Desde quando a Ministra do Meio Ambiente era uma simples senadora, algumas organizações não-governamentais (ONGs) sofreram perseguições inexplicáveis, quer seja pela sua história de vida ou pelo seu ilibado comportamento. A Fundação o Boticário de Proteção à Natureza teve de responder em Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), no Senado Federal, não obstante todo seu relevante trabalho para a conservação da natureza no Brasil e sua seriedade. A própria, então senadora, Marina Silva defendeu, com muita propriedade, a ONG e a CPI, como era de se esperar, não deu em nada e, nem poderia dar contra a Fundação o Boticário de Proteção à Natureza.
A entidade sofreu prejuízos morais e financeiros, que ninguém pode ressarcir, quer sejam com o pagamento de advogados, com viagens de seus dirigentes à Brasília, hotéis, horas de trabalho de seu pessoal e, além do mais e talvez mais grave, tenha sido o desgaste e o desânimo gerado, na ocasião, em quem só tem feito o bem para a área ambiental do país.
Agora quando se denunciam muitas ONGs, entre elas algumas que seguramente podem ter algumas irregularidades, cometem injustiças de publicar na mídia e se armam inquisições em CPIs, contra organizações que há muito vêm realizando trabalhos indiscutivelmente fundamentais e sérios de proteção à natureza. Este é o caso recente, por exemplo, da Coalizão Internacional da Vida Silvestre (IWC/ Brasil), que recebe, entre outros, apoio da Petrobras.
A estatal ainda apóia outros excelentes projetos como o TAMAR. Este apoio é antigo, mas agora se estampou nas primeiras páginas de vários jornais do Sul do país, que a IWC/Brasil é uma ONG que apresenta muitas irregularidades. Na verdade, não apresenta, mas seu nome já está manchado e tudo indica que seus dirigentes vão ter de enfrentar esta inquisição montada principalmente graças aos ciúmes de outras não-governamentais e aos interesses de alguns políticos e homens públicos de aparecerem na mídia.
A IWC/Brasil é acusada de pegar dinheiro da Petrobras e nunca ter feito nada pelas baleias; de não ter qualquer produção científica e de ser o projeto administrado por uma pessoa, sem qualquer qualificação e que esta mesma pessoa é a única existente na ONG. Ora, pelo amor de Deus, entrem no site da ONG e se informem de seus enormes trabalhos que vêm salvando e protegendo as baleias francas e outros mamíferos marinhos. Conheçam a história da entidade, de como surgiu, do que já fez e das pessoas de notório saber e ilibada reputação que dela participaram, ou ainda participam. Eu não vou repeti-la aqui, pois já falei muito dela em artigo recente publicado pelo O Eco intitulado “O espetáculo das baleias”.
No Paraná, devido à acusação de um deputado- Max Rosenmann, onde qualifica todas as ONGs que lutaram pela criação de unidades de conservação de floresta de araucária no Paraná e Santa Catarina de “uma quadrilha ambiental”, muitas não governamentais estão na berlinda. O deputado diz mais: que seus dirigentes buscavam enriquecimento pessoal e lá vão estas pessoas enfrentar uma audiência na Polícia Federal, representando as entidades: Mater Natura, WWF, a Rede Nacional pró Unidades de Conservação, a Apremavi e talvez tenham de ir também a TNC e a SPVS, no dia 27 deste mês.
A esperança reside na justiça e no trabalho, que costuma ser imparcial, da Polícia Federal. Estas entidades trabalham seriamente e seus dirigentes não devem nada a ninguém, mas isso às vezes não é suficiente, nos tempos em que estamos vivendo onde grassa a corrupção e os poucos honestos são confundidos com o descalabro que nos impõem os corruptos. O desgaste de quem ganha pouco e trabalha muito nestas ONGs será inevitável. Parece que quem faz e faz bem tem de pagar, ou está sempre atrapalhando alguém. Melhor seria não fazer, para aqueles inconseqüentes e levianos que acusam as ONGs, sem se dar ao trabalho de conhecer quem é quem na área ambiental.
Outra grande comoção que estão enfrentando as ONGs é a prisão da engenheira agrônoma Elma Romanó, ex-chefe do escritório regional do Instituto Ambiental do Paraná (IAP) em Ponta Grossa. Elma é conhecida dos ambientalistas que confiam no seu trabalho e acreditam que a prisão é decorrente de uma armadilha preparada pelos seus desafetos, pois ela vinha sistematicamente denunciando, como era imperativo no cargo que ocupava, os crimes ambientais praticados principalmente por madeireiros. O hábeas corpus de Elma foi negado pela Justiça. Ela tem 50 anos e trabalha há 30 anos como servidora pública, sem apresentar nenhum deslize em sua ficha funcional. Assim, quinze organizações ambientalistas estabeleceram um fórum permanente para ajudarem em sua defesa e para “lutarem contra a corrupção em órgãos ambientais do Paraná”. As entidades priorizaram a luta pela liberdade da servidora. Encabeça o movimento o advogado e ambientalista Vitório Sorotiuk, que acredita ter Elma sempre se pautado, em sua vida profissional, pela honestidade de conduta. Muitos ambientalistas têm afiançado que sua prisão foi arbitrária e equívoca.
Organizações não-governamentais vivem de sua credibilidade, pois como são sem fins lucrativos não podem “fazer dinheiro”. Vivem de doações de organismos nacionais ou internacionais, das ONGs de países ricos, de doações de pessoas físicas e de uma pequena, sempre pequena, taxa de administração de projetos que executam. Quem trabalha nessas organizações ambientalistas em geral o faz por amor à causa, porque crê que está ajudando à sociedade e que seu trabalho é importante para se salvar a vida silvestre ou a biodiversidade do planeta. Ganha pouco e trabalha muito e em geral tem o respeito de seus comparsas, de cientistas e de outras instituições afins. Colocá-las todas no mesmo patamar de alguns espertalhões que fazem tudo para tirar o dinheiro público, ou melhor, roubar do público, é uma enorme injustiça que vai prejudicar exatamente aquela mesma natureza que todos querem salvar, pelo menos no discurso.
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