Com enorme entusiasmo marcamos uma visita ao Parque Nacional Serra da Canastra para aproveitar o último feriado. Infeliz ideia. Fora as maravilhas do Parque Nacional, que não são empanadas nem pelas chuvas torrenciais ou estradas intransitáveis e a gentileza dos fiscais e guardas parques, tudo parecia um filme de aventuras pouco agradáveis e até realmente perigosas.
Conseguir vagas nas poucas e em geral simplíssimas pousadas, para dizer o mínimo, mas de preço de hotéis muito bons no mundo, tem-se de gastar horas e horas de telefonemas ou aceitar uma única empresa que parece operar na região. Depois de umas 10 horas de estradas, entre elas algumas de terra, e depois de vários atoleiros donde só se saía com a ajuda sempre presente dos mineiros, chega-se na pousada ávida por um banho. Que banho que nada, pois o chuveiro não funciona. Vai-se dormir. Mas como dormir com goteiras dos banheiros do outro piso e baratas passeando nos nossos quartos infectos? Bem vamos aguentar pelo menos uns dois dias para a tão sonhada visita. E como vale a pena!
Os restaurantes da região, com raríssimas exceções, só apresentam o nosso prato básico: arroz com feijão. Com enorme saudade da comida mineira, ficamos um pouco mais frustrados. Comer e dormir bem já são sonhos desfeitos.
São Roque de Minas “vende” o que tem de espetacular: o Parque Nacional da Serra da Canastra. Onde estão as autoridades municipais, estaduais e federais que não contribuem com melhores condições para o ecoturismo na região? E com as condições sanitárias? E, também, com a segurança nas descidas erodidas e perigosas do Parque? Esperam alguma tragédia? A pousada em que ficamos deveria ser fiscalizada primeiramente pela vigilância sanitária.
Felizmente, o estado de Minas Gerais nos oferece vários exemplos de Parques Nacionais e Estaduais com ótima infraestrutura no entorno, a título de exemplo, como o Parque Nacional da Serra do Cipó.
É uma enorme pena ver o tão especial Parna da Serra da Canastra ser usado e vendido com a mais profunda displicência. A interpretação ambiental praticamente não existe. O centro de visitantes não funciona como tal, as trilhas estão mal mantidas e perigosas. A interpretação está a cargo de simpáticos guias, mas que ainda necessitam de capacitação. A sinalização é fraca, os banheiros quebrados e sem iluminação.
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Não posso deixar de mencionar as horríveis torres de transmissão de energia. Que lástima as autoridades constituídas terem permitido que elas recortem tão belas paisagens naturais.
Para não falar só do que poderia estar muito melhor se houvesse uma adequada gestão, narrarei o que vimos. Além da maravilha que é a Casca da Anta, as paisagens espetaculares da Canastra, a nascente do Velho Chico, o que se vê de fauna e flora em dois dias é inesquecível. Vimos três tamanduás bandeira, emas, seriemas, urubus rei, fezes de lobos guarás, pica-paus, tucanos, maritacas, gaviões, serpentes, corujas, entre pássaros e mamíferos, além dos insetos. Chamou-nos a atenção uma borboleta 88. Da flora, os pepalantos, as sempre-vivas, as velózias ou canelas-de-emas, as flores rupestres, os palmitos, samambaiaçus e pequis.
Eu mostrava bem alegre tudo a meus netos. Minha nora lhes ensinava: “se vocês virem um cupinzeiro que levanta o rabo é um tamanduá”.
Aprender que Zagaia na região tem outro significado que as zagaias do Pantanal faz-nos ter a certeza que visitar um Parque Nacional é sempre uma nova lição e que defender este Parque das ameaças que sofre, além de postular sua ampliação é um dever de todos ambientalistas.
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A quem interessa retalhar o Parque da Serra da Canastra?
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