Uma nova espécie de mosca-das-aranhas foi descrita na Mata Atlântica. O nome popular faz referência a uma das características mais singulares desse raro grupo de insetos: sua capacidade de parasitar aracnídeos, inclusive tarântulas. A descoberta foi feita a partir de um exemplar coletado há quase 30 anos, que aguardava anônimo o momento em que algum cientista reparasse nas diferenças que fazem desse minúsculo ser uma espécie inédita.
O estudo foi realizado pelo entomólogo Danilo Pacheco Cordeiro, pesquisador do Instituto Nacional da Mata Atlântica (INMA). O inseto estava preservado há anos na coleção científica do Museu de Biologia Prof. Mello Leitão (MBML).
“Quando encontrei esse espécime sem identificação, busquei informações na literatura para determinar que espécie era aquela que tinha em minha frente”, conta o pesquisador, que acabou descobrindo que se tratava de um novo registro para ciência.
A mosca é da família Acroceridae, que contém espécies naturalmente raras e com populações pequenas, e foi batizada de Extasis teresensis, em homenagem ao município de Santa Teresa, na região serrana do Espírito Santo, onde fica a Estação Biológica de Santa Lúcia, origem da coleta.
Todos os insetos dessa família parasitam aranhas, o que lhes rendeu o apelido de “moscas-das-aranhas”. Suas larvas penetram no corpo de aranhas e se alimentam de seus fluidos até a metamorfose para a fase adulta, processo que leva à morte do hospedeiro, internamente consumido pelo inseto. Essa relação parasitoide ajuda a equilibrar populações desses aracnídeos.
Os adultos vivem pouco tempo. Registros da sua fase inicial, enquanto larvas, são ainda mais raros. Esse ciclo de vida peculiar limita o avanço do conhecimento sobre o grupo. São conhecidas apenas seis espécies do gênero Exetasis no Brasil, todas associadas à Mata Atlântica.
“O registro desta sexta espécie, a Exetasis teresensis, amplia o conhecimento sobre a diversidade do grupo. Este trabalho também apresenta informações inéditas sobre variações morfológicas da espécie nova. Esses dados ajudam a refinar as ferramentas de identificação e destacam a necessidade de uma revisão mais ampla do gênero, dada a escassez de exemplares e o desconhecimento sobre as aranhas hospedeiras”, enfatiza Danilo.
A nova espécie foi descrita em um artigo publicado quinta-feira (18), na revista científica Zootaxa.
Dupla descoberta
O estudo também cita outra espécie do gênero, Exetasis eickstedtae, cuja ocorrência foi ampliada para a Bahia e o Espírito Santo. Para chegar a essas conclusões, o pesquisador comparou exemplares em diferentes coleções. O que reforça a relevância desses acervos científicos para formação de especialistas que desejam estudar mais sobre a biodiversidade brasileira.
A descrição da Exetasis teresensis ressalta ainda a importância das áreas protegidas da Mata Atlântica, como a Estação Biológica de Santa Lúcia, para a manutenção de processos ecológicos pouco visíveis, mas fundamentais à biodiversidade.
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