Destruir é mais fácil que preservar. E más notícias aparecem mais do que as boas. Todo mundo sabe que restam pouco mais de 7% da área original da Mata Atlântica, mas só mesmo especialistas conseguem citar de cabeça projetos destinados a preservá-la e recuperá-la. O livro Quem faz o que pela Mata Atlântica, recém-lançado pelo Instituto Socioambiental (ISA), mostra que a trincheira dos defensores da natureza está mais povoada do que se imagina.
De 1990 a 2000, período abrangido pela pesquisa que resultou no livro, foram mapeados 747 projetos, executados por 489 instituições. Considerando que os formulários da pesquisa foram preenchidos e enviados espontaneamente pelas instituições, o número de projetos corresponde, felizmente, a apenas uma parcela do muito que se faz para salvar a Mata Atlântica. Mas é já uma parcela suficiente para se traçar o perfil do que é feito, como é feito e por quem é feito.
As ONGs são maioria, mas também entraram na análise projetos coordenados por órgãos públicos, institutos de pesquisa, empresas e até escolas. As experiências estão divididas em três categorias, de acordo com seu objetivo principal: conservação (61%), recuperação (18,3%) e uso sustentável (20,6%). Interessante é que, a partir de 1998, aumentou muito o número de atividades destinadas à exploração sustentável dos recursos naturais, o que coincide com a crescente popularização da “sustentabilidade” como solução ideal para o embate entre desenvolvimento econômico e preservação ambiental. Devagar com esse andor, dizem ambientalistas escolados, que o que a expressão tem de bonita e promissora, tem também de enganosa e difícil de implementar. Enquanto isso, projetos de recuperação das áreas degradadas mantiveram-se em números estáveis por toda a década. A conservação descreve linha ascendente no gráfico temporal apresentado pelo livro, o que significa cada vez mais iniciativas pela preservação do que ainda existe de Mata Atlântica.
A publicação é farta em tabelas, gráficos e mapas detalhados, que chegam a destacar os projetos por município. As linhas de ação são variadas: desde o apoio à gestão e à elaboração de planos de manejo em Parques Nacionais, até a proteção de espécies, o ecoturismo e a educação ambiental. Uma olhadela na lista ajuda a entender a quantidade de coisas diferentes que ainda precisam ser feitas para mudar, ou pelo manter, a situação da Mata Atlântica onde ela resiste.
Problemas não faltam. Nas respostas, aparecem em destaque a escassez de recursos financeiros (em 58% dos projetos) e humanos (21,7%), e também os obstáculos políticos, que atrapalham uma em cada quatro tentativas de preservar ou recuperar o meio ambiente.
O livro Quem faz o que pela Mata Atlântica foi produzido em parceria com a Rede de ONGs da Mata Atlântica (RMA, que reúne 250 entidades dos 17 estados onde há o ecossistema), com o Conselho Nacional da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica e com o WWF-Brasil. E vem com um bônus valioso: um CD-Rom com os dados da pesquisa e uma listagem de todas as instituições e projetos que participaram da pesquisa, membros da resistência que ajudou a manter viva a Mata Atlântica na última década.
Clicando aqui, você tem acesso à íntegra da publicação (em PDF). Mas para saber em detalhes quem é quem nessa história de sucesso, só mesmo no CD-Rom.
Leia também

Petroleiras aproveitam disputas entre indígenas e ocupam papel de Estado enquanto exploram territórios no Equador
Nos últimos 30 anos, as três empresas que operaram o bloco 10 adotaram estratégias para fragmentar as comunidades e torná-las dependentes de suas atividades. Mas organizações indígenas resistem a essa pressão →

Desmatamento em Unidades de Conservação cai 42,5% em 2024
Número é do Relatório Anual do Desmatamento no Brasil, feito pelo MapBiomas. Em Terras Indígenas, a redução foi de 24% no ano passado, em comparação com 2023 →

Deputado quer colocar parques nacionais de volta à lista de concessões do governo
Decreto legislativo tenta suspender norma que retirou 17 parques e duas florestas nacionais de programa de desestatização. Lençóis Maranhenses e Jericoacoara estão na lista →