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Mercados verdes

Interesse crescente pela conservação da natureza gera um mercado de produtos e ecoturismo que pode despertar as empresas para lucrarem com a proteção ecológica.

11 de fevereiro de 2005 · 20 anos atrás
  • Eduardo Pegurier

    Mestre em Economia, é professor da PUC-Rio e conselheiro de ((o))eco. Faz fé que podemos ser prósperos, justos e proteger a biodiversidade.

É pouco provável que uma empresa se interesse ou tenha recursos para criar um grande parque ou área de conservação num ponto ermo do país. Mas, com o crescente interesse dos consumidores por produtos ecológicos e pelo ecoturismo, os empresários têm tudo para se tornar amigos da natureza.

Um exemplo brasileiro é a crescente produção orgânica de um dos nossos mais tradicionais produtos, o café. Movida pelos ricos e “conscientes” consumidores do Japão, Europa e Estados Unidos, que pagam preços até três vezes maiores que o café comum, a produção do orgânico está crescendo rapidamente. Ainda é diminuta, cerca de 0,5% da total brasileira, mas está dobrando a cada ano. No México, já chegou a 10% do total. Pela ausência do uso de agrotóxicos, as maiores vantagens do café orgânico vão para o solo e os lençóis freáticos, além de preservar a saúde dos trabalhadores do campo. A lavoura orgânica entremeia, para sombrear o café, outras espécies como bananeiras e mamonas, atraindo passarinhos e aumentando a biodiversidade em geral.

O Brasil tem que ser um lugar fértil para empreendimentos ambientais. Primeiro, porque com o nosso sucesso em destruir rapidamente a natureza, sob os olhos costumeiramente pouco atentos das autoridades, precisaremos cada vez mais de iniciativas de conservação individuais ou de pequenos grupos. Além disso, o que é raro fica caro e gera lucros. Talvez esse seja um contrapeso importante. Enquanto a natureza se esvai, as oportunidades para protegê-la serão cada vez mais lucrativas e visíveis.

O livro Enviro-Capitalists, Doing the good while doing well, de Terry Anderson e Donald Leal, traz uma coleção de histórias onde empresas ou pequenas comunidades encontraram soluções lucrativas ou auto-sustentáveis para a ecologia.

Os subúrbios americanos já foram definidos como monótonas fábricas de grama. O carro e a gasolina barata levaram a maior parte da população do país a se mudar para essa modalidade de bairro, caracterizada pelas casas com largos jardins, a quilômetros das áreas comerciais. Entre os americanos mais antenados, em vez de passar o verão montados em barulhentos cortadores de grama, já prospera a idéia da jardinagem ecológica.

Na área de Minnesota, a Prairie Restorations é uma empresa dedicada ao paisagismo com plantas nativas, usando flores selvagens e um tipo de vegetação alta, típica das pradarias da região. Além de ecologicamente correto, o custo de manutenção desses jardins é próximo a zero. A natureza gosta deles. Várias grandes corporações locais, com grande visibilidade pública, como a IBM, adotaram o conceito e contrataram a empresa. Ela também produz kits caseiros para os interessados nesse tipo de jardinagem. Seu faturamento anual já passou do milhão de dólar.

O Centro de Vida Selvagem Fossil Rim, no Texas, é outro bom exemplo. No início, Christine Jurzykowski e Jim Jackson eram movidos pela filantropia e o amor pela natureza. Para salvar animais em risco de extinção, compraram um terreno de 1.100 hectares e nele criaram cerca de 60 espécies de cinco continentes diferentes. Do ponto de vista conservacionista a empreitada foi um sucesso. O centro passou a ser referência em programas de reprodução e padrão de tratamento de animais selvagens. Mas pelo lado financeiro, os custos eram altos e a empreitada corria o risco de naufragar. A solução foi tornar o Fossil Rim um destino de turismo ecológico. Eles passaram a oferecer visitas guiadas, acampamentos combinados com programas educativos e safáris noturnos. Deu certo. Só o passeio de carro pelo parque chegou a atrair mais de 120 mil visitantes por ano. A receita ajuda a preservar animais como o guepardo e o rinoceronte negro, ameaçados de extinção nos seus países de origem.

Outra história contada no livro é a da Conservation Corporation, criada na África do Sul por David Varty e Allen Bernstein, donos de uma empresa de ecoturismo. Para garantir que os seus clientes pudessem visitar áreas ricas em fauna e flora, eles convenceram proprietários de terra a formar um corredor contíguo de conservação, tornando-os acionistas da empresa. Dessa forma, conseguiram substituir agricultura e criação de gado por áreas de proteção de animais selvagens.

O livro foi lançado pelo Property and Environment Research Center (PERC), e estimulou o instituto a criar uma página de internet sobre o assunto, constantemente atualizada com novos relatos de vários países. É uma boa fonte de idéias e experiências bem-sucedidas.

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