Reportagens

Plantando vidas

A partir de primeiro de janeiro, cada criança que nascer na cidade mineira de Diamantina ganhará uma árvore, que deverá ser plantada e acompanhada pela família do bebê.

Márcia Lopes ·
8 de dezembro de 2006 · 18 anos atrás

No espaçoso quintal, o avô plantava uma árvore para cada filho que nascia. O filho passou a plantar uma mangueira para cada homem e uma “árvore de flor” para cada mulher que vinha ao mundo. A neta extrapolou os quintais de casa e lançou o projeto “Verde mais em nossa cidade”, onde a comunidade é convidada a plantar uma árvore para cada criança que nasce.

O projeto começou em Pará de Minas, no interior mineiro, onde 15 mil mudas foram plantadas desde o ano 2000. A idéia inspirou iniciativas parecidas em diversos países e agora está prestes a ser adotada pela cidade histórica de Diamantina. A partir de primeiro de janeiro de 2007, cada bebê nascido em Diamantina e nos arredores ganhará uma muda para ser plantada e cuidada pela sua família, simbolizando o nascimento e, ao longo dos anos, o crescimento da criança. Serão criados espaços públicos para as árvores de quem não possui local adequado para seu plantio. A Polícia Militar e pessoas físicas cederam terrenos para tal fim e essas áreas devem ser transformadas em locais de lazer e educação ambiental no futuro. 

O projeto “Plantando Vida” deseja, sobretudo, sensibilizar as crianças para a importância do meio ambiente. “Se trabalharmos bem e se essa criança não deixar que cortem a sua árvore, sentirá o mesmo por outras árvores”, aposta Ariana Rodrigues Silva, da Academia Splash e uma das coordenadoras do projeto, juntamente com a sua sócia Josefina Mota Ribeiro. “Estamos envolvendo muita gente, porque queremos que o projeto dure”, acrescenta. As coordenadoras do “Plantando Vida” já conseguiram a adesão estratégica de entidades públicas e privadas como Instituto Estadual de Florestas (IEF), Emater, Secretaria Municipal de Meio Ambiente, Secretaria Municipal de Saúde, Instituto Estrada Real, Corpo de Bombeiros, Polícia Militar, Universidade Federal dos Vales do Jequeri e Mucuri, Ibama e empresários.

Órgãos como IEF, Emater e a secretaria ambiental entram com apoio técnico. A secretaria de Saúde garante respaldo ao trabalho desenvolvido junto à única maternidade da cidade – o Hospital Nossa Senhora da Saúde – e junto aos agentes municipais do Programa de Saúde Familiar (PSF) para sensibilização das famílias. Durante a gestação, a grávida será informada pelos profissionais de saúde sobre o projeto e a importância do gesto para o planeta. A maternidade ficará responsável por entregar as mudas às mães. A plantinha virá com material informativo sobre o projeto e com orientações para o seu plantio e manutenção.A intenção é privilegiar a distribuição de árvores nativas. A primeira muda plantada no projeto-piloto foi um Ipê Amarelo batizado de Lívia.

Diamantina tem cerca de 40 mil habitantes e ali nascem aproximadamente 114 crianças por mês. Ou seja, estima-se o plantio de cerca de 1.370 mudas anualmente e, conseqüentemente, 1.370 famílias sensibilizadas pelo projeto. Do número total de crianças, 58% representam moradores de Diamantina e 42% de outras localidades, o que permite ao projeto ter abrangência regional. “Se conseguirmos sensibilizar as famílias, todo o resto a gente resolve. Por enquanto, eu diria que a aceitação tem sido de 100% em todas as visitas e contatos que fizemos. Todo mundo compra a idéia, dá sugestões, participa”, diz Ariana.

A origem

Em Pará de Minas, onde a idéia brotou com o nome “Verde Mais”, as mudas são distribuídas em datas como dia do Meio Ambiente, Dia da Árvore, entre outras. O programa participa da Conferência Internacional do Meio Ambiente para Crianças – com versão também para adolescentes -, promovida pela ONU, e já circulou o mundo. E tudo começou no quintal com oito mangueiras e três roseiras da família Silva Mendes, de 11 filhos. A dona de uma das roseiras, Arlete Silva Mendes Khoury, de 53 anos, foi quem plantou a idéia fora de casa. Pedagoga, professora e mãe de quatro homens, Arlete trabalhava com pequenos grupos de crianças a sensibilização das famílias e a entrega das mudas na maternidade. Hoje, enfermeiras cumprem esse papel.

O programa se tornou um patrimônio ambiental e educacional para a cidade, mas a professora hoje aposentada quer ampliá-lo. A nova proposta, programada para 2007, envolve o outro lado da vida. Famílias em luto poderão homenagear o morto doando mudas para amigos presentes ao enterro. Esses contarão com uma oportunidade de transformar a árvore em sinal de boas lembranças e de renovação – sinal de vida, verde como a esperança.

* Márcia Lopes é jornalista em Belo Horizonte.

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