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Convencendo elefantes

Técnicos estudam meios de fazer com que os elefantes não queiram sair dos limites de um Parque Nacional na Tailândia. Não é nada fácil. Os bichos são espertos.

6 de maio de 2005 · 19 anos atrás
  • Maria Tereza Jorge Pádua

    Engenheira agrônoma, membro do Conselho da Associação O Eco, membro do Conselho da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Nat...

Por um presente inesperado do destino, tive de ir trabalhar no entorno do Parque Nacional Keng Krachan, o maior da Tailândia, com seus 291.500 hectares. E o maior problema deste Parque Nacional, muito bem implementado, diga-se de passagem, é que os elefantes que vivem no seu interior (estimados em 300) resolveram bagunçar a vida dos agricultores no entorno do Parque Nacional.

Preparamos a visita à área com cuidado, a começar pela escolha da cor do carro. Uma fêmea de elefante fora atropelada por uma Mitsubshi branca e como tem memória de elefante, ataca os carros brancos que por lá chegam. Como os recursos do projeto vêem dessa fábrica, escolhemos uma Mitsubshi vermelha e, por via das dúvidas, nunca usamos roupas brancas…Afinal nós éramos os amigos e não os inimigos que a machucaram.

Os elefantes estão preferindo atacar as roças dos pequenos fazendeiros no local para comerem banana e principalmente abacaxi, que para os mesmos é uma especiaria. Os técnicos e agricultores, entre risos marotos, até me fizeram experimentar, em uma fazenda invadida por 30 elefantes, no dia anterior à nossa visita, as bases das folhas dos abacaxis. Gostei, e o que a gente não faz para tentar entender e salvar aquela população de elefantes?

Como evitar que os paquidermes destruam as lavouras dos pequenos sitiantes ou fazendeiros foi nossa missão primeira, com relação ao entorno. Bem, verdade seja dita que muita coisa já vem sendo feita pelas ONGs: Thai Enveronmental Institute e pela Worldwild Conservation com recursos da Mitsubshi.

Várias ações tradicionais foram experimentadas para deter os bichos, como cercas elétricas, por exemplo. Acontece que os bichos são “smarts” (espertos), como gostam de dizer os técnicos do projeto, e colocam uma frente de choque para arrebentar a cerca e os demais passarem tranquilamente, ou descobrem entradas sem as cercas elétricas. Mudar os plantios para limão que eles não gostam, ou hot pepper com o título “ elephants hate chilli” que têm capsaicin, o princípio químico que dá o sabor ardido e que também é um efetivo e inofensivo biocida contra pestes em animais e pode afastá-los, são outras tentativas. Ressarcir os agricultores também, ou fazê-los entrar em um programa de ecoturismo, onde os turistas iriam apreciar os simpáticos animais no final do dia ou à noite, que é a hora predileta deles para se vingarem do que o homem vem fazendo no que seguramente eles consideram seu território.

Mas os elefantes não apreciam só os abacaxis e bananas. Gostam de brincar com as seringueiras plantadas, como se fossem brinquedos novos e interessantes e também causam danos. Além do mais há uma associação de mulheres que está fazendo papel dos estrumes dos elefantes. Até me deram amostras de presente. Para coletar os ditos cujos, elas forram o terreno com folhas de bananas picadas e dão água adocicada em grandes barris para os bonecos. Eles tomam a água, defecam e depois vão brincar com os barris, destruindo-os.

Êta serviçinho difícil este de tentar dar sugestões para afastar os elefantes e as aliás do entorno e fazê-los entender que têm de permanecer no Parque Nacional, que lá está para protegê-los, bem como aos tigres, aos bos silvestres, aos galos e galinhas silvestres, à anta bicolor branca e negra, ao leopardo, ao hornbird, etc.etc.

Eles são tão smarts, como se gabam os técnicos do projeto, muito mais que os seus semelhantes africanos e são o símbolo da Tailândia, assim sendo tem-se de entender que não se pode simplesmente e sem maiores estudos, abatê-los. Estou apostando mais na hotpepper, ainda mais em se tratando da Tailândia, que tem uma grande sabedoria a respeito de deixar-nos quentes com suas deliciosas pimentas.

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