O Brasil é o terceiro país do mundo em quantidade de aves, com suas 1.651 espécies descritas até o momento. Mas, esta quantidade pode aumentar significativamente, conforme se descubra mais espécies, principalmente na Amazônia. Estes dias mesmo foi encontrada uma nova espécie de ave a apenas 30 quilômetros da cidade de São Paulo, em Salesópolis: o bicudinho do brejo. As espécies descritas para toda a Terra são em número de 9.500. A Colômbia e o Peru são os dois primeiros países em número de espécies.
As aves sempre motivaram muitas publicações. O melhor tratado ornitológico em português, quer seja pela sua amplitude ou singularidade, que abrange todos os aspectos da ornitologia como ciência e com verbetes específicos sobre a grande maioria das espécies que ocorrem no Brasil é a Ornitologia Brasileira: Uma introdução, de Helmut Sick, editado em 1985 e reeditado em 1997. Augusto Ruschi, famoso ambientalista, publicou em 1979 a reedição do seu livro Aves do Brasil e outros sobre beija-flores. A Eletronorte soltou um livro de mesa, com belas fotos, em 2000, intitulado: Brasil 500 Pássaros, por ocasião da comemoração do aniversário do descobrimento. Outro exemplo é o Banco Sudameris Brasil que lançou outro belo livro de mesa, com o título: Aves no Pantanal, em 1994.
Outros livros e guias existem até mesmo em português, como, por exemplo: Aves Silvestres do Rio Grande do Sul, de Dunning e Belton, publicado em 1993, e As Aves em Santa Catarina, de Lenir Alda do Rosário, lançado em 1996. Estes livros são úteis para o conhecimento da avifauna local ou nacional, mas não possuem a mesma importância científica ou abrangência, ou o mesmo esmero que o de Sick.
Sobre a extensa região do Pantanal, com seus 160.000 km², a maior área úmida do planeta, existe um guia de aves do Pantanal Mato-grossense e áreas anexas, mas em inglês: Birds of Southwestern Brazil, de B. Dubs.
Acaba de ser lançada uma nova publicação sobre as aves brasileiras. Trata-se do Pantanal: Guia de Aves – Espécies da Reserva Particular do Patrimônio Natural do SESC Pantanal, de autoria de Paulo de Tarso Zuquim Antas. Este livro é particular, pois diferentemente da maior parte dos anteriores, baseados em desenhos, nem sempre bem feitos, mostra todas as aves com base em fotografias de extraordinária qualidade. Não poderia ser de outro modo já que as fotos são de nada menos do que Haroldo Palo Jr., paciente e talentoso fotógrafo da natureza. O único livro brasileiro que tentou isto foi o antes citado de Dunning e Belton. Mas a diferença é que, no livro de Antas e Palo Jr., as 324 fotografias foram exclusivamente feitas na natureza.
O novo livro baseia-se no resultado de cinco anos de pesquisas do ornitólogo Dr. Paulo de Tarso Zuquim Antas, que tem trabalhado na região do Pantanal com aves desde 1978. Ele é um dos mais conhecidos e experientes ornitólogos do país, tendo sido o responsável pela organização, estabelecimento e funcionamento do Centro Nacional de Pesquisa para a Conservação de Aves Silvestres (Cemave) do Ibama e seu diretor por muitos anos. É autor de vários livros e publicações científicas, entre eles Aves Comuns do Planalto Central, de 1988, em co-autoria com Roberto Cavalcanti, e Tuiuiú Sob os Céus do Pantanal, de 1997, tendo como sua co-autora Inês de Lima Nascimento.
Palo Jr. é famoso, pois atua como fotógrafo da natureza há 28 anos, tendo chefiado uma das equipes de Jacques Cousteau durante a expedição à Amazônia em 1982, organizada pela Cousteau Society. Ele ainda participou de oito expedições à Antártida, de 1984 a 1995, junto ao Programa Antártico Brasileiro. Seu trabalho de foto e vídeo gráfico é fartamente utilizado por várias instituições e organizações não-governamentais ambientalistas para divulgar a riqueza da nossa biodiversidade e os problemas ambientais no Brasil e no mundo. Seu último livro, Pantanal: Quatro Estações, de 2003, tem versões em português e inglês.
No Pantanal ocorrem 650 espécies distribuídas em 65 famílias distintas. Na Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) do SESC, com 106.000 hectares, foram identificadas mais de 300 espécies, ou seja, quase metade do que existe para toda aquela imensa região. Diante dos resultados das pesquisas científicas que levantaram a quantidade de espécies, sua distribuição nos diferentes ambientes da reserva, as migrações, as raras e ameaçadas de extinção, dentre outros fatores, o SESC resolveu publicar, em português, o Guia de Aves da RPPN do SESC Pantanal, com o intuito de atender os bird watchers, cientistas e visitantes da reserva, bem como de ser útil à educação ambiental.
O trabalho apresenta as características gerais do Pantanal, a maior área úmida do globo, a Reserva do SESC, que é reconhecida como Sítio da Convenção de Ramsar, a avifauna da reserva, nomenclatura e classificação das espécies de aves, observação e atração de aves, descrição das espécies e um índice remissivo.
O livro é singular também porque oferece uma síntese da biologia de cada espécie, sua distribuição nas diferentes fitofisionomias da RPPN: cerrado, campo, cerradão, mata seca, cambarazal, rios, corixos e baías, mata ciliar do rio Cuiabá e do rio são Lourenço e brejos, bem como mapa de rotas de migração das espécies migratórias. O Guia revela a existência de uma espécie desconhecida para Mato Grosso, o caboclinho Sporophila cinamomea, e de espécies raras e ameaçadas de extinção como, por exemplo, o jacu Penelope ochrogaster, a arara azul Anodorynchus hyacinthinus, o gavião Leptodon cayanensis e o curió Oryzoborus angolensis. Demonstra ainda que a Reserva é o limite sul para a distribuição de várias espécies amazônicas e que a RPPN está na rota de migração de espécies do Hemisfério Norte, como, por exemplo, o gavião Ictinia misisipiensis. O livro ensina, ainda, como fazer a observação e atração de aves, dizendo dos melhores períodos e equipamentos básicos para o observador, como binóculos e lunetas. O lançamento do guia deve acontecer em breve, embora já possa ser requisitado ao SESC.
Assim, todos aqueles envolvidos com o Pantanal, com reservas particulares ou com o ecoturismo, além dos próprios cientistas, podem contar com esta séria e ímpar informação a respeito da avifauna pantaneira, que tanto atrai a todos pela beleza de suas aves, quantidade e facilidade de visualizá-las. Este é outro grande passo para o conhecimento do Pantanal, da sua avifauna e, em especial, para a promoção do ecoturismo.
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