Análises

Dos Andes à Amazônia: Uma rede latino-americana de trilhas?

Enquanto Brasil, Bolívia e outros países sul-americanos desenvolvem seus sistemas de trilhas de longo curso, surge o sonho coletivo de um percurso transfronteiriço que os conecte

Cesar Aspiazu ·
15 de junho de 2021 · 3 anos atrás

As trilhas de longo curso são um fenômeno recente na América do Sul, mas na história do continente sul-americano já houve caminhos de mais de 30.000 quilômetros, como o Qhapaq Ñan, (caminhos incas, em tradução livre do Quechua). A extensão destes caminhos percorria desde o que hoje é o sul da Colômbia até o norte do Chile e Argentina, passando pelo Equador, Peru e Bolívia. Entre a costa brasileira e o oceano Pacífico também estendiam-se os caminhos do Peabiru, que conectava o Brasil, Paraguai, Bolívia e Peru por caminhos utilizados pelos povos indígenas.

Atualmente há trilhas de longo curso em todos esses países e busca-se recuperar esses caminhos históricos. Na Bolívia, a Red de Senderos (RBS) começa a restaurar e implementar novos caminhos. Começamos a pensar no sonho de “uma rede latino-americana de trilhas”.

Imagine caminhar pelo continente inteiro, subir e descer entre as montanhas e rios dos Andes até a Amazônia, do Oceano Pacífico ao Atlântico. Conectar paisagens, culturas e pessoas. No contexto regional, há experiências de Trilhas de Longo Curso (TLCs) em vários países latino-americanos, como a Huella Andina, na Argentina, a própria Red Boliviana de Senderos, o Sendero de Chile, o Qhapaq Ñan, no Peru e a Rede Brasileira de Trilhas.

As diferenças culturais e geográficas trazem desafios diferentes, mas a motivação e a força do movimento de voluntárias e voluntários no seu engajamento pela conservação da natureza, inspira a dar continuidade a esse sonho, de ver as culturas e a natureza conectadas.

Placa mostra a sinalização oficial da trilha, que segue o mesmo padrão da Rede Brasileira de Trilhas. Foto: Cesar Aspiazu

A rede boliviana e a brasileira se desenvolvem sob o mesmo sistema de sinalização e diretrizes similares, com o projeto a longo prazo de fortalecer a integração regional das trilhas e a conectividade das áreas protegidas. A RBS adota o mesmo sistema de sinalização que a Rede Brasileira, busca-se utilizar as pegadas como instrumento de educação e sensibilização para a conservação da biodiversidade, trazendo espécies de animais e plantas nas mesmas.

O manual de sinalização de trilhas, já disponível em espanhol (acesse aqui), é um dos passos para esse sonho. A tradução foi feita em parceria entre o sistema brasileiro e o boliviano e já repercutiu no Sendero de Chile, no Equador, na Costa Rica e na própria World Trails Network.

Acreditamos que caminhando pelas paisagens conhecemos a natureza e conservamos a biodiversidade, além de gerar oportunidades de desenvolvimento sustentável para as comunidades envolvidas. O lema é “Conhecer para Conservar”, como é apontado por Pedro da Cunha e Menezes, um dos idealizadores do sistema brasileiro.

Saiba mais sobre a Red Boliviana de Senderos e como você pode somar nesse movimento de construção de uma rede latino-americana na live, realizada no começo de junho, pela Rede Brasileira de Trilhas em parceria com ((o))eco.

*Cesar Aspiazu é pesquisador, coordenador da Red Boliviana de Senderos e voluntário da Rede Brasileira de Trilhas

As opiniões e informações publicadas nas seções de colunas e análises são de responsabilidade de seus autores e não necessariamente representam a opinião do site ((o))eco. Buscamos nestes espaços garantir um debate diverso e frutífero sobre conservação ambiental.

  • Cesar Aspiazu

    Pesquisador, coordenador da Red Boliviana de Senderos e voluntário da Rede Brasileira de Trilhas

Leia também

Colunas
12 de março de 2014

Conhecer para conservar: transformando usuários em aliados (parte 2)

Parques nacionais, estaduais e municipais são categorias de áreas protegidas destinadas a reconectar seus visitantes com a natureza.

Análises
25 de abril de 2024

Escazú não é prioridade? 

Escazú chega à terceira COP sem que o Brasil o tenha ratificado. Delegação brasileira conta com ampla participação da sociedade civil, mas ausência de alto escalão grita

Notícias
24 de abril de 2024

Na abertura do Acampamento Terra Livre, indígenas divulgam carta de reivindicações

Endereçado aos Três Poderes, documento assinado pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) e organizações regionais cita 25 “exigências e urgências” do movimento

Mais de ((o))eco

Deixe uma resposta

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.