Reportagens

Desmatamento está caindo, diz Sarney

Ministro afirma que devastação na Amazônia “inverteu a curva” entre novembro e janeiro devido à “presença do Estado”; dados do Inpe continuam sem divulgação mensal, apesar de promessa

Claudio Angelo ·
8 de março de 2017 · 8 anos atrás
Propriedades rurais em módulo de consulta pública do CAR. Foto: reprodução.
Propriedades rurais em módulo de consulta pública do CAR. Foto: reprodução.

A taxa de desmatamento na Amazônia caiu 12% entre novembro do ano passado e janeiro deste ano em comparação com o mesmo período anterior, segundo dados do Deter, o sistema de alertas de desmatamento do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). Os números animaram o ministro do Meio Ambiente, Sarney Filho (PV-MA), a decretar que “a tendência de aumento do desmatamento foi revertida”, durante um evento em Brasília nesta terça-feira (7).

Segundo o ministro, a “reversão” na curva se deve à “maior presença do Estado” na Amazônia nos últimos meses. “As operações do Ibama voltaram e há um maior engajamento dos governos estaduais”, disse Sarney, após o lançamento do Sinaflor, o novo sistema nacional de controle da origem da madeira. “Todos os governadores ficaram constrangidos com o aumento da taxa”.

A velocidade do desmatamento na Amazônia cresceu 60% nos últimos dois anos, revertendo o padrão de queda verificado na última década. Apenas em 2016 o aumento foi de 29% – 7.989 km2 –, o que jogou para cima as emissões de carbono do Brasil daquele ano, causando dificuldade para o cumprimento das metas climáticas nacionais.

Embora não sejam comparáveis com os dados do sistema que fornece a taxa anual, as informações do Deter mostram que entre novembro de 2016 e janeiro de 2017 foram detectados 195 km2 de corte raso na floresta, contra 221 km2 no mesmo período do ano anterior. No acumulado de agosto do ano passado a janeiro deste ano, o Deter viu 1.796 km2 de desmatamento, uma queda de 6,7% em relação ao mesmo período anterior.

É cedo para comemorar, porém: a Amazônia está no meio da estação chuvosa, e em algumas regiões, como partes do Amazonas, a precipitação tem batido recordes. É uma época em que naturalmente se desmata menos e as nuvens impedem que os satélites enxerguem alguns desmatamentos, que só serão computados no mês seguinte. “A grande quantidade de chuvas pode ter reduzido a oportunidade para desmatar”, diz Paulo Barreto, do Imazon. “Como mostram as imagens [de televisão] da BR-163 [rodovia Cuiabá-Santarém], os caminhões não estão conseguindo sair com soja”.

O SAD, sistema do Imazon que usa os mesmos satélites que o Deter (mas uma metodologia distinta), viu um aumento de 5% na devastação no acumulado agosto-janeiro, também em comparação com agosto de 2015 a janeiro de 2016.

O Inpe segue atrasando a divulgação dos números do Deter, apesar da promessa feita pelo governo em junho do ano passado de que eles voltariam a ser mensais. Os novos dados saíram apenas no dia 2 de março, quatro meses depois da última divulgação.

Questionado pelo OC, o MCTIC (Ministério da Ciência e Tecnologia), ao qual o Inpe é vinculado, afirmou que a divulgação continua a obedecer um acordo entre o Ibama e o Inpe que determinou o fim dos relatórios mensais de forma a “proteger o andamento de investigações” sobre crimes ambientais (spoiler: não funcionou, já que o desmatamento subiu desde então).

Ontem o ministro do Meio Ambiente disse ser contra a retenção dos dados.

 

Republicado do Observatório do Clima através de parceria de conteúdo. logo-observatorio-clima

 

Leia Também

Desmatamento encurrala chuva na Amazônia

Sarney negocia licenciamento com ruralista

Enfim, um não recorde climático

 

 

 

  • Claudio Angelo

    Jornalista, coordenador de Comunicação do Observatório do Clima e autor de "A Espiral da Morte – como a humanidade alterou a ...

Leia também

Análises
15 de fevereiro de 2017

Enfim, um não recorde climático

Dados da Nasa mostram que janeiro de 2017 é “apenas” o terceiro mais quente da história desde o início dos registros, mas não se anime: Donald Trump e Michel Temer estão aí para corrigir essa falha

Reportagens
2 de fevereiro de 2017

Sarney negocia licenciamento com ruralista

Rascunho de texto apresentado pelo ministro do Meio Ambiente aos deputados retira necessidade de licença para 97% das propriedades rurais; objetivo é evitar aprovação de “licenciamento flex”

Reportagens
20 de fevereiro de 2017

Desmatamento encurrala chuva na Amazônia

Aumento da área desmatada em Rondônia nos últimos 30 anos alterou regime de chuvas, mostram cientistas americanos; mecanismo pode ter implicações para produtividade da agricultura

Mais de ((o))eco

Deixe uma resposta

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.

Comentários 5

  1. PAndre diz:

    kkkkkk, batendo palmas pra maluco dançar, kkkk, o MMA tá na vanguarda…kkkk… cada dia q passa melhora a olhos vistos…Kkkkkkk


  2. Nelson diz:

    Estranho usar indicativo de alteração da cobertura vegetal como taxa de desmatamento. O correto é trabalhar com o PRODES que tem a informação do que realmente é desmatado. A diferença entre os algorítimos do INPE e do IMAZON que é mais conservador também deveria ser melhor trabalhada pelas fontes.


  3. Uai... diz:

    "spoiler: não funcionou, já que o desmatamento subiu desde então"
    Se não funcionou, onde está a contestação aqui na reportagem da afirmação do ministro de que "reduziu pela presença do estado"? Ministro este que ao mesmo tempo afirma ser contra a retenção dos dados…

    E então, o Ministro está jogando para a platéia (que obviamente segue batendo palma, mas não mais panelas)?


    1. SkyNet diz:

      Petista chateado detected!


      1. Uai... diz:

        Uai, e estar chateado invalida o comentário? 🙂