A Mata Atlântica se estende ao longo de 17 estados brasileiros. O bioma, entretanto, não é homogêneo. Cada região tem suas particularidades, suas espécies únicas, desenvolvidas a partir dos respectivos contextos e paisagens. Uma das grandes barreiras na extensão atlântica é o rio São Francisco. Isso fez com que a floresta que se encontra ao norte do curso d’água, nos estados de Alagoas, Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte, evoluísse de forma própria e singular, no que hoje os pesquisadores chamam de “Centro de Endemismo de Pernambuco”. O endemismo são as espécies exclusivas dessa região, que ocorrem apenas ali e em nenhum outro lugar da Mata Atlântica. Toda essa rica e única biodiversidade é apresentada em um livro que reúne artigos inéditos e compila, pela primeira vez, toda a informação disponível sobre a fauna dessa porção específica do bioma.
O livro “Animal Biodiversity and Conservation in Brazil’s Northern Atlantic Forest” – Biodiversidade Animal e Conservação na Mata Atlântica Norte, em tradução livre – foi publicado pela editora Springer no final de abril.
No total são 15 artigos – todos inéditos – que apresentam a Mata Atlântica do Nordeste e o Centro de Endemismo de Pernambuco, sua situação e conservação, e diversos grupos de animais que lá vivem, desde formigas, borboletas e besouros, até anfíbios, peixes, répteis, aves e mamíferos.
A publicação, que levou cerca de 2 anos para ser produzida, foi organizada por pesquisadores das universidades federal e estadual da Paraíba, e conta com a participação de dezenas de especialistas de outras instituições e estados nos artigos.
“Parte das informações presentes nos capítulos do livro é oriunda das pesquisas desenvolvidas pelos Programas de Pós-Graduação ao longo de décadas. Desta forma, diversas instituições de ensino e fomento à pesquisa de Alagoas, Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte contribuíram com a construção do banco de dados”, conta Alexandre Vasconcellos, do Centro de Ciências Exatas e da Natureza da Universidade Federal da Paraíba (UFPB).
Um dos exemplos da riqueza desta região está na avifauna. A Mata Atlântica do Nordeste abriga dois terços de todas as espécies de aves que ocorrem no bioma, com 417 espécies endêmicas, ou seja, que ocorrem apenas nesta porção de floresta ao norte do São Francisco.
A obra ajuda a jogar luz sobre a ameaça do desmatamento, que pressiona esta região ainda muito desprotegida da Mata Atlântica. “Se o atual ritmo de desmatamento continuar, certamente perderemos essas espécies, às quais ainda nem conhecemos direito, ou seja, poderemos perder organismos sem identificar seus potenciais de uso pela humanidade, incluindo biotecnológico ou farmacológico”, completa o professor da UFPB.
De acordo com dados da publicação, uma análise da cobertura florestal na Mata Atlântica do Nordeste revelou pouco menos de 748 mil hectares de floresta remanescente, o que equivale a 18,8% da cobertura original e que está espalhado – e muitas vezes isolados – em mais de 63 mil fragmentos, sendo 41% deles menores de 1 hectare. Apenas 896 fragmentos são maiores de 100 hectares e que juntos cobrem uma área de 437 mil hectares de floresta. Os pesquisadores alertam ainda que apenas 10,5% da Mata Atlântica do Nordeste está coberta por áreas protegidas, sendo 9,7% de uso sustentável (mais flexíveis e permissivas aos impactos) e somente 0,8% de proteção integral.
“O fato é que uma das porções mais ricas da Mata Atlântica brasileira está sob ameaça permanente e em necessidade de mais pesquisas científicas e criação de áreas protegidas. Certamente, o ponto de inflexão para a Mata Atlântica está mais perto do que pensávamos, e as estatísticas de área desmatada e as taxas de extinção são fortes evidências desse panorama. Estamos diante de um risco iminente de perder esta floresta se houver graves se medidas não forem tomadas em um curto espaço de tempo”, alertam os pesquisadores em um dos capítulos do livro.
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Ok estou no piaui , porque naturalmente a terra somos e por isso somos presente, passado e vamos construir uma biodiversidade de honestidade, paz.