Em tempos de distanciamento, o desejo de estar junto, de se aproximar e de se conectar se torna mais evidente para nós Homo sapiens. Porém, para as outras espécies, um mundo desconectado e fragmentado se tornou a regra do Antropoceno, quando nossa espécie transformou o planeta numa verdadeira colcha de retalhos. Ao conectar a humanidade, desconectamos toda a superfície terrestre e os seus habitantes. Iniciativas de reverter este cenário, promovendo a regeneração de ambientes e a conexão de habitat e paisagens, se propõem a ir além de criar áreas protegidas e de conter o desmatamento nesta que é a Década da Restauração dos Ecossistemas.
Uma dessas iniciativas é um antigo sonho para a conservação da biodiversidade na tríplice fronteira entre o Paraguai, a Argentina e o Brasil: o Corredor de Biodiversidade do Rio Paraná e o Corredor Trinacional. No último dia 30 de abril, representantes de grupos de ciclistas, de municípios e consórcios do Paraná e do Mato Grosso do Sul, da Itaipu Binacional, do Imasul, do ICMBio, do Pacto pela Restauração da Mata Atlântica, da Federação Paranaense de Montanhismo do Brasil, do
Macucu Safari, Agência de Desenvolvimento Turístico da Região Cataratas do Iguaçu, gestores de Trilhas de Longo Curso que estão sendo implementadas em todo o Brasil, além do WWF Brasil e do Mater Natura, reuniram-se virtualmente para a realização do Módulo I da oficina “Trilhas de Longo Curso e o Ecoturismo como oportunidade de restauração de áreas e conexão de paisagens”. A oficina faz parte do projeto para construção do “Plano de Restauração da Mata Atlântica na Ecorregião do Alto Paraná” e teve como objetivo trazer experiências nacionais e locais de trilhas de longo curso como estratégia para a conexão da paisagem e para a restauração deste bioma.
Neste corredor está a Rota dos Pioneiros. Uma trilha de longo curso pertencente à Rede Brasileira de Trilhas de Longo curso e criada em 2019 no contexto dos Caminhos do Peabiru. Remete ao rio Paraná e aos seus afluentes (Ivinhema e Paranapanema por exemplo) que foram palco de batalhas, rota de acesso (e de fuga) pelo interior do continente num processo de invasões e ocupação de grande valor histórico e cultural que poderá ser revivido pelos visitantes. É uma trilha multimodal contemplando caminhada, ciclismo e caiaque. Com seus quase 400 km será a maior trilha aquática do Brasil.
A Rota dos Pioneiros está inserida em um mosaico de mais de uma dezena de unidades de conservação particulares e públicas pertencentes à esfera federal, estadual e municipal. Criadas com o objetivo de proteger o rio Paraná e ecossistemas associados, destacamos o Parque Natural Municipal de Naviraí, com 16.241 hectares – maior parque municipal do país; a APA das Ilhas e Várzeas do Rio Paraná, com mais de um milhão de hectares (a maior unidade de conservação não-marinha no bioma mata atlântica), o Parque Estadual das Várzeas do Rio Ivinhema, tendo em seus extremos o Parque Estadual do Morro do Diabo a noroeste e ao sul deste conjunto o Parque Nacional de Ilha Grande. Porém, todo este imenso mosaico está praticamente ilhado numa das áreas mais devastadas dos estados do Mato Grosso do Sul, Paraná e São Paulo.
Após mais de 10 anos de ações de governança territorial do Corredor de Biodiversidade do Rio Paraná, as trilhas de longo curso chegam, estrategicamente, como um fio condutor conectando o sul do Parque Nacional de Ilha Grande ao norte do Parque Nacional do Iguaçu, levando consigo uma estratégia de recuperar áreas degradadas e melhorar a qualidade da paisagem com iniciativas de ecoturismo, turismo rural, turismo de aventura e sistemas agroflorestais. O elo entre estas unidades de conservação, materializado por trilhas que as conecte, faz com que o sonho de romper o isolamento de quase um século para seus moradores, aos poucos se concretize em realidade.
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Rota dos Pioneiros, maior trilha aquática do Brasil.
Rede Brasileira de Trilhas
Pegadas Amarelas e Pretas
Conectando as Unidades de
Conservação do Brasi