Notícias

Onda de apoio a Marina Silva após ataques sofridos no Senado une ministras, governadoras e sociedade civil

Ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima foi alvo de violência política e de gênero durante audiência de comissão

Cristiane Prizibisczki ·
28 de maio de 2025

Os ataques sofridos nesta terça-feira (27) por Marina Silva em audiência no Senado provocaram uma onda de manifestações de diferentes segmentos da sociedade, que saíram em sua defesa. O presidente Lula, diversos outros membros do governo e políticos, assim como organizações da sociedade civil repudiaram o comportamento dos senadores.

Após a discussão que acabou fazendo a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima deixar a reunião, Lula ligou para Marina prestando solidariedade. Segundo interlocutores do governo, o presidente afirmou a ela ter se sentido melhor depois da decisão de se retirar da comissão. Nas palavras de Lula no telefonema, a ministra tomou a “atitude correta”.

A primeira-dama, Janja da Silva, e o líder do governo no Senado, Jaques Wagner, também ligaram para Marina.

Diversos outros políticos se manifestaram em suas redes, entre eles as senadoras Leila Barros (PDT-DF), líder da bancada feminina da Casa, e Eliziane Gama (PSD-MA), que estava presente à sessão e reagiu imediatamente ao ouvir o presidente da Comissão, Marcos Rogério (PL-RO), dizer a Marina “se ponha no seu lugar”. 

As ministras da Cultura, Margareth Menezes; dos Direitos Humanos e Cidadania, Macaé Evaristo; das Mulheres, Márcia Lopes; da Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos; da Igualdade Racial, Anielle Franco; da Gestão, Esther Dweck; do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet; da Secretaria de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, e dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara, também repudiaram os ataques sofridos pela correligionária. Para Guajajara, “o que aconteceu no Senado é um ataque à figura de Marina, enquanto mulher, ministra e defensora do meio ambiente”. As governadoras de Pernambuco, Raquel Lyra (PSD) e do Rio Grande do Norte, Fátima Bezerra (PT) foram outras defensoras da comandante da pasta do Meio Ambiente em posicionamento público.

Ana Toni, CEO da COP 30, disse que “uma história de resiliência e generosidade merece o respeito de todos nós. Nenhum ato de machismo, misoginia e violência política deve ser tolerado”.

O Observatório do Clima repudiou os ataques e os classificou como “covardia e ódio contra uma mulher”. “O OC, rede com 133 organizações, repudia qualquer ato de machismo e violência política e espera que os senadores sejam punidos”.

O Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPÊ) externou, nas redes “todo apoio à ministra e toda indignação e repúdio aos senadores envolvidos em tamanho desrespeito”. “Marina exerce sua função com muita responsabilidade, digna de estar nesta posição e em outras […] fazendo a diferença para a conservação do meio ambiente no Brasil e proteção de populações tradicionais”.

Hashtag #MarinaMereceRespeito foi impulsionada por ativistas depois do episódio envolvendo a ministra. Foto: Reprodução / X

Entenda o que aconteceu

Marina Silva foi ao Senado participar de uma audiência da Comissão de Infraestrutura para falar da criação de unidades de conservação marinha em estados do norte do País. 

O convite partiu do senador Lucas Barreto (PSD-AP). Defensor da exploração de petróleo na Foz do Amazonas, o parlamentar teme que a instituição das áreas protegidas impossibilite a prospecção na Margem Equatorial em seu estado.

A audiência foi marcada por vários momentos de tensão e ataques. 

Um dos embates foi com o senador Omar Aziz (PSD-AM), que culpou a ministra pela aprovação do projeto que desmonta as regras do licenciamento ambiental no Brasil, aprovada pelo Senado na útima semana.

“A culpa da lei aprovada é da senhora”, disse. “Cada um que votou aqui que assuma sua própria responsabilidade”, rebateu Marina. 

Os dois também trocaram acusações sobre o atraso da reconstrução da BR-319, que ligaria Manaus a Porto Velho. A estrada tem 918 km de extensão – desses, 885 km cortam a Floresta Amazônica. Pesquisadores temem que a pavimentação – que pode ser ampliada caso o projeto-bomba do licenciamento aprovado no Senado vire lei – facilite o desmatamento ilegal da região.

Marina Silva também teve que enfrentar ataques do senador Marcos Rogério (PL-RO). Ao rebater uma fala do parlamentar, que estava presidindo a audiência, Marina foi criticada e respondeu que ela não era “uma mulher submissa”. A escalada de tensão aumentou, e Rogério mandou a ministra se “por no seu lugar”.

O estopim foi um ataque vindo do senador Plínio Valério (PSDB-AM) que, ao iniciar sua fala, disse que “a mulher merece respeito, a ministra não”. Marina exigiu, então, um pedido de desculpas e, como não foi atendida, retirou-se da audiência. Na situação, Marina lembrou que Valério disse, em março passado, ter vontade de “enforcar” a ministra. 

“Sou ministra do Meio Ambiente, foi nessa condição que eu fui convidada e ouvir um senador dizer que não me respeita como ministra, eu não poderia ter outra atitude”, disse Marina Silva em coletiva após a audiência.

  • Cristiane Prizibisczki

    Jornalista com quase 20 anos de experiência na cobertura de temas como conservação, biodiversidade, política ambiental e mudanças climáticas. Já escreveu para UOL, Editora Abril, Editora Globo e Ecosystem Marketplace e desde 2006 colabora com ((o))eco. Adora ser a voz dos bichos e das plantas.

Leia também

Notícias
27 de maio de 2025

Em audiência tensa no Senado, PL-bomba e Foz do Amazonas dominam a pauta

Ministra do Meio Ambiente Marina Silva deixa sessão da Comissão de Infraestrutura após discussão ríspida com parlamentares

Notícias
22 de maio de 2025

Governo, ongs e sociedade civil se manifestam contra aprovação do PL do Licenciamento

"Retrocesso sem precedentes" é a definição que autoridades e especialistas em meio ambiente e clima usaram em relação ao projeto votado pelos senadores

Vídeos
31 de agosto de 2022

“Mais que uma mudança de governo, a gente precisa de uma mudança de realidade”, diz Marina Silva

Em entrevista a ((o))eco, a ex-ministra do Meio Ambiente e candidata a deputada federal pelo Rede falou sobre o voto a importância de candidaturas comprometidas com a causa ambiental para o parlamento

Mais de ((o))eco

Deixe uma resposta

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.