O mês de julho é sinônimo de férias e alegria para muitos humanos, mas para as tartarugas, o sétimo mês do ano representa reprodução. A escolha de um bom lugar para construir o seu ninho é fundamental para o sucesso da fecundação. Pesquisadores do Instituto Mamirauá analisou a preferência e o uso de locais de desova feito por três espécies –Iaças (Podocnemis sextuberculata), Tracajás (Podocnemis unifilis), Tartarugas-da-amazônia (Podocnemis expansa) — em uma praia na região do Médio Solimões, estado do Amazonas.
Durante o período de agosto a dezembro de 2016, os pesquisadores percorreram cerca de três quilômetros (sentido leste/oeste) e 500 metros (sentido norte/sul) de extensão da Praia do Horizonte, que é uma faixa de areia na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá. Os rastros deixados na areia pelas “mães tartarugas” foram pistas para a equipe localizar os pontos de desova. À medida que eram identificados, os pontos foram marcados com placas de metal, para posterior procura com detector de metais e registrados no sistema de posicionamento global (GPS).
O estudo foi assinado pelos pesquisadores do Instituto Mamirauá, Marina Secco e Robinson Botero-Arias, David Guimarães da Universidade Federal do Acre (UFAC), e Cássia Camillo, pesquisadora da Universidade da Flórida.
Foram contabilizados 194 ninhos de iaçás, 11 de ninhos de tracajá e cinco de tartarugas-da-amazônia. O processo também contou com a coleta de amostras de aproximadamente 200 gramas de areia de cada ninho e também de pontos aleatórios na praia. O material foi usado para análises em laboratório e comparações entre a composição de areia em diferentes áreas.
O estudo indica que os locais de desova e os que não tinham ovos tiveram grandes diferenças de altura e presença de areia grossa. As áreas sem ninhos têm altas concentrações de areia fina, representado mais de 80% de toda composição de areia. Os especialistas acreditam que esse seja um dos motivos “pelo qual algumas áreas da praia não havia desova”.
Iaças: ninhos de areia fina e desova em pontos altos
As iaçás concentraram a desova na região central da praia, escolhendo áreas altas, com uma inclinação gradual ao passo que os ninhos ficam mais afastados do rio, no sentido sul-norte. As Podocnemis sextuberculata percorreram grandes distâncias entre a água e os ninhos, em uma média superior a 90 metros.
Tracajás: areia, argila e desova em locais com umidade
Em relação às iaçás, as tracajás fizeram um caminho menor até os pontos de desova, ficando em uma média de 71,1 metros. A localização dos ninhos da espécie demonstrou uma escolha das fêmeas pela zona norte da praia.
As amostras coletadas na região de desova dos tracajás apresentaram uma concentração moderada de argila misturada à areia, o que ajuda a criar “um local adequado para a postura, uma vez que essa espécie prefere depositar seus ovos em locais mais úmidos”, afirma o estudo.
A escolha dos lugares mais altos para a desova dos ovos de tracajá chamou a atenção dos pesquisadores, pois esse é um comportamento comum da tartaruga-da-amazônia. “Isso pode ser explicado se levado em consideração a distância entre o ninho e a água, uma vez que P. unifilis prefere desovar em locais próximos ao rio e, na praia estudada, havia um corpo d’água próximo às maiores alturas encontradas”, consideram os pesquisadores.
Tartarugas-da-amazônia: areia grossa e menor tempo de incubação
Já a terceira espécie investigada, a tartaruga-da-amazônia, ocupou a porção sul da praia do Horizonte, próximos da água. As alturas dos pontos de desova ficaram entre 4 e 6 metros.
Segundo os pesquisadores, “por apresentarem uma maior fração de areia grossa (0,44%) e menor de argila (2,43%) e se encontrarem em locais altos (os ninhos) possuem um menor tempo de incubação”.
Leia Também
Leia também
Lar, magnético lar! Como tartarugas acham o caminho de casa
Graças à capacidade de reconhecer assinaturas de campos magnéticos ao longo da costa, tartarugas conseguem voltar à praia onde nasceram. →
A verdade sobre a tartaruga-da-amazônia
Este quelônio de água doce vive no rio Amazonas e seus afluentes, que se estendem pelos territórios das Guianas, Colômbia, Peru, Equador, Bolívia e Venezuela. →
Curta as férias sem prejudicar as tartarugas
Verão é tempo de aproveitar a praia , mas é preciso bom senso e um pouco de cuidado para não afetar a desova desses animais marinhos →
Como se chama o rastro deixadas pelas tartaruga s na areia?
Prezado, Sr. F.Raeder, os dados da notícia cobrem um ano de conservação comunitária, trabalho de pesquisadores e moradores dessas regiões. Esse projeto do Instituto Mamirauá na praia Horizonte, Reserva Mamirauá, ainda tem mais um ano de validade e aí o estudo geral será publicado.
Poderiam disponibilizar o "link" para o artigo/estudo completo? Grato.