade similar, mas há outros exemplares da espécie ainda sem flor na cidade. As palmeiras-talipot também podem ser encontradas no Sítio Burle Marx, onde vivia o paisagista, responsável por introduzi-las na cidade, na década de 60. 

As palmeiras são usadas para arborização urbana em outros lugares do mundo, porém no Brasil seus únicos registros são no Rio de Janeiro. De acordo com o pesquisador, o Jardim Botânico pretende produzir mudas a partir dos frutos, que poderão ser disponibilizados para plantios em praças e espaços públicos.

  • Duda Menegassi

    Jornalista ambiental especializada em unidades de conservação, montanhismo e divulgação científica.

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