Florestas, campos, várzeas e demais ecossistemas naturais são verdadeiras fábricas essenciais para o desenvolvimento humano e territorial. São elas que produzem, diariamente, água limpa, ar puro, regulação climática, sequestro de carbono e outros serviços ambientais fundamentais, usufruídos por toda a sociedade. Esses ambientes formam a base da segurança econômica, social e climática — e, por isso, devem ser reconhecidos e valorizados como áreas produtivas.
Mais do que nunca, é necessário internalizar que a natureza é nossa principal tecnologia e a maior aliada no enfrentamento das mudanças climáticas. No entanto, para garantir um desenvolvimento pleno e a verdadeira resiliência frente a esse desafio global, é urgente uma atuação mais ampla, sistêmica e integrada ao território.
Sociedade civil, poder público e setor privado precisam compreender que a natureza não respeita fronteiras administrativas e está presente de forma interdependente no cotidiano de todos nós. É preciso inovar na gestão e propor modelos mais ousados, que considerem a vocação dos territórios e promovam soluções que conciliem conservação com prosperidade — especialmente, em regiões estratégicas como a Grande Reserva Mata Atlântica, um dos maiores remanescentes contínuos do bioma, com papel crucial para a segurança hídrica, climática e ecológica do sul e sudeste do Brasil.
No estado do Paraná, por exemplo, a SPVS (Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental) atua diretamente na implementação de ações voltadas ao fortalecimento da gestão territorial, por meio de um contrato estabelecido com a Sanepar. Esse trabalho tem foco na região paranaense da Grande Reserva Mata Atlântica e na área de atuação do Programa Condomínio da Biodiversidade, promovendo a proteção dos mananciais e a conservação dos ecossistemas estratégicos para a qualidade de vida de milhões de pessoas.

Um bom exemplo dessa urgência está no leste do estado. A região abriga um continuum de ambientes naturais de enorme relevância para a segurança climática, incluindo vastas áreas de Mata Atlântica e ecossistemas associados — serras, manguezais, florestas e campos. Essa paisagem natural conecta-se diretamente à metrópole de Curitiba e seus cerca de 3 milhões de habitantes, além de influenciar toda a dinâmica socioambiental do litoral paranaense.
O território carrega vocação para um desenvolvimento inovador e disruptivo, baseado na gestão territorial integrada e em soluções que valorizem os ativos naturais locais. Para isso, é preciso romper com a visão ultrapassada de que apenas o crescimento econômico imediato importa e reconhecer o valor estratégico da conservação na provisão de água, segurança hídrica, equilíbrio climático e bem-estar coletivo.
Essa não é uma ideia nova — e exemplos bem-sucedidos reforçam sua eficácia. Um dos casos mais emblemáticos é o de Nova York, que desde a década de 1980 realiza ações de conservação nos mananciais localizados a cerca de 200 km da cidade. Com essa estratégia, a água que abastece mais de 8 milhões de pessoas não precisa de tratamento convencional, sendo apenas clorada e fluoretada antes da distribuição. Isso gera economia para a empresa de abastecimento, qualidade para o consumidor e múltiplos benefícios à biodiversidade, ao clima e à sociedade.
No Paraná, merece destaque a atuação da Sanepar na proteção dos mananciais que abastecem Curitiba e em relação à necessidade de uma gestão territorial integrada. Trata-se de um passo importante rumo à consolidação de uma nova visão de desenvolvimento, capaz de produzir futuro com equilíbrio e inteligência. A companhia demonstra preocupação com o assunto não somente em Curitiba, mas em todos os municípios do estado onde atua, uma vez que o assunto é prerrogativa da Política de Sustentabilidade da Sanepar.
O caminho ainda é longo. Mas é, justamente, pela sua complexidade que ele precisa ser percorrido com ambição, visão estratégica e compromisso coletivo. Investir em natureza é investir em segurança, estabilidade e vida.
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