Comecemos por Carlos Drummond que, na década de 1980, desesperançado dizia em verso: “Não, não haverá para os ecossistemas aniquilados dia seguinte. O ranúnculo da esperança não brota no dia seguinte. A vida harmoniosa não se restaura no dia seguinte”. E mais adiante decretava “Muriqui, muriqui, tu estavas aqui bem antes do europeu, bem antes do progresso. Teu alegre saltar entre ramos e ventos vai ficando tão longe. Onde estás, muriqui? És apenas uma lembrança de um tempo que eu não vi.” Onde ele está, Drummond, nós temos pista.
Conservação: Do norte ou do sul, muriquis brasileiros
Marcos Sá Corrêa: Em terra de muriqui, boi não devia entrar
Em 2009, durante as comemorações dos 30 anos do Centro de Primatologia do Rio de Janeiro (CPRJ), uma constelação de estudiosos de primatas debateram estratégias de conservação. Entre eles, estavam Leandro Jerusalinsky, chefe do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Primatas Brasileiros (CPB/ICMBio), Denise Rambaldi, da Associação Mico Leão Dourado e atual vice-presidente do INEA, Alcides Pissinatti, atual diretor do CPRJ, Paula Breves, EcoAtlântica, e Adelmar Coimbra Filho, decano do CPRJ.
“..na escala evolutiva, o muriqui é o chimpanzé das Américas. Vive exclusivamente na Mata Atlântica.”
|
Lançado em 2011 ano pelo ICMBio, o Plano de Ação Nacional de Conservação dos Muriquis é composto por 10 metas e 54 ações de curto, médio e longo prazo. A primeira meta – quantificar a população remanescente de muriquis até 2015 – ainda não teve sua implementação confirmada no estado do Rio de Janeiro. Trata-se de um gargalo, pois desta meta dependem quase todas as outras. O próprio status de conservação depende de dados confiáveis. O desafio é alterar esse quadro.
A casa do Muriqui
Alcides Pissinatti diz que, na escala evolutiva, o muriqui é o chimpanzé das Américas. Vive exclusivamente na Mata Atlântica. São duas espécies, o muriqui-do-norte (Brachyteles hypoxanthus) que ocorre nos estados de Minas Gerais, Espírito Santo e sul da Bahia, e o muriqui-do-sul (Brachyteles arachnoides) que ocorre nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e parte do Paraná. Suas populações estão ameaçadas principalmente pela destruição e fragmentação do habitat, como também pela caça.
De hábito pacífico, raro entre primatas, não costuma competir diretamente por alimentos e fêmeas. Uma de suas características mais marcantes é o fato de gostarem de abraçar uns aos outros. Costumam se abraçar em grupo, pendurados pelas caudas, num grande abraço coletivo.
No estado do Rio de Janeiro ficaram acuados nas regiões serranas, últimos remanescentes da Mata Atlântica de difícil acesso. O muriqui é um dispersor natural de sementes. Sua conservação é estratégica, pois é considerado uma espécie guarda-chuva, isto é, sua preservação ajuda também à sobrevivência de outras espécies da fauna e da flora e, por tabela, de toda a Mata Atlântica.
Mascote das Olimpíadas de 2016
Assista ao vídeo da campanha
Daniel Toffoli é geógrafo e trabalha como analista ambiental do Parque Nacional da Tijuca / ICMBio. De outubro de 2009 até junho de 2011, foi gerente da diretoria de biodiversidade e áreas protegidas do INEA. |
Leia também
Área de infraestrutura quer em janeiro a licença para explodir Pedral do Lourenço
Indígenas, quilombolas, ribeirinhos, peixes endêmicos e ameaçados de extinção serão afetadas pela obra, ligada à hidrovia exportadora →
O longo ano que nos separa da COP 30
O futuro da nossa casa comum depende da habilidade de todos agirem com determinação e coragem, de forma que as promessas se traduzam em mudanças reais e significativas →
Garimpo já ocupa quase 14 mil hectares em Unidades de Conservação na Amazônia
Em 60 dias, atividade devastou o equivalente a 462 campos de futebol em áreas protegidas da Amazônia, mostra monitoramento do Greenpeace Brasil →
mascote lindo