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Segundo dia de fiscalização em parques estaduais do Rio encontrou problemas parecidos: desmatamento e desculpas furadas. O alvo foi o Parque dos Três Picos.

Juliana Tinoco ·
1 de agosto de 2005 · 20 anos atrás

O Parque Estadual dos Três Picos de Salinas, cuja área alcança os municípios de Teresópolis, Nova Friburgo e Cachoeiras de Macacu, no estado do Rio, foi criado há apenas três anos. Mas já era bem conhecido dos montanhistas, pelo privilégio das escaladas explícito em seu nome.

Foi lá que ocorreu, no dia 29 de julho, a segunda etapa da Operação Mata Atlântica, pela qual o Instituto Estadual de Florestas (IEF) mobilizou agentes próprios, policiais e bombeiros para coibir crimes ambientais em três parques estaduais. As ações haviam começado no dia anterior, pelo Parque da Tiririca, em Niterói.

Os principais alvos da fiscalização eram o desmatamento ilegal, a caça e a posse irregular de animais silvestres. Na região do Parque dos Três Picos, os problemas mais conhecidos são a retirada ilegal de palmito em Teresópolis e a freqüente caça de pacas, tatus e macacos. Segundo o administrador do parque, Flávio Luís Castro Jesus, não há desmatamento dentro de seus limites. Mas no entorno as irregularidades são tantas que a operação precisaria de muitos outros dias para cobrir toda a área.

Percorremos a BR-040, no trecho que liga Teresópolis a Nova Friburgo, divididos em dois grupos. Somente a equipe do chefe das ações, Marco Aurélio Paes, autuou cinco propriedades e apreendeu sete pássaros em uma tarde. As irregularidades eram sempre similares. Desmatamento sem autorização do Ibama ou da Prefeitura, próximo a cursos d’água.

As desculpas também eram bem parecidas. Todos alegavam não estarem cientes de que era proibido desmatar aquelas áreas. Como a maioria dos proprietários mora no Rio ou em São Paulo, apenas um dono de fazenda foi encontrado e pôde ser autuado pessoalmente. Nas outras propriedades, os caseiros receberam as notificações preventivas e, nos casos em que diziam não saber os dados pessoais dos proprietários, eram eles próprios autuados. “Não dá pra dizer que eles não têm culpa. O funcionário que causa o dano é co-autor do crime ambiental”, afirma Marco Aurélio.

Os animais também protagonizaram cenas de descuido para fiscal nenhum botar defeito. Em uma casa, não só a mata ao lado do curso de um rio estava sendo devastada por um trator, como a pessoa que executava o trabalho estava bêbada. Resultado, um cenário de degradação e um filhote de jararaca que perdeu o rabo sob o trator. Pouco adiante, pássaros foram apreendidos pois, além de estarem presos sem licença, moravam em gaiolas nada acolhedoras. Os animais apreendidos que não puderem ser libertados terão como destino o Zoológico de Niterói.

Ainda há muito a ser visto no entorno do Parque Estadual dos Três Picos de Salinas. Uma única viatura do Batalhão Florestal é responsável pelo atendimento de denúncias em sete municípios da região e fiscalizações como esta do IEF só ocorrem esporadicamente. A Operação Mata Atlântica foi a maior ação do gênero feita pelo instituto, que mobilizou 48 pessoas em 16 carros. Além da Tiririca e dos Três Picos, o IEF esteve no Parque do Desengano, no norte fluminense. 

Para informar a população e tentar mudar suas atitudes predatórias, o IEF investe em educação ambiental. Nas cidades por onde passou a operação, um micro-ônibus ofereceu palestras gratuitas sobre meio ambiente.

  • Juliana Tinoco

    Juliana Tinoco é jornalista multimídia especializada na cobertura de Meio Ambiente, Ciência e Direitos Humanos. Por quinze an...

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