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Imagens mostram comboio do Exército ao lado de incêndio no Itatiaia

Câmera do parque nacional mostra momento em que veículos militares aparecem ao lado de foco de incêndio, ainda em estágio inicial. Dois dias depois, fogo já consumiu 160 hectares

Duda Menegassi ·
17 de junho de 2024

Por volta das 14 horas de sexta-feira (14), teve início um incêndio na parte alta do Parque Nacional do Itatiaia. O fogo ganhou força rapidamente na vegetação seca do alto das montanhas e, de acordo com as últimas informações do parque, já consumiu cerca de 160 hectares da área protegida. Enquanto os brigadistas e bombeiros lutam há dois dias para deter o avanço das chamas, imagens filmadas na sexta-feira mostram um comboio do Exército ao lado do foco que deu origem ao incêndio, ainda em seu estágio inicial. O vídeo, feito por uma câmera que monitora 24 horas o parque, com transmissão ao vivo no Youtube, levantou a hipótese de que os militares possam ter alguma relação, ainda que acidental, com o início do fogo. 

Nas imagens a que teve acesso ((o))eco, que circularam inicialmente em grupos de mensagem da Câmara Técnica de Montanhismo e Ecoturismo, é possível ver dois momentos. No primeiro vídeo, gravado às 14:08 da sexta-feira (14/6), a câmera – que gira de forma automatizada mostrando diferentes partes da paisagem – revela um pequeno foco de incêndio, marcado por uma fumaça branca, concentrado num único ponto, próximo de uma das estradas internas do parque. Ao lado aparecem pelo menos 21 veículos da Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN). Neste momento, o comboio do Exército está parado, mas não é possível enxergar se há pessoas fora dos veículos. A câmera então muda de direção e aponta para o horizonte, tirando do quadro o comboio.

No segundo vídeo, registrado apenas cinco minutos depois, às 14:13, a câmera volta a apontar para o local onde estavam o comboio e o foco. Neste momento, a fumaça já está bem mais alta e espalhada, indicando o crescimento do fogo. Os veículos, entretanto, não estão mais lá.

Procurada por ((o))eco, a AMAN informou que na sexta-feira, após concluir exercícios de instrução no parque, os militares identificaram um foco de incêndio no local. “O combate ao incêndio foi iniciado imediatamente, contudo, devido aos fortes ventos e à vegetação seca, o fogo se alastrou, não sendo possível sua contenção. As viaturas que participavam do exercício foram retiradas do local, por questão de segurança e ato contínuo, os instrutores da AMAN informaram à direção do PNI o início do evento. Desde então, foi mobilizado apoio ininterrupto ao Parque, com pessoal especializado, aeronaves da Aviação do Exército e suporte logístico, que permanecerão até o término dos trabalhos”, esclarece em nota a AMAN. 

Ainda segundo a resposta da instituição militar, não houve nenhum registro de acidente no local que pudesse ter dado origem ao fogo.

De acordo com uma fonte ouvida por ((o))eco, que trabalha com incêndios em áreas naturais, mas prefere não ser identificada, a imagem flagrada às 14:08 mostra um fogo que começou “há apenas alguns minutos”. 

Diante do céu azul inconteste registrado na câmera, a chance de um incêndio natural – ou seja, causado por um raio – é praticamente nula. 

“O fato é que foram mesmo os militares. Como foi exatamente não dá para saber ainda, mas ou foi algum deles que colocou o fogo ou pode ter sido algo do escapamento dos caminhões”, afirmou outra fonte ouvida por ((o))eco e que também prefere não ser exposta.

O ICMBio afirma em nota oficial que “ainda não foram determinadas as causas do incêndio, que serão averiguadas por perícia posteriormente”. A prioridade agora, reitera o órgão, é o combate e controle total do incêndio.

“O combate às chamas vem sendo feito de forma incessante, inclusive durante à madrugada. A área atingida até o momento foi de aproximadamente 160 hectares. Algumas frentes do incêndio já foram controladas, no entanto demandam monitoramento constante pela facilidade do fogo retornar nos períodos mais quentes do dia”, detalha o último comunicado do ICMBio, enviado à imprensa no final da tarde de domingo (16).

De acordo com o mais recente comunicado do Parque Nacional do Itatiaia, o incêndio começou nas proximidades do Morro do Couto e da portaria da parte alta, conhecida como Posto Marcão, por volta das 14:00 e se estendeu até a Pedra do Camelo.

A operação de combate envolve atualmente cerca de 150 profissionais, entre brigadistas do parque nacional, do Prevfogo do Ibama, da Parquetur (concessionária do parque), do Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro (CBMERJ), Defesa Civil de Itamonte, brigadas voluntárias, além de equipes de outras unidades de conservação. As prefeituras de municípios do entorno – Resende (RJ), Itamonte (MG) e Itatiaia (RJ) – também apoiam as ações. Desde a tarde de sábado, três helicópteros do CBMERJ, Exército e da Polícia Militar de Minas Gerais auxiliam o combate.

Por segurança, a visitação no parque foi suspensa até pelo menos a quarta-feira (19), com possibilidade de prorrogação. No sábado, o Itatiaia realizaria seu tradicional evento de abertura da temporada de montanhismo, cancelado devido ao incêndio.

Incêndio no Parque Nacional de Itatiaia. Foto: ICMBio

Transmissão ao vivo indisponível

Desde o dia 3 de abril deste ano, o Parque Nacional do Itatiaia conta com uma câmera, que monitora e transmite ao vivo, imagens da parte alta da unidade de conservação. No canal de Youtube do parque, um link direciona para a transmissão, entretanto, quando a reportagem tentou acessar as imagens, às 10:20 da manhã de sábado (15), o vídeo já estava indisponível. A reportagem seguiu tentando acessar o vídeo, mas a gravação continuou fora do ar até o fechamento desta edição (16/06/2024, às 23:19).

De acordo com o apurado por ((o))eco, o próprio ICMBio suspendeu a transmissão ao vivo para poder usar a câmera no planejamento estratégico do combate ao incêndio. A indisponibilidade do que havia sido gravado até então, entretanto, não seria justificada por isso. Entre os motivos mais comuns, o conteúdo pode ter sido marcado como “privado” ao invés de público.

A câmera, implementada em parceria com a Fundação SOS Mata Atlântica, tem como objetivo justamente ajudar a monitorar focos de incêndio e também estimular as pessoas a conhecerem o parque e seu principal cartão-postal, o pico das Agulhas Negras – que com 2.791 metros é o ponto culminante do Estado do Rio de Janeiro. 

O Parque Nacional do Itatiaia – primeiro parque do Brasil, criado em 1937 – está localizado na região da Serra da Mantiqueira, na tríplice divisa entre os estados do Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo. A unidade de conservação possui cerca de 28 mil hectares de extensão, situados em domínio de Mata Atlântica, caracterizado pelas áreas de montanha e os campos de altitude.

A sede da AMAN está localizada em Resende, aos pés da unidade de conservação, e as equipes de militares da academia fazem treinos e atividades de forma regular nas montanhas do Parque Nacional do Itatiaia desde 1957.

  • Duda Menegassi

    Jornalista ambiental especializada em unidades de conservação, montanhismo e divulgação científica.

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Comentários 4

  1. Mila Maluhy diz:

    Lamentável!!
    E que desculpa para irem embora. Esse povo não tem nem treinamento pra controle de incêndios??


  2. Kavookavala diz:

    Militares só sabem pintar meio fio e árvores, e gastar o dinheiro público


  3. Melancias diz:

    O início do fogo deve ter vindo do além, só uma coincidência de estarem no exato local e momento que iniciou o fogo, além disso com vários caminhos e militares não conseguiram apagar um foco inicial?
    Não havia extintores?
    Se não conseguem apagar um foco inicial de fogo devem ser proibidos de fazerem exercícios lá no parque.
    Vergonha nacional!!!


    1. Papocudereaça diz:

      Viúva reacionária detectada.