Newsletter O Eco+ | Edição #129, Janeiro/2023
08 de janeiro de 2023
Pouco conhecido pela ciência e de raro avistamento, o tatu-de-rabo-mole-grande (Cabassous tatouay), a maior espécie de tatu do gênero Cabassous, teve registros da sua presença confirmados pela primeira vez no Pantanal. Até então, a espécie tinha ocorrência confirmada na Mata Atlântica, Caatinga, Cerrado e Pampa, entre estados do leste e sul do Brasil. A confirmação inédita da espécie foi publicada em artigo recente da revista científica Edentata, de divulgação do grupo de especialistas em tamanduás, preguiças e tatus da Comissão de Sobrevivência de Espécies da União Internacional de Conservação da Natureza (IUCN SSC, da sigla em inglês). Michael Esquer escreve sobre o estudo, que também chama a atenção para a inclusão da espécie na lista de mamíferos de Mato Grosso do Sul, assim como para a importância da conservação da área de transição entre biomas na região ocidental do estado, que compreende partes do Cerrado e Pantanal.
Um estudo publicado na revista Conservation Science and Practice avisa que espécies migradoras estão ameaçadas por quase 900 usinas na Bacia Amazônica Sul-americana. Dessas, 434 estão prontas ou em obras. Outras 463 estão planejadas. A grande maioria dos projetos é brasileira, sobretudo nas bacias dos rios Tapajós, Araguaia e Tocantins. Golfinhos, tartarugas e peixes migratórios serão os mais afetados, posto que precisam de longos rios desimpedidos para sobreviver. Animais de terra firme e alagados também: onças, capivaras, cervos e macacos se movem inclusive por margens de cursos d’água, que podem ser afogadas por lagos de hidrelétricas. A reportagem de Aldem Bourscheit trata dos potenciais prejuízos que as barragens causarão não só à fauna, como também à economia e outras atividades humanas.
Emanuel Alencar conversa com Vicente Andreu. Atual diretor de serviços urbanos de Hortolândia (SP) e ex-presidente da Agência Nacional de Águas (ANA), o estatístico critica duramente o imbróglio que marcou os primeiros dias de gestão do novo governo Lula: o papel da agência na publicação de normas para o saneamento básico. Crítico contumaz da privatização dos serviços de água e esgotos, Andreu diz que a polêmica é um "erro estratégico que só ajuda os setores privatistas”. “Privatização melhora para poucos, piorará para muitos, com tarifa mais cara. Saneamento não é produção de parafuso. Deveria ter um processo de controle social muito melhor”. Filiado ao PT desde 1982, ele não participou do grupo de transição que discutiu o saneamento.
Boa leitura!
Redação ((o))eco
· Destaques ·
Orelhudo e de cauda nua: enigmática espécie de tatu é confirmada no Pantanal
900 hidrelétricas impedirão grandes migrações na Bacia Amazônica
“Discussão da ANA é erro estratégico grosseiro, que ajuda o privatismo”, critica ex-presidente da autarquia
· Conservação no Mundo ·
As maiores “descobertas” de 2022. Cientistas estimam que apenas 10% de todas as espécies do planeta foram descritas. Mesmo entre o grupo de animais mais conhecido, os mamíferos, os cientistas acham que encontramos apenas 80% das espécies. Embora uma espécie possa ser nova para a ciência, ela já pode ser bem conhecida pelos habitantes locais e ter um nome comum. Por exemplo, os povos indígenas geralmente conhecem as espécies muito antes de serem “descobertas” pela ciência ocidental. Um peixe arco-íris, um sapo que parece chocolate, uma tarântula tailandesa, uma anêmona que cavalga nas costas de um caranguejo eremita e o maior nenúfar do mundo são alguns dos destaques de uma galeria do Mongabay que traz 15 novas espécies nomeadas pela ciência em 2022. Confira. [Mongabay]
Quando e onde começou o Antropoceno? Uma equipe internacional de quase 40 cientistas tentará responder a essa pergunta nos próximos meses, escolhendo uma data e um lugar para representar o momento em que a humanidade se tornou uma “superpotência geológica”, superando os processos naturais que governaram a Terra por bilhões de anos. A atmosfera, lagos e oceanos e o mundo vivo foram todos transformados pelas emissões de gases de efeito estufa, poluição e destruição da vida selvagem e dos ecossistemas. Humanos também têm agora um efeito maior na formação da superfície da Terra do que os processos naturais, deslocando cerca de 24 vezes mais material do que é movido pelos rios. Definir o Antropoceno é vital, dizem os pesquisadores, porque ele reúne todos os impactos dos humanos no mundo, dando assim uma plataforma para uma compreensão holística e de ação para reparar os danos. Do ponto de vista científico, uma definição precisa é essencial para uma base clara para o debate. [The Guardian]
· Animal da Semana ·
A partir dessa semana, a Newsletter O Eco+ traz para você, em primeira mão, qual vai ser o animal de destaque na semana! 😉
O animal da semana é o Jupará!
São criaturas solitárias, mas regularmente interagem em grupos sociais com até quatro indivíduos. Estão distribuídos nas Américas do Norte e Central, em todas as áreas de florestas tropicais entre o México e Panamá, e na América do Sul tem distribuição pan-Amazônica, ocorrendo também na Mata Atlântica brasileira. 🌳
Alimenta-se principalmente de frutas, suplementando sua dieta com insetos e pequenos vertebrados e, por possuírem uma língua longa e flexível, também de mel e néctar. 🔖
· Dicas Culturais ·
• Pra ler •
2084: Uma ficção baseada em fatos reais sobre o aquecimento global e o futuro da Terra (2022) | James Lawrence Powell, Paulo Afonso (Tradutor)
Uma ficção baseada em fatos reais sobre o aquecimento global e o futuro da Terra. Ao simular entrevistas com políticos, cientistas e cidadãos de vários países que perderam tudo em eventos climáticos extremos e seus desdobramentos, o autor lança um alerta poderoso. Avançando 100 anos em relação ao cenário distópico imaginado por George Orwell em 1984, este livro é uma exploração original, baseada em evidências, do planeta em que nossos filhos e netos viverão.
• Pra ler •
Sob os tempos do equinócio: Oito mil anos de história na Amazônia central (2022) | Eduardo Góes Neves
O autor realiza uma reconstituição de oito mil anos de história da ocupação humana da Amazônia central – de 10 mil anos atrás até os primeiros momentos da colonização europeia, no século XVI. Com precisão científica, repertório histórico e imaginação, o antropólogo traz ao presente a vida de mulheres e homens que viveram na Amazônia há milhares de anos, sugerindo ainda que a própria floresta teria como um de seus principais agentes o ser humano, produzindo lixo orgânico, realizando manejo de espécies e plantações. Uma hipótese que reforça ainda mais a importância da manutenção de Terras Indígenas no presente.
• Pra ouvir •
Ao Ponto | O Globo
“O pacote ambiental do governo Lula e os (muitos) desafios dos próximos anos.” Para explicar os novos decretos de Lula e o que podemos esperar para os próximos anos no setor ambiental, incluindo os muitos desafios, o episódio desta quinta-feira conversou com Ana Paula Prates, diretora para Políticas Públicas do Instituto Talanoa.