“Rumo a COP30 em Belém do Pará”, foi um chamado recorrente dos projetos que se seguiram pós anúncio da Conferência ser sediada na Amazônia. Nós, enquanto movimento de jovens que desde 2022 incide nesse espaço, alterando textos e nos fazendo presentes nas tomadas de decisões, mesmo que os espaços nos sejam negados, refletimos sobre como defender nossos territórios com a chegada de tantas caravelas sedentas por repartição e abuso de nossos tesouros, a tantas lutas guardados por nós.
Com isso, o Instituto COJOVEM, a partir do Programa de Voluntariado, desenvolveu o Núcleo de Pesquisa da maior organização de juventudes da Amazônia Legal, para produzir dados que consolide a nossa realidade a partir das nossas narrativas. Nada sobre nós, sem nós. Aprendemos a usar nossas ferramentas mais puras e coletivas que tínhamos, a força das nossas capacidades intelectuais de promover soluções baseadas na natureza e em nossos corpos, para adaptar, mitigar e direcionar a transição justa que necessitamos para construir um futuro mais saudável para nós.
Assim, apresentamos no período da COP30, no espaço da FreeZone, os dados que norteiam nosso posicionamento enquanto juventudes sobre como a Amazônia deverá ser protegida e preparada para salvar os corpos que sofrerão com os impactos da crise climática por mais tempo. O lançamento da pesquisa Relatório Científico Amazônia Jovem conta com o diagnóstico das juventudes amazônidas dos nove estados da Amazônia Legal e dois Policy Briefs intitulados “Transição Justa na Amazônia: estruturas possíveis para a inclusão das juventudes brasileiras” e “Adaptação Climática, Mitigação e Juventudes da Amazônia: adiando o fim construindo o hoje”.
Os dados expressam a realidade das juventudes em relação às Políticas Públicas Ambientais, aos Decretos de Calamidade e Emergência Climática, suas EcoAnsiedades e preocupações com o futuro, bem como o legado da COP30 para esse território.
Em relação aos temas que implicam diretamente na Transição Justa, as juventudes surgem com baixa prioridade ao se tratar de Políticas Públicas Ambientais nos temas de Clima e Energia (6,4%), seguida de Economia Circular (4%) e Recursos Hídricos e Saneamento (8,8%). Além disso, 78,7% das juventudes amazônidas vivem em áreas de conflito territorial. Ou seja, reproduzem seus sonhos em uma vida de lutas, como nossa Diretora Executiva, Karla Braga, sintetiza em suas falas. Além disso, 82,01% dessas juventudes demonstram preocupação com as questões ambientais da sua Região.
E quando se trata dos sentimentos que nos atravessam quando pensamos em eventos tão grandes em nossos territórios, mesmo que durante o ano nossas telas tenham sido bombardeadas de xenofobia e discriminação, a ESPERANÇA é a mais tocante ao ponto de que, em meio às lutas, estamos prontos para dar soluções, baseados em dados e evidências, com nossas potencialidades. Por isso, que nos produtos entregues, também promovemos recomendações diretas para a inclusão, proteção e investimento em jovens para que de fato a COP30 não seja conhecida como mais uma reunião de lobistas brancos tentando barrar qualquer resolução que realmente faça frente às mudanças climáticas. Mas um momento de ampliação de nossas forças e seguridade do nosso futuro.
Investindo em juventudes hoje, sobretudo na capacidade de que esses corpos dissidentes, atravessados de marcadores sociais de gênero, raça, classe e sexualidade, é a chave para uma sociedade que pensa e constrói suas comunidades com base nos seus saberes e práticas. Sermos periféricos, LGBTQIA+, pretos, dos quilombos, das florestas, nos tornam ainda mais capacitados para desenvolver ferramentas de adaptação que possam garantir a nossa sobrevivência para o futuro que almejamos.
Em outubro de 2025, construímos a primeira Cúpula de Jovens Líderes da Amazônia Legal, onde desenvolvemos a nossa Declaração expondo que “(…) enquanto Jovens Líderes de todos os estados que compõem a Amazônia Legal brasileira (…). Exigimos o fortalecimento dos direitos das populações que garantem a (re)existência da Terra, efetivados por meio de uma transição justa. Lutamos para que as juventudes amazônidas dos campos, cidades, rios, maretórios, manguezais, florestas e ilhas sejam protagonistas nos processos de tomadas de decisão e elaboração de estratégias de mitigação e adaptação climática. Acreditando que, ao potencializarmos nossos saberes, práticas, culturas e a construção de uma educação conectadas aos seus territórios, construiremos o Brasil próspero que queremos. Reafirmamos: não há justiça climática sem justiça social. Não há justiça social sem participação efetiva dos povos e comunidades da Amazônia. Existimos. Resistiremos.”
Assim, por mais que a educação, a ciência e a possibilidade de sermos pesquisadores seja, no Brasil, motivo de desvalorização, falta de investimento e negligência empregatícia, é com o uso dessa ferramenta que nós estamos transformando nosso território. Promovendo soluções, alterando leis e incidindo internacionalmente por um futuro mais justo e feito para nós, por encontrar no multissetorialismo forças que acreditam na gente, e que possibilitaram que esses jovens construíssem as estratégias necessárias para o desenvolvimento social, cultural, econômico e ambiental partindo da pesquisa e de nossas potencialidades.
Nos preparamos para a COP30 e para as eleições do ano que vem. Nosso voto importa, nossa voz é necessária. Nos incluir não é mais uma alternativa, é uma obrigação para aqueles que possuem a caneta na mão, e podem possibilitar a transformação de espaços negados, em espaços possíveis. O ano de 2025 nos formou, dentro e fora das nossas casas, onde em muitos momentos tivemos que nos retirar para garantir que nossa voz seja ouvida e que nossa opinião seja relatada e levada em consideração. O sacrifício de tantos jovens que deveriam estar vivendo suas juventudes com alegria e lazer, é abraçada pela luta, e com a força dos nossos ancestrais, sigamos em luta, para um mundo onde isso não seja mais o natural.
Para nós, jovens da Amazônia Legal, compreendemos que a garantia de direitos só se fará com a nossa inclusão nos espaços de tomadas de decisão. Que o futuro saudável do planeta só poderá ser contemplado quando nossa voz for ouvida. E, ao valorizar nossa força, não mais teremos um presente perverso, que exporta nossas riquezas e deixa para nós o rechaço de um país que historicamente vê na Amazônia uma zona de sacrifício. Somos também oportunidade, e o caminho possível para salvar a humanidade dela mesma.
As opiniões e informações publicadas nas seções de colunas e análises são de responsabilidade de seus autores e não necessariamente representam a opinião do site ((o))eco. Buscamos nestes espaços garantir um debate diverso e frutífero sobre conservação ambiental.
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