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Parabéns e outras

De RodrigoPrezados amigos,Freqüentador d’O Eco desde o seu surgimento, tenho em sua leitura muito mais do que um dever profissional, uma dose diária de bom senso e informação qualificada. É óbvio que a rotina de uma atividade que se assemelha a um jornal diário e o amplo conjunto de colaboradores eventualmente façam com que surjam opiniões com as quais é difícil concordar, o que certamente também faz parte do desafio de produzir material em bases diárias e de oferecer a maior diversidade de opiniões possível em temas muitas vezes tão polêmicos como pode ser tudo que envolva meio ambiente neste país onde tantas urgências fazem dessa área algo virtualmente periférico, malgrado as infinitas urgências que ela também carrega.Sou consultor de meio ambiente há quase vinte anos, tendo trabalhando no licenciamento do asfaltamento da BR-163 entre Guarantã do Norte e Rurópolis, e lhes escrevo para apresentar os meus parabéns à brilhante série de reportagens produzida por Andréia Fanzeres acompanhando a equipe do Greenpeace na expedição que percorreu essa rodovia.Além do texto claro e objetivo, sem perder o encanto de uma visão sensível e refinada, a série revela com muita propriedade a tremenda encrenca que envolve a gestão dos recursos naturais na área de influência da BR-163 e que na verdade serve como uma síntese muito apropriada da situação de grandes áreas da Amazônia. Pareceu-me especialmente brilhante o texto denominado “Um país feio”, tanto pela abordagem integradora, capaz de revelar grandes traços da situação ambiental de amplas regiões do país, como pela propriedade de uma avaliação dessa condição a partir de uma análise apoiada na interpretação da paisagem.Recentemente tive a oportunidade de viver uma experiência semelhante, ao conhecer o Parque Indígena do Xingu em um vôo que partiu da cidade mato-grossense de Canarana, onde a soja também é o grande motor da economia. Deixo aqui a sugestão de que se faça uma reportagem sobre a delicada situação que o Parque vive atualmente. Representando uma das mais notáveis iniciativas já adotadas para a proteção das populações indígenas em todo o planeta, a preservação dessa ilha de verde cercada de soja e a manutenção das condições ambientais necessárias à perpetuação do modo de vida das populações que lá residem hoje depende da gestão das áreas de entorno de uma forma nunca vista ao longo dos 44 anos de história do Parque. Com grande parte de sua vida material e espiritual associada aos rios que cortam o Parque, os povos do Xingu observam a degradação das condições de seus principais rios, cujas nascentes, na sua grande maioria, se encontram fora dos limites do Parque, em áreas onde o desmatamento e a expansão das lavouras afetam diretamente a situação dos rios. O uso de agrotóxicos e o desrespeito às áreas de preservação permanente e de reserva legal, entre outros tantos fatores, estão influenciando de tal forma as condições dos recursos hídricos no interior do Parque que se não forem tomadas atitudes capazes de reverter esse quadro é possível que isso venha a afetar a perpetuação do modo de vida xinguano a médio e longo prazo. Desculpem o tamanho da mensagem.Grande abraço,

Redação ((o))eco ·
23 de agosto de 2005 · 20 anos atrás

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