Análises

A liderança da América Latina e do Caribe na transição justa contra a crise climática

Como parlamentares, nossa missão é transformar compromissos internacionais em leis nacionais eficazes, aprovar orçamentos ambientais e fiscalizar o cumprimento dos acordos

Jaques Wagner ·
7 de agosto de 2025

Estamos diante de um momento histórico, um ponto de inflexão decisivo para o futuro do planeta e das próximas gerações. A II Cúpula Parlamentar de Mudança Climática e Transição Justa da América Latina e do Caribe, que acontece em Brasília nos dias 6 e 7 de agosto, é uma oportunidade ímpar para que nossos países assumam protagonismo na luta contra uma das maiores crises da humanidade: a crise climática.

Os eventos climáticos extremos têm se multiplicado, afetando sobretudo as comunidades mais vulneráveis e evidenciando a urgência de ações concretas e coordenadas. A América Latina e o Caribe, que abrigam 60% da biodiversidade mundial e florestas fundamentais para a regulação climática global, não podem ficar à margem dessa transformação.

O Brasil retomou seu protagonismo ambiental. Conseguimos reduzir o desmatamento da Amazônia em mais de 50% nos últimos dois anos e apresentamos uma das metas mais ambiciosas do mundo para reduzir emissões de gases de efeito estufa: 67% até 2035. Mas liderança real vai além dos números. Ela se fundamenta numa visão que coloca a vida no centro e reconhece que não há futuro sustentável sem justiça social.

A transição justa não é mera retórica nem conceito técnico. É um imperativo ético. Significa garantir que ninguém fique para trás nesse processo fundamental de transformação de nossas economias, em especial os trabalhadores de indústrias de alta emissão e comunidades vulneráveis. Significa também reconhecer o papel essencial de povos indígenas e comunidades tradicionais que, embora representem apenas 6% da população global, protegem 80% da biodiversidade remanescente, mas ainda recebem menos de 1% do financiamento climático.

Como parlamentares, nossa missão é transformar compromissos internacionais em leis nacionais eficazes, aprovar orçamentos ambientais e fiscalizar o cumprimento dos acordos. Temos a responsabilidade e a força da articulação interparlamentar para inovar, criar políticas que impulsionem energias renováveis, a proteção das florestas, a economia circular e os direitos das futuras gerações.

Mas nenhuma dessas ações será possível sem financiamento adequado. A meta global estabelecida de US$ 300 bilhões por ano até 2035 para os países em desenvolvimento é insuficiente diante da estimativa real, que chega a US$ 1,3 trilhão anuais. Os países mais ricos têm a obrigação moral e política de liderar e aumentar seus compromissos.

Devemos atuar como um “mutirão global”, como destacou o presidente da COP30, embaixador André Corrêa do Lago, em um esforço coletivo e solidário que reflita a urgência da crise e a necessidade de soluções compartilhadas.

Guiados pela luz do Cruzeiro do Sul, símbolo da nossa região, temos a oportunidade de consolidar a América Latina e o Caribe como protagonistas da transição justa global. Este é o tempo da ação efetiva, da superação da retórica vazia. A vida, a justiça e a sustentabilidade devem estar no centro de cada decisão.

Somos a geração que pode mudar o rumo da crise climática. Que possamos sair desta cúpula com uma agenda comum, metas claras e a coragem necessária para enfrentar os desafios.

O futuro de nossos povos e das futuras gerações depende da nossa liderança, e liderança não se declara, mas se conquista com ação. A América Latina e o Caribe têm tudo para protagonizar a transição justa global.

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