A história do Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental sempre foi acompanhada por um desafio inglório, o de não apenas reproduzir (ou reduzir-se) o discurso dominante de apropriação das questões ecológicas unicamente para efeito de marketing.
Ao longo de suas dez edições, o objetivo de promover a cultura cinematográfica para a defesa do meio ambiente muitas vezes não foi alcançado, seja por fragilidade da própria organização ou porque a dicotomia que ainda existe no Brasil entre cultura e economia, política e meio ambiente, por exemplo, foi evidenciada.
Como falar de preservação se, nas primeiras edições do evento, não havia coleta de lixo eficiente e o acúmulo de detritos e outros materiais se tornou um sério problema para a cidade – e um inconveniente para os turistas? Ou como suplantar a contradição de que o festival é realizado no coração de um bioma reduzido de forma avassaladora e em uma cidade que foi parcialmente destruída em 2001 por uma enchente agravada pelo desmatamento das cabeceiras do Rio Vermelho?
A resposta para tais questões certamente não é simplista. Como também não são as ações que tiveram de ser tomadas – e ainda terão de ser – para conter ou evitar os efeitos da interferência do homem no meio ambiente local.
No entanto, apesar desta cena digna de filme de terror, muitas conquistas também foram incorporadas à história do FICA. A implantação do Parque Estadual Serra Dourada em 2003, o lançamento do programa “Fica Limpo” – um mutirão de limpeza que se forma durante o evento – e a descentralização de ações de educação ambiental certamente estão entre elas.
Em 2008, ao completar 10 anos, o FICA ainda terá de somar à sua balança de resultados positivos e negativos um novo fato: a recente extinção da Agência Ambiental de Goiás, que antes tinha vida própria, mas foi incorporada definitivamente à Secretaria Estadual do Meio Ambiente.
Para Osmar Pires Martins Junior, engenheiro agrônomo e presidente da Agência entre 2003 e 2006 -que na última quinta-feira destrinchou os problemas e desafios do FICA em artigo publicado no jornal goianiense Diário da Manhã -, a pergunta que o Festival terá de responder não é mais somente relacionada à qualidade dos filmes exibidos, mas sim se o “cinema ambiental” continuará a ser uma palavra composta ou se será reduzido ao vocábulo simples “cinema”.
*
E para não deixar de falar dos filmes do 10º FICA, a dica de hoje é “The Jungle Beat”, média metragem que aborda um tema bastante conhecido pelos brasileiros: a venda ilegal de madeira da Amazônia. Produção inglesa, o trabalho fala dos conflitos gerados pela exigência de licenciamento para a extração de madeira no Vale do Guaporé, em Rondônia, e da tentativa de fiscalização deste comércio pelo Ibama. Confira!
Leia também
Comissão da Câmara aprova projeto que aumenta pena para crime ambiental na Amazônia
Proposta também inclui penalização de servidores e agentes públicos que se omitirem diante de tais crimes. Ascema vai avaliar conteúdo do texto →
Desastres ambientais afetaram 418 milhões de brasileiros em 94% das cidades, diz estudo
Levantamento feito pela Confederação Nacional dos Municípios (CNM) mostra que cada brasileiro enfrentou, em média, mais de duas situações de desastre entre 2013 e 2023 →
A despedida da flor-de-maio
A bela floração dessa espécie endêmica da Mata Atlântica dura de 15 a 20 dias e ocorre somente uma vez por ano →