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A última refeição dos amonoides

Cientistas franceses e americanos encontram evidência de que extinção de parente pré-histórico das lulas está associada ao declínio de plâncton nos oceanos.

Redação ((o))eco ·
10 de janeiro de 2011 · 14 anos atrás
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Há fósseis de amonoides, incluindo Baculites, que têm conchas longas e retas, nos depósitos do Alto Cretáceo na Dakota do Sul, Estados Unidos.
Há fósseis de amonoides, incluindo Baculites, que têm conchas longas e retas, nos depósitos do Alto Cretáceo na Dakota do Sul, Estados Unidos.

Imagens tridimensionais de fósseis de amonoides, um molusco extinto que viveu nos mares entre 407 e 65,5 milhões de anos atrás, revelam que eles tinham mandíbulas e dentes adaptados para se alimentar de pequenas presas que flutuavam na água. Os cientistas utilizaram poderosos raios de luz síncrotron (produzida a partir de um acelerador de partículas) para escanear três espécimes de Baculites, um amonite reto encontrado em todo o mundo, e puderam observar a última refeição destes animais.

A qualidade das imagens permitiu aos cientistas observarem maxilares, dentes dos moluscos e até presas capturadas pelo animal. Foram encontrados um pequeno caracol e três crustáceos minúsculos, um deles cortado em duas partes. “Fiquei surpresa quando eu vi os dentes pela primeira vez e quando eu encontrei o plâncton minúsculo na boca”, declarou a pesquisadora líder da equipe franco-americana que realizou os estudos, Isabelle Kruta, do Museu Nacional de História Natural de Paris.

Na aparência, os amonoides ou amonites se parecem com o nautilus, um molusco que possui uma concha em forma de caracol e se alimenta de carniça. Mas são parentes mais próximos das lulas e dos polvos, cefalópodes, e se alimentava de presas vivas. Os fósseis destes animais são importantes nos estudos evolutivos devido à abundância e diversidade. Eles são usados inclusive para medir a idade de rochas marinhas do período Mesozoico.

Radula de Baculites sp e crustáceos associados a ela. Em amarelo, dentes radulares; em azul, o crustáceo.  Crédito: [I. Kruta, MNHN]
Radula de Baculites sp e crustáceos associados a ela. Em amarelo, dentes radulares; em azul, o crustáceo. Crédito: [I. Kruta, MNHN]

Mas a ecologia destes animais é pouco conhecida pelos cientistas. A pesquisa, publicada esta semana na revista Science, indica que o desaparecimento destes parentes das lulas e dos polvos está relacionada à destruição do plâncton provocada, provavelmente, pelo mesmo fenômeno que extinguiu os dinossauros. As imagens destacam a mandíbula e a rádula, uma espécie de língua cheia de dentes característica dos cefalópodes, que pode ser vista em detalhes. Ela tem se estende até 2 milímetros de altura e possui dentes muito finos. O maxilar inferior é maior do que o exterior e é separado em duas partes. Esta grande mandíbula era adaptada para capturar pequenas presas. Nas imagens, ficam bastante evidentes a distribuição e a forma dos dentes encontrados na rádula.

“Nossa pesquisa sugere várias coisas. Primeiro, a radiação de amonites aptychophoran pode estar associada com a radiação de plâncton durante o Jurássico”, diz o pesquisador Neil Landman, do Museu Americano de História Natural. “Além disso, o plâncton foi severamente atingida no limite Cretáceo Terciário, e a perda de sua fonte de alimento pode ter contribuído para a extinção dos amonites. Esta pesquisa tem implicações para a compreensão do ciclo de carbono durante este tempo”, completa.(Vandré Fonseca)

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