No dia 28 de outubro, o Globo anunciou que o leão circense Baby, de 15 anos, foi recolhido por policiais da Delegacia do Meio Ambiente e encaminhado para o zoológico de Niterói. Segundo os moradores das casas próximas, o leão, que vivia preso numa pequena jaula, incomodava a todos, rugindo muito alto. O animal foi transportado na própria jaula para o zoológico de Niterói, onde ficará com outros seis leões.
Para quem viveu os últimos anos na solitária, digamos que Baby foi promovido. Agora, ele vai viver com outros exemplares de sua espécie em local tecnicamente adequado. No entanto, para quem nasceu leão, as duas opções acima são igualmente deprimentes.
Criado no circo Koslov, Baby deixou o picadeiro em 2002, após a promulgação da lei do vereador Cláudio Cavalcanti (PFL) que proíbe a utilização de animais silvestres, nativos ou exóticos, em circos e espetáculos como vaquejadas, rodeios e touradas.
A utilização de animais no circo, segundo veterinários e especialistas em comportamento animal presentes na apresentação desta campanha, não cumpre qualquer objetivo positivo. Nem mesmo é “educativo”, como poderia se pensar. Os animais não são apresentados no seu estado natural, mas sim imitando comportamentos próprios dos humanos. Na selva, um tigre nunca saltaria por uma argola de fogo. Tampouco um urso pedalaria uma bicicleta.
Eu sempre adorei circo, sempre achei interessante. Quanto mais pobre fosse o circo, mais eu gostava. E isso acontecia porque sempre achei que a falta de opções fazia com que as pessoas se tornassem mais criativas, tivessem menos medo dos riscos, enfim, tudo no circo brasileiro, aquele típico “sem recursos,” me parece mais genuíno e menos padronizado. Tem coisa que perde o charme, vira menos quando se torna algo mais. Lembro-me de ir a circos onde os malabaristas mais erravam que acertavam. Era constrangedor e muito divertido. Talvez as falhas me trouxessem sensação de proximidade. Sei lá. Sádica eu acho que não sou. Sim, sentia pena do elefante por achar que ele era grande demais para aquele espaço.
Agora, pena mesmo, eu sentia do palhaço. Mas isso não vem ao caso. A questão aqui são os bichos e se a lei que proíbe a presença de animais silvestres sob suas lonas é ou não correta. É, mas apenas em parte. Porque ela não vai até onde deveria e isso a torna contraditória. O que torna um animal silvestre mais nobre aos olhos de nossos legisladores do que um animal doméstico? Hábito, talvez? Somos cúmplices de inúmeros espetáculos de violência animal e já nos acostumamos com isso. Cães confinados em apartamentos também são condicionados, castigados, adestrados e obrigados a fazer palhaçadas que não fariam se estivessem em campo livre.
Eles também viajam em caixotes, mesmo que devidamente sedados e embalados em Louis Vuitton, para fazer jus à primeira classe. Se um cachorro numa bolsa não deixa ninguém nervoso, por que um elefante debaixo de uma lona seria considerado cruel? Dar a patinha, por exemplo, deve ser constrangedor para um cachorro que está mais para dar patadas em suas presas do que patinha para quem lhe fornece ração. Mas, como o cão já é considerado um escravo doméstico, que abana o rabo e alegra o fim do dia de seus proprietários, por uma questão de custo-benefício, faz-se vista grossa e os maus-tratos passam em branco.
Antes que alguém me diga que seu cachorro é mais bem tratado que muita gente, aviso: nenhuma ração, banho ou tosa paga o preço da liberdade. Os cães, infelizmente, assim como os animais de circo, vivem na condicional e não têm para onde correr.
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