Reportagens

Cerrado em festa

Fundação Boticário criará reserva de 8.9 mil hectares no entorno da Chapada dos Veadeiros. Não foi fácil achar, mas a área contém vegetação das mais preservadas do cerrado.

Gustavo Faleiros ·
3 de maio de 2007 · 18 anos atrás

O Cerrado acaba de ganhar um aliado para sua conservação. A Fundação O Boticário, conhecida por suas iniciativas na Mata Atlântica e Pantanal, está fincando de vez a sua bandeira no segundo maior bioma brasileiro. Depois de dois anos de pesquisa em mapas e trâmites burocráticos, a organização efetuou a compra de um terreno de 8,9 mil hectares que se transformará em uma reserva natural. Localizada no norte do estado de Goiás, no município de Cavalcante, a área será uma peça importante no mosaico de unidades de conservação que existe na região.

Batizada de Serra do Tombador, a reserva está localizada a 21 quilômetros do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros. Trata-se de um dos locais onde o Cerrado está mais bem preservado no país. Dentro da Tombador é possível encontrar as mais variadas fisionomias vegetais do bioma, como cerrado de altitude, campos sujos, veredas, matas de galeria e cerrado típico. Não surpreende, portanto, que ali exista também uma rica fauna, com espécies de grande porte, que estão no topo da cadeia alimentar, como a onça pintada e as antas.

Malu Nunes, diretora-executiva da Fundação O Boticário, explica que a estratégia da organização no Cerrado tem como objetivo contribuir para a proteção de áreas prioritárias para a conservação já identificadas pelo governo brasileiro. Ela lembra que apesar de sua importância, o bioma possui apenas 3% de sua extensão protegidas por unidades de conservação. O ideal é que houvesse 10%, explica Malu. “Estamos fazendo um esforço não para substituir a ação do governo, mas para complementar”, disse.

A coordenadora do Programa de Áreas Naturais Protegidas da Boticário, Verônica Theulen, conta que não foi tão fácil encontrar propriedades preservadas para transformá-las em reserva. Segundo ela, mesmo seguindo o mapa de áreas prioritárias do governo, a busca foi uma verdadeira corrida contra o tempo. “Nos últimos três anos houve um processo de destruição muito rápido do Cerrado, o gado e a soja entrando com muito dinheiro”, diz.

Outro problema era a titularidade das terras, algo difícil de se comprovar. Ao fim de dois anos de busca, a Boticário conseguiu enfim efetuar a compra de seis fazendas por 2,3 milhões de reais. Uma das jóias da reserva é o rio da Conceição. Toda a bacia está protegida dentro dos 8,9 mil hectares.

Malu Nunes explica que tão logo a Tombador se torne oficialmente uma reserva particular do patrimônio natural (RPPN) e o plano de manejo estiver pronto, as portas serão abertas a visitantes e pesquisadores. O ecoturismo, ela cita, é uma vocação natural da região e bastante desenvolvida nos municípios do entorno da Chapada dos Veadeiros. Aproximar-se das universidades também é essencial: em Brasília e Goiânia existem importantes grupos de pesquisa sobre o Cerrado. “A estratégia é focar na conservação com apoio dos parceiros locais”, afirma Malu.

  • Gustavo Faleiros

    Editor da Rainforest Investigations Network (RIN). Co-fundador do InfoAmazonia e entusiasta do geojornalismo. Baterista dos Eventos Extremos

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