Quase que semanalmente, professores e principalmente universitários desembarcam na Ilha de Marambaia, cuidada pela Marinha, para estudar a vegetação desta parte do litoral fluminense composta de florestas firmes, alagadas, brejos, dunas e restingas. Ao todo são 11 tipos de formações vegetais onde se encontra desde as Ipomoea pes-capre, aquelas florzinhas roxas que adoram se esticar em direção à arrebentação, até jequitibás. Os estudos são os mais variados e não se restringem à botânica. Pesquisa-se de morcegos aos nutrientes do solo, de ecologia a detalhes sobre uma única planta.
Mas a convivência de plantas tão diferentes não é sinal de uma alta biodiversidade à beira-mar. Por se tratar de um tipo de solo que oferece muita água, mas pouco oxigênio e nutrientes, este tipo de floresta é mais pobre em número de espécies do que outras. Em compensação, tem casos peculiares. Como um exemplar de Paullinia revoluta, uma espécie que hoje só é encontrada no Espírito Santo e na Bahia e que pesquisadores ainda não sabem explicar porque ela foi aparecer justamente na Marambaia. Há também um arbusto que tudo o que se descobriu é que ele pertence à família das Bignoniaceae e ao gênero Godmania. A sua espécie é um mistério, suas características não casam com as de plantas semelhantes guardadas nos herbários do Jardim Botânico e do Museu Nacional. Suspeita-se se tratar de uma espécie nova. “É muito comum encontrarmos na Marambaia plantas de difícil identificação. Algumas demoram até um ano para serem devidamente classificadas,” diz o ecólogo Luis Fernando Tavares de Menezes, professor da UFRRJ e autor de um livro sobre a restinga.
“Essa é a vantagem de um trabalho multidisciplinar. Como ecólogo eu estudo o papel da planta neste lugar, mas é importante ter alguém na equipe dedicado a estudar as características das espécies para me garantir a identificação correta e completa”, diz Menezes. “É como se a gente fornecesse a ele a identidade, CPF e tipo sangüíneo da planta”, conta Hiram Baylão, 25 anos e estudante do curso de Engenharia Florestal. “Eu sempre quis trabalhar aqui na Marambaia e agarrei a primeira oportunidade. Isso aqui vale mais do que qualquer sala de aula”, compara.
Menezes concorda que a oportunidade de pesquisar na Restinga é valiosa. A língua de areia de quase 43 quilômetros de extensão que culmina numa ilha montanhosa está a 40 minutos de carro da universidade e os pesquisadores recebem alojamento, transporte e alimentação da Marinha, graças a um convênio entre as duas instituições.
“Se botar na ponta do lápis, a ajuda da Marinha equivale à verba dada a um projeto”, diz Menezes. O comandante do centro de adestramento naval na Ilha da Marambaia (Cadim), o Capitão de Mar-e Guerra Wilson Luiz de Lima Neves, não soube precisar quanto a Marinha gasta com o apoio logístico aos pesquisadores, mas respondeu: “A relação custo-benefício é tão favorável que passa a ser um investimento”. As vantagens seriam saber o que existe na restinga e receber ajuda para preservá-la.
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