O ambiente urbano também pode comportar uma variada riqueza de aves. Esse potencial depende de fatores envolvidos na distribuição e riqueza das aves, como conectividade da paisagem, grau de conservação das áreas naturais, cobertura vegetal, elementos da arborização urbana, disponibilidade de alimento e locais para nidificação — todos fatores que influenciam a ocupação de qualquer elemento da fauna no ambiente.
As alterações impostas sobre a natureza pela expansão urbana facilitam a abundância de aves mais generalistas, ao passo que aquelas espécies de aves mais seletivas na utilização de recursos ou do ambiente tendem a desaparecer ou se tornar raras. Bem-te-vis, sabiás e avoantes acabam sendo muito mais conhecidos e detectados pela população por ocorrerem em quantidades maiores que um sanhaço-papa-laranja ou um arredio-oliváceo, menos comuns, mas que estão e sempre estiveram no ambiente urbano.
Mas uma das razões para que essa riqueza passe despercebida aos nossos olhos é que ela é pouco estudada. Não há na cidade o mesmo apelo das pesquisas em áreas naturais mais conservadas, de espécies ameaçadas ou endêmicas.
Mas se quisermos conservar e melhorar a avifauna urbana, devemos manter também a variedade (heterogeneidade) de ambientes dentro das cidades, mantendo parques e bosques nativos, jardins com elementos da flora atrativos à avifauna (desde que não sejam exóticos). Aí está a chave para a manutenção desta riqueza.
O projeto Condomínio da Biodiversidade, idealizado pela SPVS mapeou na cidade de Curitiba mais de 900 áreas de vegetação nativa no município. Essas áreas, além de manter a diversidade biológica, provêm outros serviços ambientais, como regulação do microclima e proteção do solo e da água. Alie isto aos parques, bosques e praças da cidade e os pequenos jardins que cada um tem em casa e já começamos a explicar a diversidade ornitológica de Curitiba.
O livro Aves de Curitiba – Coletânea de Registros (2009) demonstrou que 366 espécies nativas ocorrem no município, incluindo 7 espécies introduzidas e já aclimatadas. Embora algumas aves que já foram características nestes locais, caso do caneleirinho-de-boné-preto (Piprites pileata), não sejam mais encontradas na região, a população ainda tem o “luxo” de observar pequenas revoadas de papagaios-do-peito-roxo (Amazona vinacea), cuiú-cuius (Pionopsita pileata), observar grimpeirinhos (Lepthastenura setaria) forrageando nos ramos de araucárias ou receber a visita ilustre de um pavó (Pyroderus scutatus), que aparece nas fruteiras de canelas (Ocotea spp.) e capororocas (Myrsine coriacea), árvores nativas da Floresta com Araucária.
Essas visitas também podem acontecer no nosso quintal. Este mês, chegando em casa (a meros 3 km do centro de Curitiba), minha filha de cinco anos, que já está familiarizada com os pássaros que nos visitam, me perguntou: “Pai, que passarinhão preto é aquele na árvore?”. Era um jacu (Penelope obscura), que atraído pelos frutos do butiá (Butia eriospatha), palmeira nativa da Floresta com Araucária, virou atração no pequeno bosque em frente de casa.
Mas isso não é exclusividade da capital Paranaense. É só pesquisar sobre a lista das aves de São Paulo para se deparar com uma riqueza notória e nem um pouco imaginada para a quarta maior metrópole do mundo.
E cada vez mais a atividade de birdwatching ganha simpatizantes e forma grupos de observadores pelo Brasil. Basta um jardim com plantas nativas ornitófilas, um binóculo e um pouco de disposição para observar a diversidade das aves na vizinhança.
Nicholas Kamiski é Biólogo, mestre em Engenharia Florestal e Técnico do ConBio. |
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