Tem sido uma constante a perspectiva de racionamentos de energia no Brasil a cada cinco ou seis anos. Se por um lado o perfil essencialmente hidrelétrico da nossa matriz contribui para baixas emissões de gases de efeito estufa, por outro a irregularidade de chuvas sempre ocorreu e suas consequências já deveriam ter sido assimiladas em um processo de prevenção e planejamento.
Em 2008, última vez em que a falta média de chuvas trouxe o índice dos reservatórios a níveis baixos, estávamos a salvo da falta de energia pela interligação do sistema, que possibilitou o envio de energia de uma ponta a outra do país. Desta vez, tivemos mais sorte. A desaceleração da economia reduziu o aumento da demanda de energia. Mesmo assim, problemas de atraso na operação de usinas e gargalos no sistema de transmissão contribuíram para que estivéssemos em situação crítica novamente.
Ainda que o racionamento não se concretize, a intensificação do uso das térmicas para segurar o nível dos reservatórios traz, além de óbvios efeitos colaterais ao meio ambiente, impactos à conta de luz.
Em 2008 a conta extra de combustíveis para termelétricas superou os R$ 2 bilhões. Desta vez, em apenas quatro meses, gastamos R$ 1,6 bilhões. Se o valor tivesse sido investido em energia eólica, seria possível instalar 450 MW.
No curto prazo, as alternativas emergenciais serão sempre mais caras e insensatas. Mas no longo prazo, vale refletir sobre as ações para evitar que o filme se repita.
O governo insiste em um modelo que pouco aproveita as vantagens de fontes renováveis de energia. Neste padrão, as hidrelétricas são complementadas pelas termelétricas, deixando em terceiro plano fontes mais limpas que teriam melhores condições econômicas de fazer esse papel. Pode-se argumentar que as eólicas vêm ganhando participação na matriz nacional, mas se a conexão de mais de 1.000 MW em parques eólicos não estivesse atrasada, estaríamos usando muito menos energia termelétrica.
E a energia solar, com seu potencial virtualmente infinito nos telhados de casas e edifícios, contribui com menos de um milésimo na energia produzida pelo país.
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No campo da biomassa, apenas 10% das usinas de etanol aproveitam o bagaço da cana para gerar energia para o país. Com isso, é desperdiçada uma quantidade de energia equivalente a 3 usinas de Belo Monte. E a energia solar, com seu potencial virtualmente infinito nos telhados de casas e edifícios, contribui com menos de um milésimo na energia produzida pelo país.
A julgar pelas medidas aventadas nas últimas semanas, o ritmo de, chamemos, avanços com retrocessos continuará. É possível que o modelo de leilões de energia seja revisto, de forma a contemplar a regionalidade de fontes de energia. Mas é certo que mais térmicas operarão regularmente no sistema, despejando mais CO2 na atmosfera e repassando a conta para todos os consumidores.
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