Nestas eleições, é desanimador observar como nenhum candidato a cargo executivo aborda, em momento algum, temas fundamentais para o país, como a qualidade do meio ambiente, os problemas das grandes cidades e os índices demográficos. Infelizmente, os políticos brasileiros parecem não perceber a verdadeira dimensão desses assuntos. As questões ambientais não são dissociadas das questões econômicas e sociais. Pelo contrário, elas são suficientemente entremeadas para merecer, dos candidatos, um mínimo de atenção.
Parece óbvio que os políticos só se interessam por esses temas quando a população assim exige, o que – convenhamos – não se deve esperar do povo brasileiro… No entanto, aqueles que são realmente comprometidos com os interesses do país, ou dos estados, deveriam ter a determinação – e a coragem – para encarar essas questões. Mas, falta também cultura.
O Brasil, como todos sabem, sofre de sérios e crescentes problemas ambientais: a destruição acelerada de todos os seus biomas – e não apenas da Amazônia; a intensa ocupação do litoral com reflexos nos ecossistemas costeiros e no mar continental; aumento da poluição do ar nas cidades, comprometendo a saúde da população; um volume impressionante de resíduos sólidos perigosos (3 milhões de toneladas por ano) e a crescente participação nos níveis mundiais de gases do efeito estufa. Uma outra questão muito preocupante é a degradação de boa parte das bacias hidrográficas. Somada ao consumo excessivo e ao desperdício, ela torna o abastecimento de água um sério desafio em várias regiões.
As cidades brasileiras abrigam quase 82% da população, ou 153 milhões de pessoas. Em termos populacionais, São Paulo oscila entre a 3ª e a 4ª maior cidade do mundo e o Rio de Janeiro é a 19ª. Todas as capitais estaduais apresentam macroproblemas. Nesses centros, as questões sanitárias são realmente assustadoras, pela deficiência aguda de redes de esgoto e de indispensáveis estações de tratamento. Nos meios urbanos produz-se uma massa impressionante de lixo (mais de 240 mil toneladas de resíduos sólidos são produzidos diariamente no país) e praticamente inexistem tratamento e disposição adequados. A reciclagem, embora em alta, apresenta ainda taxas pouco animadoras. As cidades são também grandes geradoras de poluentes atmosféricos (gases e partículas) e funcionam como verdadeiros buracos negros que demandam uma quantidade espantosa de recursos. Muitos outros problemas atormentam os centros urbanos, mas tudo o que o Ministério das Cidades conseguiu fazer até agora foi incentivar – sequer tentou ordenar – a favelização galopante, frequentemente com o prestimoso auxílio das prefeituras (não é mesmo, prefeito César Maia?).
Uma dos fatos mais intrigantes – e assustadores – é que, para administradores públicos, parece que o Brasil não tem nenhum problema demográfico. O país cresce a 1,4% ao ano, ou quase 2,6 milhões de pessoas, um quantum que é superado apenas pelo de sete países do mundo, sendo somente um país do hemisfério ocidental (os EUA, cuja população absoluta cresce ligeiramente acima da nossa). O atual índice de crescimento populacional brasileiro é mais de 20% superior ao global, que é de 1,15% ao ano. Esses montantes ajudam a explicar as tensões existentes no campo e o crescimento caótico das cidades.
O aumento da população brasileira exige, dos governos, pesados investimentos em infra-estrutura. Isso, infelizmente, não acontece no ritmo desejado e, como os governos praticamente nada fazem em relação ao (ainda) exagerado crescimento demográfico e à migração interna, diversos outros indicadores nacionais de qualidade de vida continuam a ter desempenhos pífios no cenário internacional.
Se o Brasil deseja realmente ser considerado de primeiro mundo no que se refere a índices concretos de desenvolvimento humano – e não apenas a enganadoras estatísticas econômicas – terá que enfrentar, o quanto antes, esses grandes temas.
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