Qualquer discussão sobre aquecimento global e a revista Economist tem que começar pela figura de Bjorn Lomborg . Este cientista político dinamarquês tonrou-se notório depois da publicação, em 2001, do livro O ambientalista cético e da enorme controvérsia que ele criou. Em 2001 a revista deu a Lomborg espaço para expor suas idéias, coisa que não acontece todo dia. E em 2004 apoiou a conferência que Lomborg organizou e chamou de “Consenso de Copenhague”. Essa conferência, que continua gerando discussões acaloradas até hoje, tinha o objetivo declarado de estabelecer prioridades entre os diversos males que afligem os países em desenvolvimento.Por uma razão ou por outra, mudança climática ficou no fim da lista.
Essa associação com Lomborg não chega a comprometer a integridade da revista, mas indica uma certa orientação, uma certa tendência a descontar alguns dos alertas mais ásperos de cientistas e ambientalistas. Nada disso teria o menor interesse não fosse a tremenda influência da Economist, principalmente pela qualidade das suas análises. Daí o interesse quando a revista publica um relatório sobre mudança climática – que, apesar de citar Lomborg como fonte, admite logo de saída que o problema da mudança climática provocada pela ação humana tem conseqüências potenciais tão graves que medidas mitigatórias fazem sentido, mesmo diante das persistentes incertezas científicas.
O levantamento da revista é um resumo competente dos aspectos mais importantes do assunto – reconhecidamente complexo – da mudança climática. Discute o que os cientistas sabem sobre o assunto, mas também fala das incertezas, tanto com relação ao funcionamento do sistema climático, quanto com relação à amplitude das mudanças que se anunciam. A parada da Corrente do Golfo, por exemplo, é uma possibilidade real, que levaria à uma alteração catastrófica do clima na Europa. Outra possibilidade bastante séria é a elevação do nível dos oceanos em função do degelo polar.
Também estão lá a controvérsia em torno do impacto da mudança climática sobre a atividade de furacões, e o seu impacto econômico, assim como os efeitos do aquecimento sobre a fauna e flora do planeta, com extinções e migrações.
Há ainda uma discussão dos custos da mudança climática, da adaptação e da mitigação dos seus efeitos – discussão bastante sofisticada mas pouco conclusiva, dadas a novidade do assunto, a incerteza reinante, e as limitações da análise de custo-benefício diante de problemas que atravessam fronteiras nacionais e que afetam várias gerações no futuro. A autora admite que diante dessas limitações o bom senso sugere que vale a pena tomar medidas mitigatórias. O seu custo não é tão alto, especialmente diante de algumas possibilidades catastróficas como o degelo dos polos, elevação do nível dos oecanos, e parada da Corrente do Golfo.
A próxima questão é como investir em mitigação da maneira mais eficiente e eficaz possível. A negociação de créditos de carbono é vista como a maior conquista do Protocolo de Kyoto, apontando para um futuro onde será necessário engajar países ricos e países em desenvolvimento no esforço para controlar emissões de gases do efeito estufa. A participação dos Estados Unidos nesse processo é chave e, de acordo com a Economist, nem tão improvável como parece à primeira vista. A pressão dos estados sobre o governo americano cresce, e se tivermos mais uma onda de calor ou temporada de furacões sem precedentes Washington terá que reagir. O mecanismo terá outro nome por razões políticas, mas o princípio será o mesmo.
E Bjorn Lomborg, por onde anda? Por aí – repetindo a sua ladainha de sempre em veículos de comunicação de grande prestígio. Será que alguém ainda o leva a sério?
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