A arara-azul-de-lear é uma espécie endêmica da caatinga, e só ocorre no nordeste da Bahia. Com aproximadamente 1.300 animais em vida livre, já foi considerada criticamente ameaçada. Mas ela está ganhando uma nova chance de sobrevivência, resultado de programas em campo que a protegem no seu habitat. Essa virada é apoiada também por um esforço de reprodução em cativeiro, que conta com a participação de zoológicos.
Entre as principais ameaças a arara-azul-de-lear (Anodorhynchus leari) estão a destruição de hábitat e a captura para comércio ilegal. Seus principais dormitórios e áreas de nidificação conhecidos ficam nos municípios de Canudos e Jeremoabo. Esta espécie se alimenta principalmente de coquinhos da palmeira licuri (Syagrus coronata), cuja disponibilidade vem sendo reduzida pela atividade humana. As aves acabam atacando plantações de milho de subsistência e, por isso, com frequência acabam abatidas.
Os programas para protegê-la melhoraram seu status de conservação e, pela IUCN, ela passou da categoria Criticamente Ameaçada para Ameaçada. Este resultado foi alcançado graças a ações em campo nos dois principais dormitórios e áreas de nidificação, além de um programa de ressarcimento à população por prejuízos com suas plantações. Outras atividades importantes foram o desenvolvimento de um projeto de uso sustentável da palmeira licuri e a criação de alternativas de renda para a população local, ambos financiados pela Fundação Loro Parque.
Clique para ampliar | |||
Papel dos programas em cativeiro
O CEMAVE (Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Aves Silvestres), do ICMBio, coordena o Plano de Ação Nacional para a Recuperação da Arara-Azul-de-Lear, que inclui o programa de reprodução em cativeiro. Os zoos são parte importante do programa de reprodução. Ao todo, há dez zoos envolvidos, cinco no Brasil e cinco no exterior.
O objetivo dos programas de reprodução costuma ser gerar uma população de segurança, manejada de forma genética e demograficamente sustentável e que possa ser utilizada caso sejam necessárias reintroduções ou suplementações, além de desenvolver e testar protocolos de manejo e metodologias de reabilitação e soltura.
Recentemente, o Parque das Aves foi convidado a integrar o programa. Temos sucesso reprodutivo com 17 espécies de psitacídeos, cinco delas ameaçadas. Até agora, o Zoo de São Paulo é a única instituição brasileira a ter sucesso reprodutivo com a arara-azul-de-lear. Ele investiu em um centro específico para a reprodução de espécies ameaçadas, o CECFAU, inaugurado em junho de 2015.
Entretanto, no mundo, é a Fundação Loro Parque, que fica em Tenerife, Espanha, a instituição que mais obteve sucesso em reproduzir a espécie. Parceiros de longa data do governo brasileiro, tanto no programa da ararinha-azul quanto no da arara-azul-de-lear. Em 2006, eles receberam do Brasil dois casais desta espécie e o desafio de reproduzi-las. Naquela época, havia apenas 43 animais no programa de reprodução, nenhum reproduzido no Brasil. Sete meses após a transferências, nasciam as primeiras araras-azuis-de-lear em Tenerife e, passados dez anos, elas já somam 36 animais, um sucesso reprodutivo sem precedentes. É importante mencionar que através de acordos de empréstimo todos os animais na Loro Parque pertencem ao Governo Brasileiro e estão à disposição do programa.
No total, hoje, o programa de reprodução em cativeiro da espécie já conta com125 animais.
Na quinta-feira passada, 25/2, ocorreu a maior repatriação da espécie já feita: a Loro Parque enviou ao Brasil 9 araras-azuis-de-lear nascidas em Tenerife. Elas passarão por um período de quarentena obrigatório nas instalações do Ministério da Agricultura, em Cananéia, e depois seguem para o Parque das Aves, em Foz do Iguaçu, onde começará um novo esforço de reprodução.
A primeira repatriação de uma arara-azul-de-lear nascida fora do Brasil também foi feita pela Loro Parque, em 2010.
As fotos abaixo mostram a chegada das Araras no Brasil. Fotos: Yara Barros e Juan Villaba-Macias
Clique para ampliar | |||
Burocracia e impostos
As aves tiveram uma chegada complicada ao país. Foram cinco horas entre a aterrisagem do voo vindo da Espanha e a liberação dos animais no Aeroporto de Guarulhos, em São Paulo. Tanto o IBAMA quanto o Ministério da Agricultura foram ágeis e eficientes, mas o pessoal do aeroporto simplesmente não entendeu a fragilidade e os riscos que corre uma carga viva, no caso, uma espécie ameaçada.
As aves chegaram à noite, o que tornou difícil pagar na hora o ICMS da importação e fez com que o aeroporto não quisesse liberar os animais. Quando eu argumentava que as aves já estavam viajando há mais de 30 horas e que poderiam morrer, não havia qualquer reação. Pelo que soube, este é um problema recorrente: a falta de cuidado e prioridade com cargas vivas. Já é absurdo pagarmos ICMS sobre a importação de aves sem valor comercial, integrantes de um programa de reprodução do governo. Mas, enfim…
Após longas horas, as araras foram liberadas. Outras quatro horas de estradas se seguiram até serem entregues em Cananeia, no quarentenário oficial do Ministério da Agricultura, onde permanecerão por 15 dias.
Uma das coisas bacanas do trabalho dos zoos e aquários é que eles podem atuar de forma abrangente, tanto no desenvolvimento de técnicas de reprodução e manejo de espécies criticamente ameaçadas, quanto na conscientização de seu público. Zoos e aquários recebem cerca de 700 milhões de visitas por ano no mundo todo. Por fim, zoos também ajudam no financiamento de ações de conservação in situ.
As novas moradoras coloridas e emplumadas chegaram. Agora, é a vez do Parque das Aves conseguir reproduzi-las!
Leia também
Leia também
O retorno das ararinhas bahianas
As araras-azuis-de-lear têm uma população pequena, com menos de 1000 animais. Mas o sucesso da conservação parecer mudar estes número. →
Filhote de arara paulistana quer voltar para a Caatinga
O primeiro filhote de arara-azul-de-lear a nascer em cativeiro na América do Sul traz esperanças para a conservação da espécie. →
Para que serve o Instituto Chico Mendes?
Entenda neste guia ((o))eco, os objetivos deste órgão ambiental responsável pelo gerenciamento das unidades de conservação federais. →
Lindos!!! Seres Supremos!!! Almas Livres!!!
Pois é, APESAR do governo. É criminoso que barnabés que são pagos para servir à sociedade façam um papelão desses. E como disse a Sofia, apesar de fazer porra alguma o governo ainda irá colocar isso como super realização sua.
Enquanto isso, o proposto Parque Nacional do Boqueirão da Onça, o melhor lugar p/ reintroduzir as araras, continua apenas uma proposta longe das prioridades deste governo tão preocupado com o futuro.
Icms, mas que país dificil……em srs políticos.
Parabéns ao Parque das Aves e Loro Park, e muito sucesso ao programa!!!!! Como bem disse o Truta " APESAR deste governo" …que mais uma vez não ajudou em nada nesta repatriação, e certamente dificultou os trâmites burocráticos!!! Este ICMBio/Cemave agora irá se vangloriar com o esforço das outras Instituições, sem ter feito nada!!! Boa sorte!
ICMBio vai acabar assim que trocar o governo…podem escrever
Mais um excelente programa de conservação que deslancha APESAR do governo… parabéns ao Parque das Aves por mais essa contribuição vital à salvaguarda da biodiversidade brasileira!
O que o icmbio gasta com reunião disso e daquilo dava pra salvar até o tiranossauro rex de volta