Reportagens

Ontem e hoje

História do Festival Ambiental vem acompanhada da luta para superar contradições como o fato de ser realizado no coração de um dos biomas mais degradados do país.

Cristiane Prizibisczki ·
12 de junho de 2008 · 16 anos atrás

A história do Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental sempre foi acompanhada por um desafio inglório, o de não apenas reproduzir (ou reduzir-se) o discurso dominante de apropriação das questões ecológicas unicamente para efeito de marketing.

Ao longo de suas dez edições, o objetivo de promover a cultura cinematográfica para a defesa do meio ambiente muitas vezes não foi alcançado, seja por fragilidade da própria organização ou porque a dicotomia que ainda existe no Brasil entre cultura e economia, política e meio ambiente, por exemplo, foi evidenciada.

Como falar de preservação se, nas primeiras edições do evento, não havia coleta de lixo eficiente e o acúmulo de detritos e outros materiais se tornou um sério problema para a cidade – e um inconveniente para os turistas? Ou como suplantar a contradição de que o festival é realizado no coração de um bioma reduzido de forma avassaladora e em uma cidade que foi parcialmente destruída em 2001 por uma enchente agravada pelo desmatamento das cabeceiras do Rio Vermelho?

A resposta para tais questões certamente não é simplista. Como também não são as ações que tiveram de ser tomadas – e ainda terão de ser – para conter ou evitar os efeitos da interferência do homem no meio ambiente local.

No entanto, apesar desta cena digna de filme de terror, muitas conquistas também foram incorporadas à história do FICA. A implantação do Parque Estadual Serra Dourada em 2003, o lançamento do programa “Fica Limpo” – um mutirão de limpeza que se forma durante o evento – e a descentralização de ações de educação ambiental certamente estão entre elas.

Em 2008, ao completar 10 anos, o FICA ainda terá de somar à sua balança de resultados positivos e negativos um novo fato: a recente extinção da Agência Ambiental de Goiás, que antes tinha vida própria, mas foi incorporada definitivamente à Secretaria Estadual do Meio Ambiente.

Para Osmar Pires Martins Junior, engenheiro agrônomo e presidente da Agência entre 2003 e 2006 -que na última quinta-feira destrinchou os problemas e desafios do FICA em artigo publicado no jornal goianiense Diário da Manhã -, a pergunta que o Festival terá de responder não é mais somente relacionada à qualidade dos filmes exibidos, mas sim se o “cinema ambiental” continuará a ser uma palavra composta ou se será reduzido ao vocábulo simples “cinema”.

*

E para não deixar de falar dos filmes do 10º FICA, a dica de hoje é “The Jungle Beat”, média metragem que aborda um tema bastante conhecido pelos brasileiros: a venda ilegal de madeira da Amazônia. Produção inglesa, o trabalho fala dos conflitos gerados pela exigência de licenciamento para a extração de madeira no Vale do Guaporé, em Rondônia, e da tentativa de fiscalização deste comércio pelo Ibama. Confira!

  • Cristiane Prizibisczki

    Cristiane Prizibisczki é Alumni do Wolfson College – Universidade de Cambridge (Reino Unido), onde participou do Press Fellow...

Leia também

Salada Verde
24 de maio de 2024

Comissão da Câmara aprova projeto que aumenta pena para crime ambiental na Amazônia

Proposta também inclui penalização de servidores e agentes públicos que se omitirem diante de tais crimes. Ascema vai avaliar conteúdo do texto

Notícias
24 de maio de 2024

Desastres ambientais afetaram 418 milhões de brasileiros em 94% das cidades, diz estudo

Levantamento feito pela Confederação Nacional dos Municípios (CNM) mostra que cada brasileiro enfrentou, em média, mais de duas situações de desastre entre 2013 e 2023

Salada Verde
24 de maio de 2024

A despedida da flor-de-maio 

A bela floração dessa espécie endêmica da Mata Atlântica dura de 15 a 20 dias e ocorre somente uma vez por ano

Mais de ((o))eco

Deixe uma resposta

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.