Análises

Subindo o Kilimanjaro atrás das últimas neves (parte 2)

Chegar à "ilha no céu" é uma caminhada de dificuldade média, pontilhada por fauna e flora exuberantes e geleiras em retrocesso.

Fabio Olmos ·
15 de agosto de 2013 · 11 anos atrás
Amanhecer em Shira, com o Monte Meru ao longe. Foto: Fabio Olmos
Amanhecer em Shira, com o Monte Meru ao longe. Foto: Fabio Olmos

Continuação da parte 1

Acordei cedo na manhã seguinte, meu termômetro marcando 4°C dentro da barraca. O céu estava limpo e pude perceber os arredores, incluindo a vista do Monte Meru, o vulcão vizinho de 4.565 metros que explodiu 8 mil anos atrás numa erupção que vaporizou boa parte da montanha de maneira similar ao monte Santa Helena.

Com a luz de um nascer de sol radiante consegui observar melhor as aves que circulavam pelo acampamento. Grupos de Dusky Turtle Doves, famílias de White-napped Ravens, Streaked Seedeaters e Alpine Chats super mansos passeavam em meio às barracas procurando migalhas e o eventual almoço grátis. Aproveitando a deixa, tomamos nosso café da manhã em uma mesa ao ar livre e, após preparar as mochilas, caímos na trilha às 8h40, ainda com céu limpo e sol.

A trilha continua em aclive a partir de Shira e nosso objetivo era subir até Lava Tower (4.657 m) em uma caminhada de aclimatação e de lá prosseguir até Barranco Camp, a 3.976 m, onde passaríamos a noite. Conforme subimos a vegetação se torna mais aberta e rala, e as rochas e cascalho mais evidentes. Às 11h15, quando Genes e eu estávamos a 4.280 metros, começou a nevar e logo estávamos caminhando em uma paisagem totalmente branca onde seedeaters e chats apareciam de quando em quando.

Chegamos em Lava Tower sem problemas e paramos para lanchar junto ao monólito de lava que dá nome ao lugar. Outros excursionistas já estavam lá e outros se juntaram ao grupo que procurava abrigo sob uma rocha que formava um pequeno abrigo. Alguns reclamavam que suas roupas impermeáveis não eram tão impermeáveis assim….

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Barranco

De Lava Tower a trilha desce em um zig-zag até um estreito vale onde está Barranco. Dali podemos ver a famosa Barranco Wall, que precisa ser “escalaminhada” para chegar ao andar superior da montanha. O caminho da Lava Tower até Barranco e os arredores do acampamento cruza áreas completamente nuas, no estilo paisagem marciana, até as proximidades do acampamento.

Ali parece haver mais umidade e ocorrem alguns dos melhores trechos de Moorland que vi na viagem. Neste habitat crescem os famosos Dendroseneceio kilimanjari, parente das margaridas, é uma erva gigante encontrada apenas aqui e fazia parte da minha lista de desejos. De crescimento super lento e adaptada a viver em um ambiente extremo, onde frio e seca são constantes, essa planta fantástica, parente das margaridas, floresce a intervalos de 10-20 anos e vive por séculos.

O Moorland ali também tinha muitas lobélias em flor e alimentando-se nelas encontrei os primeiros (e únicos) Scarlet-tufted Sunbirds da viagem. Esse passarinho espetacular é uma especialidade desse habitat e estritamente associado aos senécios e lobélias gigantes. Como esta também era outra espécie da minha lista de desejos, ficamos um bom tempo observando esses bichos e a vegetação, que lembra nossos campos rupestres.

Chegamos ao acampamento às 15h15 e, para manter a tradição, uma bacia de água quente me esperava, assim como chá e pipocas servidos na mesa preparada junto à minha barraca. Enquanto descansava um pouco encontrei algumas das pessoas que havia conhecido nos dias anteriores, como terapeutas ocupacionais holandesas e uma legista norte-americana. Quando fui assinar o livro de registros do acampamento havia assinaturas de visitantes da França, Japão, Dinamarca, Holanda e Estados Unidos.

Aproveitei o fim da tarde para explorar o Moorland próximo e rapidamente fui recompensado ao encontrar um Slender Mongoose, o primeiro da espécie que observei e que me deixou intrigado com a cor amarelada. Também vi mais dos Four-striped Mice e um ratinho diferente que fotografei e ainda não identifiquei. Todos os roedores e algumas das aves, como os Chats e Seedeaters, parecem tirar proveito das inevitáveis migalhas deixadas pelos turistas, embora, para um habitante de uma cidade imunda como São Paulo, os acampamentos pareçam singularmente limpos.

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Nesse passeio observei melhor a vegetação e encontrei mais lobélias floridas sendo visitadas pelos sunbirds, incluindo um juvenil bem manso e tranquilo. O cenário em Barranco é espetacular, com o cume nevado do Kibo aparecendo atrás da parede que escalaríamos no dia seguinte e esse foi um dos pontos mais bonitos de toda a caminhada.

Para completar um ótimo dia o jantar foi uma suculenta sopa de batata seguida por arroz com carne e molho de legumes. No meu diário fiz a anotação: Julius is great. Depois do exame médico diário e dos lala salama (boa noite em swahili) fui para minha barraca.

Acordei pouco depois da meia noite com uma coruja cantando. Saí para ouvir melhor e reconheci a voz como uma Mackinder’s Eagle Owl, uma espécie que eu sempre quis observar. Rapidamente usei meu iPod e speaker para tocar uma gravação da espécie (o bom observador de aves viaja preparado) mas não tive resposta e voltei para meu saco de dormir.

Terceiro dia

No dia seguinte, o terceiro da excursão, acordei às 5h40, já com o dia claro. O sol aparecia por trás do Kibo, além da muralha que deveríamos escalar logo mais. Tudo parecia congelado fora da barraca, embora no interior a mínima tenha sido de aconchegantes 4°C.

Fiz minha passarinhada e sessão fotográfica matinal aproveitando a invasão do acampamento pelos passarinhos locais (hora do café da manhã!) e a bonita luz sobre o Moorland. Tomei meu café da manhã, desta vez com um pouco de café instantâneo para ajudar. Ontem comecei a tomar meio comprimido diário de Diamox para evitar os sintomas do mal de altitude e a recomendação médica realmente valeu. Não senti sintoma desagradável algum e estava sempre bem disposto.

Com tudo organizado e parte da equipe já disparando trilha acima rumo ao próximo acampamento, comecei a caminhar rumo à Barranco Wall. O objetivo hoje era subir a “muralha”e descer pelo outro lado até Karanga Camp (4.033 m), onde o almoço seria servido, e de lá caminhar até Barafu Camp (4.673 m). Barafu é o acampamento de onde é feita a caminhada final até o topo do Kibo, então a expectativa era grande.

A caminhada até a base da Barranco Wall foi rápida mas como toda a população do acampamento, talvez 150 pessoas, havia começado a caminhar mais ao menos na mesma hora logo me vi em um congestionamento.

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A subida da muralha é uma escalaminhada que requer momentos de tração nas quatro patas que alguns têm dificuldade em engatar (curioso como humanos esquecem suas origens primatas) e isso acaba atrasando o fluxo, embora cenas de pessoas que nunca devem ter subido em uma rocha possam ser hilárias. Os carregadores superam os obstáculos com a agilidade e rapidez e logo deixam os clientes, acompanhados pelos guias-líder (ou babás) para trás.

Esse trecho foi um dos que mais gostei de fazer e logo estava no alto fazendo fotos dos arredores, junto com Genes, antes de continuar, desta vez morro abaixo e depois por um pequeno planalto seguido de outra descida, esta para o vale onde está Karanga. Este trecho ainda é coberto por vegetação de Moorland, embora lobélias e senécios sejam bem mais raros, e boa parte da caminhada foi feita em meio à neblina. Ou nas nuvens.

Descendo a trilha íngreme que leva para Karanga escorreguei e torci meu pé direito entre duas pedras. Senti alguma coisa estalar e rapidamente tirei a bota e Genes fez um exame rápido. Nada quebrado, mas sofri uma torção. Tomei uma boa dose de paracetamol para evitar a dor, coloquei a bota o mais apertado possível e continuamos andando até o vale de Karanga, onde chegamos às 11:50, ainda no meio da neblina.

Deserto Alpino

Encontramos nossa barraca-cozinha armada e um almoço leve, de sopa e sanduíches prontos. Após algum descanso continuamos por um aclive leve montanha acima, gradualmente deixando o Moorland e entrando no deserto alpino, o habitat das partes mais elevadas da montanha. Ali uma ou outra planta cresce nas fendas entre as pedras e outros pontos abrigados das variações extremas de temperatura, do ar seco e da alta radiação ultra-violeta.

Apesar de ser hostil, este não é um ambiente estéril e, além das plantas esparsas, tanto tufos de capim como arbustos de everlasting, aqui e ali observei aranhas caçadoras e, uma vez, um Four-striped Mouse. De vez em quando, as nuvens se abriam e revelavam o cume nevado do Kibo, o que deu a oportunidade de fazer algumas fotos.

A caminhada pelo deserto, com um quê de paisagem marciana, acaba em um aclive de lava quebrada que dá acesso ao Barafu (neve) Camp. Antes de chegar a esse aclive vi vários Alpine Swifts e, de longe, a silhueta de uma grande ave que me deixou bem animado porquê deveria ser algo que eu procurava fazia muito tempo.

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Completei o trecho final caminhando com Genes, sempre atento por conta de meu pé torcido, e Laura, a divertida legista de Atlanta que conheci no caminho. Bem cansados, ainda demos boas risadas com histórias de infortúnios próprios e alheios antes de chegarmos à sede do serviço de parques e nos registrarmos às 17h25. Barafu está no sopé do aclive que leva ao Kibo e as barracas são instaladas em espaços entre as rochas nos pontos mais ou menos planos da encosta. Notei que as nossas já estavam armadas, incluindo a indefectível meditation room.

“Big Bird”

Foi aí que Genes disse “Lammergeier!” e saí correndo para ver um exemplar, o meu primeiro, dessa ave espetacular (sobre a qual já escrevi aqui). Um adulto voava sobre a área do acampamento e a paisagem meio marciana do vale mais além, onde o pico do Mawenzi se sobressaía. A visão era realmente espetacular, ainda mais com o Kibo logo ali ao lado.

Quando cheguei às nossas barracas fui recepcionado com a bacia de água quente e caneca de chá regulamentares. Após a higiene pessoal com lencinhos de limpar bebê (mandatórios onde não há muita água e banhos não rolam), o jantar e o check-up, incluindo o tornozelo torcido que começava a incomodar, Genes fez uma preleção sobre o que me esperava. Iríamos acordar às 23h00 para nos preparar e começar a caminhada rumo ao cume à meia-noite. Enquanto isso o clima começava a ficar mais hostil, com vento e neve.

Às 19h30 fui para a barraca, mas tive que sair uma hora depois para uma visita ao meditation room em meio a um vendaval, que a mantinha tombada em um ângulo de 45°. Isso tornou os procedimentos um tanto desconfortáveis. Na volta retirei uma boa camada de neve de cima da barraca, me ensaquei e dormi algumas horas.

Como planejado, acordei às 23h00 e comecei a me vestir e preparar meu equipamento fotográfico e lanternas para a subida. A temperatura no caminho até o Kibo comumente cai abaixo de -10°C e isso exige proteção adequada, embora não exagerada.

Genes, Habib e David também se prepararam para ir comigo. Com meu tornozelo doendo cada vez mais, Genes se preparou para o pior e recrutou os demais para me ajudar a descer da montanha caso minha roda travasse.

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Ataque ao cume

Saímos do acampamento às 00h30 do dia 19 de dezembro em meio ao vento e à neve que caía. A caminhada segue um aclive leve em meio a grandes rochas que rolaram da montanha e depois em zig-zag encosta acima. Tudo estava coberto de neve, mas a trilha estava marcada pelas poucas pegadas de quem havia nos precedido e bem visível sob a luz das lanternas.

Ao contrário dos outros dias, quando o início das caminhadas era marcado por muita gente na trilha, agora só havia nós três e, de vez em quando, um guia levando seu cliente solo ou um pequeno grupo de três ou quatro pessoas. Em meio à escuridão, a neve caindo e com o vento nos ouvidos e com o ritmo dos passos ditado pelo ritmo da respiração eu podia sentir como o ar rarefeito tornava tudo mais difícil e a falta de oxigênio causava uma sensação de embriaguez e euforia. Eu já conhecia essa reação de visitas aos Andes e sabia que devia administrá-la por que gente bêbada, seja por álcool ou falta de oxigênio, é um saco.

A caminhada para o topo do Kibo pode não ser longa em termos de distância, mas é demorada. Com o clima pouco acolhedor no início, pensei como é fácil para quem está em dificuldades começar a conversar com a montanha e pedir que ela seja menos mal-humorada. Montanhas em todo o mundo são sagradas ou consideradas a encarnação de divindades. É claro que as montanhas não têm uma consciência e muito menos se importam com seja lá qual criatura esteja subindo por seu flanco. Montanhas apenas são. Reflito que subir uma montanha tentando dialogar com ela e esperar uma resposta é uma faceta da relação entre nós e um universo indiferente, sem propósito, randômico e amoral, mas com o qual tentamos barganhar nossas vidas.
Um senhor de barba branca e seu guia passaram por nós, descendo. Para eles não haveria cume.

Chegamos ao alto do Kibo, no local chamado Stella Point, às 5h20. O sol começava a raiar e dali, acima das nuvens, do vento e da neve que caía mais abaixo, o show de cores e o pouco oxigênio causavam uma sensação absolutamente lisérgica. Montanhas realmente podem ser um grande barato. Preparei a câmera e passei a fotografar assim que comecei a ter luz suficiente. Uma imagem vale mil palavras e as fotos daquele amanhecer estão aí para que vocês tirem suas conclusões.

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Impressões lisérgicas e hipo-oxigenadas

O sol mostrou uma paisagem completamente coberta por neve, exceto nos pontos mais íngremes, e parte do cone de cinzas no interior da cratera onde há fumarolas vulcânicas. A trilha segue ao longo da borda da cratera Reusch e é possível ver o que resta das geleiras que antes cobriam todo o pico. O fato de minha visita ter acontecido quando tudo estava coberto de neve de certa forma maquiou o que acontece ali. Mas as geleiras, um bloco aqui, outro ali, mostravam em suas faces retas como estão, gradualmente, perdendo terreno.

Algumas horas depois, quando a neve derretesse ou sublimasse, restariam apenas as massas de gelo plano, onde as camadas de nevascas que chegam a mais de 10 mil anos no passado são nitidamente visíveis. E seria a vez delas começarem a derreter e sublimar.

Caminhamos ao longo da borda da cratera, com seu vasto interior e colunas de vapor sulfuroso de um lado e a encosta com a neve imaculada da noite anterior, um glaciar moribundo e nuvens até o infinito no outro. Aqui e ali parei para fotografar, consciente que minha memória não iria funcionar muito bem naquela altitude e precisaria de um back-up. A falta de oxigênio, apesar da aclimatação, realmente te afeta.

Chegamos a Uhuru Peak, o teórico ponto culminante do Kibo, onde uma placa dá as boas vindas a quem chega lá e é o ponto para fotos obrigatórias. Um grupo de japoneses estava fazendo exatamente isso, enquanto uma ou outra pessoa caminhava em nossa direção ou descia de volta ao acampamento. Para uma montanha que recebe tanta gente a muvuca estava bem tranquila no dia que a subi, o que certamente ajuda na sensação de paz no alto da montanha.

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Fizemos as fotos de praxe junto à placa e, duas horas depois de chegar ao topo do Kibo, começamos a caminhada montanha abaixo seguindo pela mesma trilha em zig-zag que havíamos subindo. O sol já começava a derreter a neve nas encostas mais baixas e o trânsito de pessoas havia demarcado uma trilha de solo negro. Foi aí que comecei a sentir meu tornozelo, torcido no dia anterior, e tive que caminhar bem mais devagar do que gostaria.

Pé deu cano na descida

Meus guias, nervosos, cogitaram em servirem de muletas humanas, mas um golpe de sorte me fez cruzar com outro excursionista que perguntou se eu estava com problemas e se apresentou como médico militar. Sofrendo do mal da altitude e não se sentindo bem, ele mesmo assim sacou uma bandagem de seu kit. Com meu tornozelo enfaixado, em minutos eu caminhava quase normalmente.
A chegada ao acampamento é precedida por um labirinto de rochas que rolaram do alto da montanha e que agora estavam totalmente sem neve e tostavam ao sol, assim como o acampamento, onde chegamos às 11h20. Fomos recebidos pelos outros membros da equipe, que me ofereceram uma Coca-Cola (muito bem vinda) para celebrar o êxito. E, após comer alguma coisa, apaguei em minha barraca. Poucas vezes me senti tão cansado e um cochilo de hora e meia foi muito bem-vindo.

Às 14h15 começamos a caminhar montanha abaixo rumo ao Mweka Camp. Essa rota cruza o deserto alpino, com uma paisagem de rochas e terra nuas com uma ou outra everlasting ou touceira de capim. Não havíamos avançado muito quando um grupo de carregadores passou transportando o guia de um grupo de sul-africanos que estava com fluido nos pulmões, uma das coisas que mata quando se está em altitudes elevadas. Eles transportavam o pobre em uma maca montada sobre uma roda de bicicleta e tentavam ir o mais rápido possível, mas tiveram que fazer uma parada para, com uso de duct tape, prenderem melhor o paciente (que parecia bem e consciente) na maca.

De volta as terras baixas

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A vegetação no caminho gradualmente se torna mais abundante, na sequência oposta à da subida (deserto alpino – moorlandheather). Encontramos bem menos senecios e lobélias e proteas nessa rota, e foi possível fotografar belos exemplares da última, além de observar os sunbirds se alimentando em suas flores.

Meu tornozelo realmente começou a doer e meu progresso foi lento. No final, chegamos em Mweka logo depois de escurecer, o que foi interessante porquê não tínhamos lanternas e tivemos que exercitar nossos bastonetes ao máximo. Nenhum stress quanto a isso por que tenho boa visão noturna. A chegada foi recebida com a tradicional bacia de água quente e uma toalha, seguidas pelo jantar. Confesso que estava tão cansado que não lembro o que comi antes de entrar em meu saco de dormir e apagar.

Esse foi o dia mais cansativo da viagem. Seria menos puxado se eu tivesse acrescentado outro dia e, assim, acampado na cratera (sim, é possível) e descido do Kibo direto para Mweka no dia seguinte.
Meu último dia no Kilimanjaro foi sem grandes novidades. Após o café da manhã fiz a tradicional distribuição das gorjetas (algo muito importante e que não deve ser esquecido) e toda a equipe cantou a tradicional canção (em swahili) dos que sobem o Kibo e retornam. E, logicamente, tiramos a foto do grupo. Memória de uma aventura que estará sempre comigo.

Com o pé doendo um pouco menos era possível caminhar quase normalmente e logo estávamos cruzando a floresta montana, com seus Podocarpus e Ocoteas enormes e ocasionais turacos e greenbuls. Quase na reta final cruzamos com um Black-and-white Colobus Colobus guereza. Esse deve ser um dos primatas mais extravagantes e eu queria muito ver um deles, pois sabia que são relativamente comuns no Kilimanjaro e no vizinho Meru. Meu desejo foi atendido.

A minha viagem ao Kilimanjaro chegou ao fim no posto do Parque Nacional em Mweka, onde as autoridades conferem que quem subiu desceu e dão aos que chegam a Uhuru, um certificado de “parabéns você chegou lá”. Dali, rumo a Arusha, de onde parti em outra excursão, desta vez para observar aves, ver a migração do Serengeti e encontrar outros bichos pelos quais a Tanzânia é famosa. Algum dia escreverei sobre isso.

 

Leia a primeira parte dessa reportagem

 

Autor deste blog, Fabio Olmos é biólogo e doutor em zoologia. Tem um pendor pela ornitologia e gosto pela relação entre ecologia, economia e antropologia. Seu último livro, sobre ecossistemas brasileiros e conservação, é Espécies e Ecossistemas.

 

 

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  • Fabio Olmos

    Biólogo, doutor em zoologia, observador de aves e viajante com gosto pela relação entre ecologia, história, economia e antropologia.

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Comentários 1

  1. Artigo muito rico em conteúdo e com uma coerência incrível. E essas fotos falam mais que mil palavras. Parabéns