As trilhas de longo curso são um fenômeno recente na América do Sul, mas na história do continente sul-americano já houve caminhos de mais de 30.000 quilômetros, como o Qhapaq Ñan, (caminhos incas, em tradução livre do Quechua). A extensão destes caminhos percorria desde o que hoje é o sul da Colômbia até o norte do Chile e Argentina, passando pelo Equador, Peru e Bolívia. Entre a costa brasileira e o oceano Pacífico também estendiam-se os caminhos do Peabiru, que conectava o Brasil, Paraguai, Bolívia e Peru por caminhos utilizados pelos povos indígenas.
Atualmente há trilhas de longo curso em todos esses países e busca-se recuperar esses caminhos históricos. Na Bolívia, a Red de Senderos (RBS) começa a restaurar e implementar novos caminhos. Começamos a pensar no sonho de “uma rede latino-americana de trilhas”.
Imagine caminhar pelo continente inteiro, subir e descer entre as montanhas e rios dos Andes até a Amazônia, do Oceano Pacífico ao Atlântico. Conectar paisagens, culturas e pessoas. No contexto regional, há experiências de Trilhas de Longo Curso (TLCs) em vários países latino-americanos, como a Huella Andina, na Argentina, a própria Red Boliviana de Senderos, o Sendero de Chile, o Qhapaq Ñan, no Peru e a Rede Brasileira de Trilhas.
As diferenças culturais e geográficas trazem desafios diferentes, mas a motivação e a força do movimento de voluntárias e voluntários no seu engajamento pela conservação da natureza, inspira a dar continuidade a esse sonho, de ver as culturas e a natureza conectadas.

A rede boliviana e a brasileira se desenvolvem sob o mesmo sistema de sinalização e diretrizes similares, com o projeto a longo prazo de fortalecer a integração regional das trilhas e a conectividade das áreas protegidas. A RBS adota o mesmo sistema de sinalização que a Rede Brasileira, busca-se utilizar as pegadas como instrumento de educação e sensibilização para a conservação da biodiversidade, trazendo espécies de animais e plantas nas mesmas.
O manual de sinalização de trilhas, já disponível em espanhol (acesse aqui), é um dos passos para esse sonho. A tradução foi feita em parceria entre o sistema brasileiro e o boliviano e já repercutiu no Sendero de Chile, no Equador, na Costa Rica e na própria World Trails Network.
Acreditamos que caminhando pelas paisagens conhecemos a natureza e conservamos a biodiversidade, além de gerar oportunidades de desenvolvimento sustentável para as comunidades envolvidas. O lema é “Conhecer para Conservar”, como é apontado por Pedro da Cunha e Menezes, um dos idealizadores do sistema brasileiro.
Saiba mais sobre a Red Boliviana de Senderos e como você pode somar nesse movimento de construção de uma rede latino-americana na live, realizada no começo de junho, pela Rede Brasileira de Trilhas em parceria com ((o))eco.
*Cesar Aspiazu é pesquisador, coordenador da Red Boliviana de Senderos e voluntário da Rede Brasileira de Trilhas
As opiniões e informações publicadas nas seções de colunas e análises são de responsabilidade de seus autores e não necessariamente representam a opinião do site ((o))eco. Buscamos nestes espaços garantir um debate diverso e frutífero sobre conservação ambiental.
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