Foi meio por acaso que o engenheiro José Antônio Maso começou a se dedicar ao cultivo de orquídeas. Recém-casado, em 1982, visitou com a mulher uma exposição de plantas da família em Jundiaí (SP), cidade onde vive. Até aí, não tinha o menor interesse em qualquer tipo de flores – na verdade até meses depois da visita, quando finalmente floresceu a muda de Maxillaria setigera comprada a contragosto, por pressão da esposa. “A feira não tinha foto das flores, nada. Então, quando me contaram o preço daquela mudinha… Mas a minha mulher falou que não fazia mais nada em casa, não lavava, não cozinhava, se eu não levasse a planta”, conta. Cedeu. O tempo passou, as flores surgiram. E ele não podia acreditar nos seus olhos, espantado com o amarelo das pétalas. Numa feira seguinte, comprou quatro novos vasos. Hoje tem cinco mil.
José Antônio foi um dos expositores da mostra “Orquídeas na Primavera”, que aconteceu no último fim de semana (de 22 a 24 de setembro) no Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Seu orquidário trouxe a planta vencedora do evento, justamente uma Maximillaria setigera [foto], como aquela primeira comprada pelo engenheiro. Associado a uma empresa que comercializa as flores, ele hoje viaja o Brasil inteiro em exposições como essa, passando cada final de semana em uma cidade diferente. “É mais por hobby do que pelo lado financeiro”, diz. Os eventos – nos quais são dados prêmios às melhores flores trazidas, neste caso, por 12 orquidários, além de colecionadores – são oportunidades para encontrar orquidófilos de todo o país e trocar experiências quanto à paixão pelas flores.
A Orchidaceae é considerada por alguns especialistas a maior família botânica existente. São cerca de 35 mil espécies descritas até hoje, divididas em mais de 1.800 gêneros distribuídos pelos cinco continentes. “É como um álbum de figurinhas”, explica José Antônio, quando fala da compulsão por cultivar novas flores. Com as possíveis hibridações – cruzamento de espécies diferentes – o número se torna praticamente ilimitado. “E cada uma tem uma cor diferente, um aroma…”. Na exposição carioca, que comemora a chegada da nova estação, o público pôde encontrar cerca de 2 mil plantas, além de participar de palestras e oficinas de desenho botânico e iniciação ao cultivo.
Essa é a 15ª edição do evento, que acontece duas vezes por ano, em março e em setembro. Segundo Maria do Rosário Braga, organizadora da exposição e presidente da OrquidaRio (a associação de orquidófilos do estado), esta não é necessariamente a melhor época de florescimento das orquídeas – o que vai de encontro à idéia, ensinada no primário ao repórter, de que a primavera é a estação das flores. “Algumas preferem o verão, outras o finzinho do inverno… depende da espécie”, diz.
Premiadas
Entre as orquídeas expostas no Jardim, muitas ostentavam faixas de premiação, de primeiro, segundo e terceiro lugar. É que, além da categoria principal, as concorrentes disputam outras 80 categorias, de acordo com sua espécie. Algo que faz sentido, uma vez que elas assumem formas totalmente distintas – por exemplo, podem ser epífitas ou terrestres. Por isso mesmo, escolher uma única vencedora é tarefa complicada, que requer a realização de cursos específicos por aspirantes a juiz.
O julgamento não se faz necessariamente pela beleza. “Tem muita gente que se pergunta como pode uma flor linda estar sem nenhum prêmio, e outra, que nem flor tem, ter um primeiro lugar”, diz Maria do Rosário. Alguns exemplares são escolhidos pela vitalidade acima da média de sua espécie ou pela raridade. É o caso de uma Laelia jongheana que, sem flores, recebera um primeiro lugar. A explicação: tinha 50 anos de idade. Respeito à antiguidade foi um quesito importante para esses jurados. Mas para quem não pode ver tão fascinantes plantas, vale mais apreciar as orquídeas com as mãos e pelo cheiro. Por isso foi criado no Jardim Botânico um “Recanto dos Perfumes”. Lá, deficientes visuais podiam inclusive obter mais informações sobre cada espécie através de placas explicativas em braile.
“Nós temos as cores, o visual; eles podem sentir o cheiro e as formas, com o tato”, diz Maria do Rosário. Segundo ela, a imensa gama de cheiros é devida à evolução das orquídeas simultânea a de insetos, como as abelhas, que ajudam na polinização. Para atraí-los, as plantas desenvolvem formas únicas, cores e cheiros. Algumas têm características específicas que agradam a uma única espécie de inseto. É daí que vem tanta diversidade. Uma das mais cheiradas pelo público era a Oncidium Sharry (foto), cujo aroma lembra o de chocolate.
A exposição já acabou, mas os curiosos podem conferir os encantos de cerca de 600 espécies diferentes sempre que quiserem no orquidário do Jardim Botânico, construído em fins do século XIX. A coleção é composta basicamente por exemplares brasileiros, mas também acolhe espécies exóticas e híbridas. O Jardim funciona todos os dias do ano (com exceção de 25 de dezembro e 1 de janeiro) e o ingresso individual custa quatro reais.
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