Justamente na hora em que o fantasma do apagão volta a nos rondar, recebemos a notícia de que o Brasil desperdiça 10% da energia que gera. Parece, portanto, um bom momento para aproveitar a energia dessa maré de notícias ruins para aumentar os investimentos em projetos que busquem a redução da degradação ambiental através da conservação e do uso eficiente dos nossos recursos energéticos.
Antes de começar qualquer discussão a respeito do que é mais eficiente nesse sentido, que tal incentivar o uso racional da energia? Parece simples e banal. A própria experiência brasileira com o racionamento de 2001 mostrou que a população está disposta a colaborar, seja por preocupação com o próprio bolso ou com a falta de energia em si. O resultado é a mudança de atitudes que afetam diretamente o meio ambiente. O que falta são informações e incentivos constantes para que este aprendizado “entre na veia” e passe de geração a geração – de gente, não de energia! Já existem diversos movimentos e programas de educação ambiental. Mas é preciso que essa conscientização atinja exaustivamente toda população, disseminando informações sobre a correta utilização da energia, com economia e sem perda de conforto.
Tomemos como exemplo o projeto de lei que tramita atualmente no Congresso para retirar as lâmpadas incandescentes do mercado. Na época do racionamento, a população aprendeu a ver essas lâmpadas como as grandes vilãs do consumo doméstico. Mas, apesar de consumirem mais energia do que as fluorescentes, existem duas questões que devem ser levadas em consideração quando se opta pela substituição dessas lâmpadas, o que a propaganda oficial não diz.
A primeira é que as lâmpadas fluorescentes em geral são importadas da China e as incandescentes são fabricadas aqui. E isso tem um custo social, em forma de empregos criados do outro lado do mundo, e não aqui. É preciso contabilizar também as emissões de gases de efeito estufa, com tanto transporte, e das usinas de carvão mineral, que lá fornecem eletricidade para as indústrias onde são produzidas. A segunda é relativa à garantia da coleta e da disposição final adequada das lâmpadas fluorescentes. Quando intactas, elas não oferecem risco nenhum à saúde humana e ainda podem ser recicladas, retornando o mercúrio para os fabricantes. Mas, se forem quebradas em lugares inadequados, dependendo das condições locais de temperatura, o mercúrio evapora e pode afetar o sistema nervoso.
Somadas à falta de informação, outras barreiras impedem o deslanche do uso eficiente de energia. Além das mais conhecidas, como os incentivos fiscais e a falta de conscientização por parte de todos os atores e de mais investimentos em programas de eficiência energética, existem problemas de super-dimensionamento das máquinas, instalações inadequadas e um número ainda limitado de produtos com selo PROCEL (Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica), hoje restrito a eletrodomésticos, motores e lâmpadas.
Não é hora mesmo de o Brasil desperdiçar mais essa oportunidade.
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