Restaurar porções desmatadas e degradadas da Amazônia pode render ao Brasil até US$ 784 bi em três décadas, ou cerca de ⅓ do PIB (Produto Interno Bruto) nacional do ano passado. Os recursos viriam do pagamento pelo carbono acumulado na recuperação da floresta equatorial.
A estimativa é de um estudo da Iniciativa de Política Climática (CPI, sigla em Inglês) e do Projeto Amazônia 2030 que será apresentado na Conferência do Clima de Belém (Pará), em novembro. cop 30
Suas contas usaram o valor médio de US$ 50 para cada tonelada líquida do gás de efeito estufa, ou seja, um balanço entre o que foi emitido por desmatamento e o que seria capturado pela restauração da vegetação nativa.
De fontes como governos, setor privado, bancos e fundos de investimentos, os recursos poderiam ser aplicados inclusive em conservação, pagamentos por serviços ambientais e outras políticas que mantenham a floresta em pé.
Assim, a restauração florestal se converteria num motor de crescimento econômico associado ao combate à crise climática, avalia Juliano Assunção, diretor-executivo da CPI e professor do Departamento de Economia da PUC-Rio.
“As compensações seriam de até US$ 25 mil pelo carbono armazenado por ha, bem mais vantajosas que manter por exemplo pecuária na Amazônia”, apontou o especialista.
A proposta também completa iniciativas em curso ou prestes a decolar. O REDD+, por exemplo, canaliza recursos externos quando cai o desmate. Já o TFFF (sigla em Inglês do Fundo Florestas Tropicais Para Sempre), em desenho, pagará aos países por manter esses ambientes.
“A floresta tanto contribui para o clima quanto é afetada por ele, mas precisamos enquadrar melhor essa relação”, ressaltou Assunção. “A lógica é articular iniciativas e clarificar pelo que, exatamente, o investidor está pagando”.

Diante da estimativa de retorno financeiro, cada estado amazônico pode angariar recursos distintos com as medidas protetoras da floresta. O Pará tem o maior potencial de captura de carbono, com receita estimada em US$ 292 bi. Em seguida, o pódio é ocupado por Mato Grosso (US$ 221 bi) e Rondônia (US$ 106 bi).
O desenho prevê ser possível intensificar a agropecuária em áreas consolidadas e conservar zonas estratégicas para o clima. Ou seja, a produção rural não precisaria competir com a reversão do desmate.
Outra possibilidade é ajustar o mecanismo para outros biomas que conservam florestas dentro dos parâmetros da ONU: Mata Atlântica (26%), Pantanal (16%), Cerrado (13%), Pampa (11%) e Caatinga (4%). Na Amazônia, o índice é de 73%.
“Em biomas com desmatamento mais antigo ou fora da Amazônia, a restauração ativa ganha protagonismo”, ressaltou Assunção.
Nesse modelo, a restauração depende mais do plantio direto ou semeadura de espécies nativas pela mão humana, com preparo do solo e proteção das mudas até a vegetação estabilizar.
Na Amazônia, porém, a regeneração natural tende a melhor casar desenvolvimento e conservação. “Isso pode dar uma resposta concreta à crise do clima e abrir um novo caminho econômico para a Amazônia”, avaliou em nota da CPI Beto Veríssimo, pesquisador no Instituto do Homem e do Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) e enviado especial para Florestas na COP30.
A CPI é uma organização internacional que analisa políticas públicas e finanças, afiliada no Brasil à PUC-Rio. O Amazônia 2030 é uma iniciativa do Imazon e do Centro de Empreendedorismo da Amazônia (CEA) para associar conservação com desenvolvimento econômico e humano.
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