Você, está ao lado da soberania do Brasil sobre a Amazônia ou acredita que a defesa dela é maior dos que as fronteiras nacionais?
Essas são as primeiras exigências que o seu ego e talvez os seus grupos de trabalho, família e amizade fazem para você, pressionados pelo dia a dia ansioso e polarizado. Mas, já pensou se é realmente necessário? É preciso ter cuidado, por exemplo, para não cair na Janela de Overton.
Essa é uma técnica que consiste em fazer setores da sociedade aderirem gradualmente a opiniões das quais discordam, atraídos pela simpatia por um argumento secundário agregado ao original. É uma das ilusões que faz com que você, digamos, seja contra o desmatamento e as queimadas, mas diante de uma ameaça real ou imaginária de ver a Amazônia gerida por estrangeiros, apoia uma retórica nacionalista abertamente antirregulatória.
Há, porém, outros estados de consciência que podem ser acessados se você, ao encarar uma notícia, parar, respirar e buscar outros ângulos.
Um deles é se colocar como expectador de si mesmo no contexto em que você está inserido aqui e agora, como observador de como a sua opinião se forma sobre a conjuntura e buscar compreender um assunto com atenção plena e curiosidade. É uma opção para conhecer a verdadeira natureza de qualquer establishment político: governar você em vez de ser a manifestação do seu poder interior de ser o governo.
Concentre-se em quem é você neste jogo? Você é alguém que tem terras no Norte, no Centro-Oeste, que quer expandir sua produção? É um investidor em empresas que seriam beneficiadas com a expansão da fronteira agrícola?
É melhor para você fazer coro com a ideia de que os países desenvolvidos usam o ambientalismo para reduzir o espaço do Brasil no comércio mundial ou se somar aos fundos e bancos que estão se comprometendo com a sustentabilidade e se afastando de países com dificuldades em cumprir tratados internacionais?
Se grandes capitalistas deixam claro que podem e querem adaptar seus negócios à proteção ambiental, o que isso tem de ruim e inviável? Sendo assim, em vez de se preocupar com o potencial econômico desperdiçado pela proteção ambiental, não é melhor prestar atenção, antes, no potencial desperdiçado pelo desemprego?
Um outro estado de consciência é quando você silencia a mente sozinho, pode sentir a vida pulsando em você, ali, quietamente, sem precisar estar em uma atividade eletrizante. O que você sente é o mesmo que, à sua maneira, sentem os animais e plantas que estão em áreas devastadas, queimadas ou ameaçadas atualmente. A vida é real e única, como é para você.
Por quê apoiar a destruição gratuita da vida? Pela ideologia desenvolvimentista, pela ideologia liberal, pela ideologia conservadora? É como aquele ardoroso opositor da lei da palmada: de onde vem tanta vontade de agredir um filho e de exigir que todos o imitem?
Uma ideologia muito popular até recentemente era de que grandes projetos hidrelétricos trariam desenvolvimento e, por isso, eram defendidos como mais importantes do que artefatos arqueológicos, ciclos naturais dos animais e vegetais ou mesmo que certas espécies. Depois, soube-se que muitos desses grandes projetos foram fontes intermináveis de propina e malefícios aos próprios centros urbanos de seu entorno, como o incremento da violência, do tráfico de drogas e da exploração sexual infanto-juvenil.
São apenas ideias que passam e voltam no ciclo de impermanência da vida não só natural, como da social. Um dias desses governava o PSDB, em seguida o PT, logo mais o MDB, hoje Bolsonaro e amanhã haverá novos arranjos. Esqueça por um minuto que bilionários globalistas financiam ambientalistas e que bilionários nacionalistas financiam o negacionismo climático, a contradição fundamental é se, nessa impermanência, sua ação fará a vida progredir ou regredir; e o aspecto principal da contradição é para qual dos dois destinos você construirá condições favoráveis.
Antes do politicamente correto x o politicamente incorreto, tem o respeito, a compreensão e o despertar para as infinitas possibilidades do exercício da liberdade de pensar com a própria cabeça.
*Texto publicado originalmente em Os Divergentes e republicada por ((o))eco.
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