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Luz no fim do túnel

Sem nenhum sentimentalismo, grandes empresas e investidores aderem à causa ambiental. Mostram que o verde não é inimigo do desenvolvimento econômico.

12 de maio de 2005 · 19 anos atrás

Enquanto aqui no Brasil ainda há autoridades insitindo na falácia de que proteção ao meio ambiente se opõe ao desenvolvimento econômico, são cada vez mais freqüentes as indicações de que existe pelo mundo afora um grupo cada vez maior de gente ligada ao mundo das empresas que vê na sustentabilidade não apenas um imperativo ético mas também uma oportunidade de negócios. Os exemplos da semana vêm dos Estados Unidos, onde a General Electric acaba de anunciar uma ampla iniciativa verde, e de Hong Kong, onde o banco de investimentos CLSA acaba de distribuir para os seus clientes um relatório sobre o problema da poluição do ar nas grandes cidades da Ásia, e seu impacto sobre a saúde, e o bolso, dos seus moradores.

É difícil exagerar a importância da GE. Os números são superlativos: receitas anuais de US$ 152 bilhões, lucro de US$ 16,6 bilhões, valor de mercado de mais de US$ 380 bilhões. Para entender o que isso significa, basta lembrar que a soma do valor de todas as empresas negociadas na Bovespa é de US$ 340 bilhões. Mas sua influência vai além disso. Desde os anos 90 ela é vista consistentemente como uma das empresas mais admiradas e respeitadas do mundo. Isso se deve em parte à capacidade da gerência da GE de identificar oportunidades de negócios antes dos outros, e de explorar muito bem essas oportunidades.

É por isso que quando a GE anuncia uma iniciativa ambiental, vale a pena prestar atenção. A iniciativa, que ganhou o nome de ecomagination, tem como objetivo dobrar as vendas de produtos que trazem benefícios ambientais e de eficiência para os seus compradores, de US$ 10 bilhões em 2004 para US$ 20 bilhões em 2010. Ao mesmo tempo, estabelece metas de aumento de eficiência energética e de redução de emissões de carbono para a própria GE. Para chegar lá, a empresa pretende dobrar os seus investimentos em pesquisa e desenvolvimento de tecnologias limpas, de US$ 700 milhões em 2004 para US$ 1,5 bilhão / ano em 2010. E para afastar as suspeitas de que se trata apenas de propaganda verde, a GE se compromete a manter o público informado sobre o andamento do programa da maneira mais transparente possível.

Ambientalistas americanos – que de maneira geral têm razões de sobre para desconfiar das intenções das grandes empresas – receberam com entusiasmo o anúncio. A revista eletrônica Grist, por exemplo, cumprimentou o “esforço amplo e ambicioso” da GE. O lançamento recebeu ainda o apoio de gente ligada a ONGs respeitadas, como o World Resources Institute e GreenBiz.com. É mais um indicador de que o setor privado pode avançar nas questões ambientais mesmo quando o governo parece fingir que elas não existem.

O outro indicador vem de Hong Kong, talvez o lugar do mundo mais intimamente associado com o conceito de laissez-faire, isto é, com a idéia de que o mercado, sem intervenção do governo, acaba sempre achando as melhores soluções para os problemas que afligem a humanidade. Pois o CLSA, um banco de investimentos de origem francesa sediado naquela cidade, acaba de lançar um relatório dirigido a investidores sobre poluição do ar na Ásia. Produzido por uma ONG de Hong Kong, o relatório explica didaticamente o que é poluição do ar, suas causas, suas conseqüências para a saúde da população. Descreve ainda a ligação entre poluição e fontes de energia, e identifica oportunidades de negócio que deverão surgir nos próximos anos na medida em que os governos da região passem a exigir emissões menores, combustíveis limpos, e fontes alternativas. O relatório lembra ainda que poluição do ar afasta investimento, especialmente em cidades que querem ser centros de serviços, e portanto precisam oferecer qualidade de vida de maneira a atrair e reter os profissionais mais competentes.

Já está na hora de rever esse preconceito de que meio ambiente é inimigo do desenvolvimento econômico.

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