Análises

Professores devem ser protagonistas de uma agenda justa e inclusiva

É na escola que aprendemos a ser cidadãos conscientes, responsáveis e comprometidos com o cuidado coletivo, e são os professores que tornam isso possível

Ana Ligia Scachetti ·
22 de outubro de 2025

O Brasil vive, ao mesmo tempo, dois desafios que se relacionam diretamente: adaptar-se aos efeitos cada vez mais severos das mudanças climáticas e garantir o direito à Educação. Quando esses dois mundos se encontram, o impacto é imediato: escolas fecham por causa de enchentes, calor extremo ou deslizamentos, e milhares de alunos ficam sem aula.

Diante desse cenário, é impossível falar de futuro sem falar do assunto e dos docentes que estão na linha de frente dessa transformação. Sem nos adaptarmos aos efeitos das mudanças climáticas, não haverá aula, não haverá aprendizagem.

A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) já prevê que a sustentabilidade e as mudanças climáticas sejam temas transversais nas escolas, mas entre o que está no papel e o que acontece na prática ainda há um longo caminho. Uma pesquisa recente da Nova Escola, realizada em parceria com o Office for Climate Education (OCE) ouviu 1.600 docentes brasileiros e revelou que 92% consideram a Educação Climática “muito importante”, mas menos da metade aborda o tema regularmente em sala de aula. Apenas 40% têm alguma ação concreta sobre o clima em suas escolas.

Os motivos são conhecidos: falta de formação específica, escassez de materiais pedagógicos adequados, pouco tempo e apoio institucional limitado. Ainda assim, 86% dos entrevistados demonstram interesse em se capacitar. Um sinal de esperança e de um potencial enorme à espera de investimento.

Estamos no Brasil, casa da maior floresta tropical do planeta e, em breve, sede da COP30, em Belém. Como a UNESCO atesta: não há como enfrentar os desafios das mudanças climáticas sem passar pela Educação. É na escola que aprendemos a ser cidadãos conscientes, responsáveis e comprometidos com o cuidado coletivo, e são os professores que tornam isso possível.

Por isso, é fundamental que a COP30 olhe para quem ensina. A agenda climática global não pode ignorar aqueles que preparam as novas gerações para lidar com seus efeitos. Durante uma oficina sobre mudanças climáticas com professores em Belém (PA), há alguns meses, uma professora do Rio Grande do Sul relatou que toda vez que chove sente medo de que o rio volte a subir e atingir sua casa – como ocorreu ano passado. A situação pode parecer particular, mas não é. Professores também sofrem com o que chamamos de ansiedade climática e estresse pós-traumático, devido a fatores relacionados às mudanças climáticas. Precisamos incluir professoras e professores de forma efetiva nas discussões, na formação e na tomada de decisão.

O desafio da sustentabilidade também é uma disputa por conhecimento, valores e capacidade de mudança. Se o Brasil quer liderar a agenda climática com legitimidade, precisa ir além dos discursos e investir em políticas permanentes. Isso passa por garantir que a Educação Climática esteja presente nos currículos de forma concreta e transversal, que os docentes tenham acesso a formações continuadas baseadas em ciência e conectadas à realidade de cada território, e que parcerias entre governo, empresas e organizações da sociedade civil fortaleçam esse trabalho nas escolas.

A COP30 oferece uma oportunidade única. Pela primeira vez, o mundo inteiro vai olhar para o Brasil e para a Amazônia como palco das decisões sobre o futuro. Que esse seja também o momento de colocar os professores no centro da conversa: ouvir suas experiências, valorizar suas iniciativas e criar canais permanentes para que participem das políticas públicas climáticas.

A agenda de Belém contempla ações de capacitação, além da participação em debates e seminários voltados a esse público. É preciso que esse ambiente favorável seja o ponto de partida para uma nova fase onde o professor seja ouvido e tenha oportunidade de preparo.

As opiniões e informações publicadas nas seções de colunas e análises são de responsabilidade de seus autores e não necessariamente representam a opinião do site ((o))eco. Buscamos nestes espaços garantir um debate diverso e frutífero sobre conservação ambiental.

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Comentários 1

  1. Roseli Benfica diz:

    Sim. Concordo plenamente que os profissionais precisam ser ouvidos e a nossa sociedade deve deixar de ser alienada e ser mais participativa! A pergunta é … Como?