O plano do coordenador do centro, José Alves de Siqueira, revela as etapas que sua equipe busca cumprir. “Precisamos conhecer as plantas (saber como a Caatinga é formada), resgatar essas espécies (coletar sementes, guardá-las e produzir mudas) e descobrir como recuperar o bioma”, explica. O nível do conhecimento a ser adquirido é totalmente diferente do que existe acumulado hoje sobre a Mata Atlântica – já bastante estudado pela academia.
São várias as frentes de trabalho no Centro. Há, por exemplo, uma coleção de espécies vivas no Crad da Univasf e no laboratório de sementes (LAS). São 3 milhões de sementes mantidas em uma câmara fria a 7°C. A baixa temperatura reduz o metabolismo delas e assim, as mantém por mais tempo, explica o professor Marcos Meiado, especialista responsável pelo LAS. As cerca de 150 espécies da coleção são todas comuns às áreas onde ocorrem as obras da transposição do rio São Francisco.
Sementes guardadas em câmara fria (acima) e pesquisador mostra sementes coletadas (fotos: Celso Calheiros) |
No LAS, a mesma espécie de semente é guardada em sacos plásticos, em bombonas plásticas e em envelopes de papel. A cada três meses, algumas amostras são testadas para se verificar qual o melhor meio para mantê-las por mais tempo. Antes de serem armazenadas, as sementes são identificadas e são anotados os dados do local de coleta georreferenciado e suas características físicas, como peso, teor de umidade, tipo, coloração.
As sementes também servem para novos estudos sobre germinação, qual a melhor forma de induzir a brota e que espécies precisam de outros agentes: como o clima, insetos, aves, animais ou mesmo uma ação antrópica. Algumas descobertas são feitas. Por exemplo, Fabricio Santos da Silva, um dos professores do LAS, conta que eles ainda não conseguiram tirar da dormência a semente da umburana de cambão, árvore tradicional do semiárido, procurada por abelhas para instalar suas colmeias e conhecida pelo uso (hoje proibido) de santeiros e escultores de carrancas. “Com a umburana, nós conseguimos sua reprodução através de mudas”, conta Francisco.
O viveiro de mudas do Crad e Eliezer Gervásio, que se dedica à produção de mudas (fotos: Celso Calheiros) |
O coordenador adjunto do centro, Eliezer Santurbano Gervásio, dedica-se à produção de mudas e também teve de inovar para melhor aproveitar os recursos. O substrato clássico na produção de muda é o pó de pinus, vendido comercialmente na região Sudeste. Eliezer, no entanto, teve uma ideia econômica e resolveu testar o pó da casca verde do coco. “Se mostrou um substrato muito bom, que gera como subprodutos a fibra longa e a fibra curta do coco – úteis para cobrir o solo e reduzir a perda de umidade”, explica. Em seus experimentos com as mudas, Eliezer também desenvolveu um novo sistema de irrigação que torna o viveiro, com cerca de 100 mil mudas, mais eficiente.
Depois do centro instalado, sementes coletadas e estudadas, produção de mudas em atividade, é necessário o trabalho de campo para a recuperação das áreas degradadas. A professora Fabiana Basso trata dos modelos a serem colocados em prática, como a distância que deve ser mantida entre as mudas, quais as mudas adequadas para cada região e qual o comportamento das áreas que estão tendo sua mata de volta. “Fazemos medições todos os meses e estamos desenvolvendo os modelos”.
Conhecendo a Caatinga
No herbário do Crad, uma espécie possivelmente nova para ser conhecida pela Ciências (acima). E a xiloteca do centro: “Quem já viu 1 mil anos de uma vez?” (fotos Celso Calheiros) |
A tecnologia ajuda nessa missão. O centro possui um Laboratório de Geoprocessamento que é constantemente alimentado com novos dados. Os mapas produzidos pelo laboratório podem indicar o tipo de solo, proximidade de fontes de água, nível de precipitação histórico, incidência de sol, altitude dentre outros dados. Essas informações são cruzadas com os hábitos catalogados das espécies mais comuns e em que áreas elas foram coletadas. Com essa combinação de informações, eles são capazes de mapear os locais com melhores chances de ser encontrar determinada espécie. Ou quais são as mais indicadas para recompor uma mata num ponto definido. “Se um prefeito ligar dizendo que quer replantar uma área, por exemplo, posso enviar as mudas adequadas para a região dele”, explica José Alves.
Devido à extensa atividade em campo, José Alves tratou de incumbir aos alunos e professores, a missão de coletar plantas para o herbário instalado. Mais de 9 mil espécies já estão devidamente catalogadas — muitas em duplicata, para a rotina comum aos herbários ativos, que é a constante troca de informações com instituições similares. “Queremos nosso herbário como uma referência das plantas existente nos biomas encontrados na bacia do rio São Francisco”, resume José Alves.
Como indicador de sua atividade, o herbário possui duas espécies que estão em fase de descrição e podem se tornar as duas primeiras contribuições para a ciência. Uma é da família das samambaias e outra uma araliácea. “Os tucanos adoram os frutos dessa espécie”, comenta José Alves.
O centro também possui uma xiloteca, que são amostras de árvores retiradas da natureza por causa da obra de transposição do rio São Francisco. Os exemplares são guardados com diferentes cortes e é possível se obter informações morfológicas, os desenhos do interior do tronco e a formação da casca. A sala da xiloteca é próxima a entrada do Crad. Ao receber estudantes em dia de educação ambiental, José Alves gosta de apresentá-los à coleção com uma pergunta: “Quem já viu mil anos de uma vez só?”.
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O único bioma exclusivamente brasileiro, o Bioma Caatinga é também o mais negligenciado pelos órgãos governamentais competentes, uma vez que é o menos protegido não chegando ao 10% a sua área de preservação. É como se não conseguissem compreender com seriedade os riscos que corre este precioso ecossistema com toda a sua biodiversidade. O grito do bispo Dom Luiz Cappio pedindo socorro pela vida do Rio São Francisco, embora não tenha sido ouvido pelo governo ainda ecoa devido a sua grande importância para Caatinga com toda sua biodiversidade e também para as cidades ribeirinhas. Algo de fato precisa ser feito para mudar este cenário atual, com relação a isto podemos encontrar no CRAD várias ações afirmativas pela conservação e preservação da Caatinga. Um trabalho científico dedicado não somente a conhecer e catalogar as espécies deste ecossistema, mas que busca e aponta possibilidades de restauração de áreas degradadas. Podemos destacar neste projeto o seu um banco com quase 2 toneladas de sementes, a grande capacidade do viveiro na produção de mudas, o herbário com 23 mil espécies da Caatinga, além do viveiro vivo. O trabalho desenvolvido no CRAD pelo Prof. Dr. José Alves e toda a sua equipe nos ensina que é possível preservar, conservar e replantar a caatinga nas áreas degradas, um trabalho que requer pessoas capacitadas, técnica apropriada e um investimento de recursos significativos para possamos salvar o que ainda nos resta do Bioma Caatinga.
A Caatinga é dos Biomas brasileiros o único que só ocorre no território nacional, não existe a presença da Caatinga em nenhuma outra parte do mundo, muitas espécies da fauna e flora são endêmicas, de ocorrência exclusiva na Caatinga. O Bioma esta delimitado pela região Semiárida, são 850 mil Km², que abriga uma população de 22 milhões de habitantes, esta é a região semiárida mais populosa do mundo. O processo de degradação do Bioma Caatinga ocorre desde meados do século XVI, quando as fazendas coloniais iniciaram a criação extensiva de gado nas margens do rio São Francisco, os bovinos são animais pouco adaptados a Caatinga, causando grandes impactos e degradação da vegetação arbustiva e herbacea, e na compactação do solo. A conservação do Bioma Caatinga atualmente representa grandes desafios, que passam pelo combate a desertificação a modelos que garantam as populações conviver com o semiárido, tendo como base e estratégia o uso, manejo e a conservação da Caatinga. O CRAD é um importante centro de pesquisa para garantir a conservação da Caatinga, sejam no desenvolvimento de modelos de recuperação de áreas degradadas ou na sensibilização e na educação ambiental da população que vive no Semiárido.
A negligência da ciência com o ecossistema da caatinga custou caro a região semiárida. O CRAD é um oásis no meio de um deserto de abandono da ciência quando o tema é recuperação de áreas degradadas desse ecossistema que ocorre apenas em nosso País. A iniciativa do CRAD é estratégica para o desenvolvimento de todo o Nordeste e de parte de Minas Gerais. Conhecer a caatinga e sua biodiversidade é condição para o desenvolvimento de qualquer ação cientifica. Considerando que estamos apenas no início de um trabalho que certamente demandará décadas para se observar os resultados é preciso que as políticas públicas notadamente na área da ciência e tecnologia coloquem esse ecossistema no centro dos investimentos para médio e longo prazo. A caatinga é um ecossistema frágil e sua recuperação custa caro, segundo dados do Professor José Alves, para recuperar 01 ha custa entre R$30.000,00 e R$50.000,00, o que nos traz a necessidade de abrir uma outra frente que é da preservação do que ainda há de caatinga em pé. Isso também requer investimento de todas as ordens desde a educação ambiental, fiscalização, construção de áreas de proteção e outras políticas que contribuam para proteção do que ainda temos de caatinga. Isso certamente requer investimentos públicos e privados, mas nada comparado ao desafio da recuperação das áreas degradas ou dos impactos que elas trazem para nossas vidas.
A(s) Caatinga(s), vegetação típica do nordeste brasileiro, estende-se por cerca de
735.000 Km², caracterizando-se como a região semiárida exclusivamente brasileira e a mais
povoada do planeta (mais de 25 milhões de pessoas). Apesar da imagem negativa, retratando um
ambiente seco, solos rachados e inóspito, possui uma biodiversidade muito rica, porém,
extremamente frágil de difícil e onerosa recuperação. Sua biodiversidade tem sido subestimada
e negligenciada, reflexo direto da pouca atenção ou mesmo descaso, dos programas
governamentais.
Dados recentes, colocam a Caatinga como sendo o segundo ambiente, mais degradado e
devastado do Brasil, já apresentando sinais de desertificação e colapso. É urgente a tomada de
atitude no sentido do controle, onde diversos e complexos fatores estão envolvidos como: a falta
de políticas públicas, investimentos em geração de pesquisas adaptadas a região, estudos de
impactos na biodiversidade, implantação de reservas biológicas e áreas de proteção, redução dos
níveis de pobreza da população local, direcionamento na formação de profissionais pelas
universidades etc. A conservação desse Ecossistema, não só intervém no clima, no
assoreamento dos rios e na biodiversidade como um todo, como diretamente, interfere na
sobrevivência das pessoas, nas nossas vidas.
Na verdade como comenta nossos colegas do Mestrado Profissional em Extensão Rural da Univasf, precisamos sim dar um ponto de partida no incentivo a recuperação e preservação do bioma caatinga deixando de cruzar os braços ou ficarmos calados diante do que esta acontecendo em desrespeito a essa imensa e exclusiva vegetação genuinamente brasileira. Precisamos agilizar no embate político em fortalecer a discussão na formação de políticas publicas que venha consolidar a preocupação na luta não somente da criação de unidades de conservação e parques ambientais, mas sim na aplicação de uma medida obrigatória com seriedade na preservação a exemplo de mais investimentos em pesquisas e ações praticas no bioma caatinga.
Aproveito nesse comentário em parabenizar não só o professor José Alves e sim toda sua equipe de professores, alunos, pesquisadores e funcionários que constroem esse excelente centro de referência existente na caatinga CRAD. Por estarem dando continuidade a essa luta de amor e carinho aos "1 mil anos de uma vez".
As pesquisas, os estudos acadêmicos e as ações realizadas pelo CRAD com sua imensa infraestrutura de laboratórios, viveiros e campos experimentais precisam continuar realizando essa multiplicação de informações dentro do tripé ensino, pesquisa e extensão. Pegando um pouco do conteúdo apresentado na reportagem à conservação de sementes utilizando-se de uma tecnologia de resfriamento em câmara fria a 7° C, como também a quebra de dormência de algumas espécies ou a produção de mudas, já mostra o grande resultado de conhecimento sobre preservação e conservação existente em nossa região, que esta repleta de grandes empreendimentos devastadores ameaçando nosso bioma a exemplo das obras de transposição das águas do Rio São Francisco, Ferrovia Transnordestina e outras absurdas que o poder publico pretende construir a exemplos da Usina Hidroelétrica de Riacho Seco e Usina Nuclear no município Pernambucano de Tacaratu as margens do nosso belo e maravilhoso Velho Chico.
Vejo a grande importância do maravilhoso Centro de Referência para Recuperação de Áreas Degradadas (CRAD) para nossa região o quanto é tão rico seu acervo catalográfico, as suas pesquisas realizadas utilizando-se dos mais diversos meios tecnológicos em mapeamento de áreas degradadas, georreferenciamento de espécies nativas, armazenamento de sementes e reprodução de espécies em processos de extinção.A breve visita que realizei no CRAD durante uma aula da disciplina Biodiversidade e Recursos Naturais do Bioma Caatinga tive a imensa oportunidade de enxergar um pouco do que se apresenta nessa reportagem, mas sei que precisa-se conhecer mais sentir o quanto é importante nos preocuparmos com os estudos e pesquisas realizadas nesse centro tão importante para o nosso bioma no qual venha complementar o que falta em outros centros presentes no Nordeste.
Um novo desafio surge em nossos pensamentos sobre a preservação e conservação desse tão valioso e rico bioma caatinga. Ao ler essa reportagem comecei a enxergar o quanto é imenso os conhecimentos hoje presentes referentes a seu estudo, mas afinal ainda é pouco em comparação ao que vem se estudando em outros biomas brasileiros, como também os altos investimentos aplicados, por exemplo, no bioma cerrado e na floresta amazônica. Entretanto, vejo que precisamos continuar lutando em prol do fortalecimento e investimento a pesquisas como essas que vem acontecendo no interior do nosso bioma caatinga não podemos cruzar os braços ou virar as costas diante dessa realidade a exemplo da falta de interesse do poder publico seja nas varias esferas Federal, Estadual e Municipal. Temos sim que continuar brigando causando um embate e acordar nossos governantes que ainda estão adormecidos em um sono profundo.
Ao ler essa reportagem observei aqui o rico conhecimento acadêmico diante de nossos olhares e que precisamos conhecer mais, aproximando nossos jovens, trazendo nossos filhos para não somente estudarem e sim pesquisarem as milhares de espécies presentes ao nosso redor na verdade não estamos sozinhos, mas bem acompanhados.
O trabalho realizado pelo Centro de Referência para Recuperação de Áreas Degradadas (Crad) da Universidade do Vale do São Francisco (Univasf), mostra a importância do conhecimento referente ao nosso bioma caatinga, para visarmos à recuperação da biodiversidade. As atividades são executadas com comprometimento, como pode ser visto no trabalho de pesquisa concretizado por diversos autores e pelo professor José Alves, descrito no livro “Flora das Caatingas do Rio São Francisco”. Lendo esse importante estudo, verifico o desafio de preservar e recuperar a caatinga, numa região onde ações imediatistas são financiadas com políticas públicas sem nenhum tipo de preocupação com as conseqüências ao longo prazo, menos de 2% das unidades de conservação estão no bioma caatinga sendo esse o único bioma exclusivamente brasileiro, isso mostra o pouco interesse do governo em preservar a nossa biodiversidade.
O trabalho realizado pelo Crad mostra que o diagnóstico das ações de recuperação e conservação da Caatinga já foi feito, precisamos partir para ação e mudar o cenário atual, um ponto de partida para formação de políticas publicas que incentive a recuperação e preservação da caatinga especificamente, é a sensibilização da sociedade, sendo a divulgação do trabalho realizado pela Crad uma ferramenta para essa ação.
Para quem já teve a oportunidade de conhecer o Centro de Referência para Recuperação das Áreas Degradadas– CRAD, teve a chance de entender a importância da existência dele e de todas as plantas nativas ali existentes. Realmente você tem a percepção de “ver mil anos em um só” quando adentra a xiloteca e o Herbário, com inúmeras variedades de espécies, todas catalogadas, coletadas de inúmeros pontos da bacia do São Francisco e totalmente detalhadas. As espécies recolhidas foram organizadas pelo grupo e são informatizadas para facilitar a busca nas informações sobre cada uma delas.
Nas pesquisas realizadas pelo professor José Alves Siqueira dentro do Crad, é possível perceber que existem possibilidades para a recuperação dessas áreas em processos de desertificação e seus estudos apresentam também, o que causa esses danos e como fazer o manejo áreas para que essa reconstrução ocorra.
O trabalho de pesquisa realizado por diversos autores e pelo professor José Alves, está descrito e bem elaborado no livro “Flora das Caatingas do Rio São Francisco”, que possui um extraordinário teor científico com uma ilustração encantadora e retrata a diversidade biológica desse maravilhoso ecossistema. Nele, você consegue identificar não só as inúmeras pesquisas que cunho científico com objetivo de preservação, mas também as questões históricas e culturais que estão relacionadas a esses espaços, todas em prol a restauração da Caatinga e principalmente de suas espécies ameaçadas de extinção.