A International Finance Corporation (IFC), braço de empréstimos privados do Banco Mundial, cancelou um contrato de março de 2007 com o frigorífico Bertin, maior exportador do Brasil e segunda empresa do ramo no mundo. Com isso, o repasse da terceira parcela de US$ 30 milhões, de um empréstimo total de US$ 90 milhões (mais de R$ 173 milhões), foi suspensa.
Conforme a Amigos da Terra Amazônia, o banco vinha sendo alertado nos últimos anos sobre o uso do dinheiro em atividades que provocam desmatamento ilegal na Amazônia. “A Bertin não só seguiu comprando gado de produtores ilegais, mas ampliou suas compras na região, afetando terras indígenas e florestas de forma crescente. Objeto de multas milionárias por parte do Ibama, procurou sustá-las até que foram objeto de divulgação pública. Em abril deste ano, no relatório A Hora da Conta, Amigos da Terra denunciou que a Bertin realizava, em sua planta de Tucumã, compra de gado de São Félix do Xingu, algo que contrariava um compromisso assumido com a IFC em janeiro de 2008”, diz em nota a entidade não-governamental.
Na última semana, o Ministério Público Federal ajuizou ações contra uma série de empresas envolvidas na cadeia ilegal da pecuária, com base em relatórios da Amigos da Terra e do Greenpeace. Em seguida, grandes grupos varejistas cortaram a compra de gado amazônico da Bertin e de outros frigoríficos.
“Parabenizamos o IFC pela decisão e esperamos que isso sirva de lição no futuro. Agora o importante é que o BNDES faça o mesmo: como pode um banco público seguir sócio de uma empresa com tamanhos passivos? Na segunda-feira solicitaremos a inclusão dos financiadores no pólo passivo das ações que estão correndo na Justiça Federal”, disse o diretor da Amigos da Terra, Roberto Smeraldi.
“O Banco Mundial está para fechar outro empréstimo de cerca de US$ 1,3 bilhão para ‘proteção ambiental’ no Brasil e deve assegurar que estes recursos não vão financiar a destruição da Amazônia. O BNDES, que vai gerenciar estes recursos, deve seguir o exemplo do IFC e cortar todos os investimentos em atividades pecuárias na Amazônia que estão provocando maior emissão de gases do efeito estufa”, disse em nota Paulo Adário, do Greenpeace.
Em 2008, o BNDES financiou a Bertin com mais de R$ 2,5 bilhões e permitiu ao governo federal adquirir expressiva participação nos negócios da empresa.
Confira aqui a nota do IFC (em inglês) e aqui a nota distribuída pelo Bertin.
Saiba mais:
Governo é aliado da destruição da Amazônia
Grupos suspendem contratos
A lei é muito restritiva?
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