No litoral do Paraná, o Robalo (Centropomus Parallelus) está numa situação complicada. Peixe carnívoro, situado no topo da cadeia alimentar, ele vem sendo dizimado pela pesca predatória. Virou alvo preferencial desde que a culinária descobriu que sua carne é suave e livre de espinhas.
Um projeto para repovoar a espécie na baía de Guaratuba representa a chance de mudar a condição vexatória do robalo, importante no controle da população de outros peixes, como o parati, a tainha e a sardinha, além de camarões. No começo de fevereiro, cerca de 30 mil filhotes foram soltos nas águas do mar.
Foi a primeira leva de outras que virão até 2009, quando a iniciativa patrocinada pela Pontifica Universidade Católica do Paraná (PUC) e a Secretaria da Ciência e Tecnologia do Estado prevê a soltura de um total de 300 mil robalos na região da baía do município de Guaratuba, onde eram abundantes até os anos 80 do século passado.
“O robalo precisa ser reintroduzido de forma gradativa na natureza. É uma maneira de não causar um novo desequilíbrio em todo o ecossistema da baía”, afirma o zootecnista Fabiano Bendhack, coordenador do Projeto Robalo e do laboratório da PUC-PR em Guaratuba, o Centro de Produção e Propagação de Organismos Marinhos (CPPOM).
A presença do robalo evitará que o meio ambiente marinho do litoral paranaense sofra um expressivo desequilíbrio. Regulando a presença de outras espécies, o peixe garante a oferta natural de mais alimentos, como o fitoplâncton, substâncias primárias que ficam pairando na água. Ostras e moluscos dependem disso para se desenvolver.
“O Robalo se alimenta de camarões, tainhas, paratis e sardinhas, que consomem fitoplâncton, do qual também dependem moluscos e ostras”, ressalta o zootecnista Bendhack.
Baseado em relatos de pescadores idosos e resultados de torneios de pesca esportiva, o CPPOM ficou sabendo que os robalos tornaram-se uma presença praticamente decorativa na baía de Guaratuba. Era normal colher em cada rede de 15 a 20 robalos com comprimento acima de 35 centímetros, tamanho mínimo aceitável para consumo.
Hoje, o máximo que se consegue retirar do mar são dois robalos por rede, sem garantia de que cheguem aos 35 centímetros. Segundo Bendhack, a presença de peixes deste tipo na rede é considerada uma exceção.
Para evitar que o Projeto Robalo não funcionasse, a equipe do CPPOM procurou identificar os habitats do peixe antes de iniciar a reintrodução. Na pesquisa, ficou confirmado que mangues, remansos de maré e áreas abrigadas de sombra são as aquelas com maiores chances de garantir o crescimento da população do Centropomus Parallelus.
O Projeto Robalo não consiste apenas no repovoamento da espécie reproduzida no CPPOM. Esta é apenas a fase de curto prazo, orçada em R$ 800 mil já garantidos pela PUC-PR e a Secretaria de Ciência e Tecnologia do estado. Um trabalho considerado de médio prazo, a segunda fase, também já em desenvolvimento, consiste em conscientizar as famílias de pescadores da região a devolver ao mar as espécies ainda em fase de crescimento.
Desde dezembro passado, quando o CPPOM inaugurou um museu de espécies marinhas que habitam o litoral do Paraná, cerca de 400 estudantes do primeiro grau tiveram aulas sobre educação ambiental com alunos do curso de biologia da PUC-PR. Eles recebem informações sobre as espécies mais comprometidas e como o problema pode afetar as cadeias marinha a econômica no litoral.
“Vários estudantes são filhos de pescadores e têm uma interação com o meio ambiente. Queremos que esteja claro para eles que a preservação da natureza ajuda a garantir também o sustento deles”, diz Bendhack.
Até o final desta década, no que é chamado de projeto de longo prazo (a terceira e última fase do processo de resgate da população de robalos no litoral do Paraná), o CPPOM aposta na psicultura. O objetivo: eliminar a prática extrativista e garantir que os robalos jamais sejam ameaçados de novo no mar. Esta iniciativa ainda depende de estudos que apontem a melhor forma de produção da espécie em tanques.
* Dimitri do Valle tem 33 anos é jornalista em Curitiba.
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