Meteorologistas russos acabam de publicar na revista New Scientist uma pesquisa inédita sobre um novo papel que as florestas tropicais próximas ao mar desempenham: elas geram correntes de ar que ajudam a impulsionar o fluxo hídrico no globo. Se estiver certa, a tese de Victor Gorshkov e Anastassia Makarieva, do Instituto de Física Nuclear de São Petesburgo, justificaria, entre outras coisas, como boa parte da Austrália deixou de ter densas florestas para virar um deserto. Baseados nisso, os autores sugerem até que uma parcela considerável da América do Norte poderia sofrer com a desertificação, mesmo sem aquecimento global.
De acordo com a pesquisa, as florestas podem criar ventos através do processo de condensação do vapor d’água e da umidade que vem do mar porque os gases ocupam menos espaço quando se tornam líquidos, diminuindo a pressão atmosférica no local. Já que a evaporação é maior sobre as florestas do que nos oceanos, a pressão é mais baixa em áreas de florestas litorâneas, que sugam umidade do mar. Isso forma ventos que levam essa umidade para dentro do continente, e, conforme o processo se repete, o transporte de água pode ser imenso e se estender por milhares de quilômetros. Os meteorologistas acreditam que só a Amazônia libera 20 trilhões de litros de água todos os dias.
A hipótese dos russos levanta preocupações quanto aos graves efeitos do desmatamento, mesmo localizado, sobre o transporte de água no planeta. Eles chegam a sugerir que a fragmentação florestal pode mudar por inteiro o clima num continente de úmido para árido, com um declínio de chuvas que chega a 95%. A pesquisa está sendo considerada uma das mais importantes contribuições científicas para entender os efeitos do desmatamento sobre o clima.
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