Nos últimos 30 anos, as tarifas de importação americanas de bens industrializados caíram pela metade. Em decorrência, boa parte da indústria americana transferiu suas fábricas para países de mão-de-obra barata e legislação ambiental e trabalhista mais frouxa. Isso atraiu a fúria de ambientalistas. Um trabalho recente sobre o tema traz boas notícias. Ao longo de duas décadas, apesar da indústria americana ter se tornado menos poluente, ela não exportou o problema. Durante esse tempo, as importações industriais do país também se tornaram mais limpas.
Vários movimentos ambientalistas encararam com grande preocupação e indignação o aumento do comércio mundial. O tal livre comércio seria a senha para as corporações continuarem práticas ambientais inaceitáveis. E, assim, junto com outros movimentos que se aglutinaram sob o rótulo anti-globalização, foram protestar na porta das reuniões da OMC (Organização Mundial do Comércio). Como fórum onde se negociam a abertura de mercados e o corte de tarifas de importação, a OMC seria também instrumento para a exportação mascarada da poluição. Para governos que não se importam em combatê-la.
A argumentação dos ambientalistas tem bons pontos, mas há controvérsia. Se as indústrias mais poluidoras se mudarem para países com poucas leis ambientais, de fato, a poluição global e o consumo de recursos naturais tende a aumentar. Ocorre que boa parte dessa poluição pode ter impacto apenas local. Então, quando se fala de poluição doméstica, o setor de reclamações deve ser o governo do próprio país e, não, a OMC. Já quando se trata de questões que ultrapassam fronteiras, como o efeito estufa, com efeito, esse é um problema para um fórum internacional.
Polêmica a parte, é sabido que a indústria dos países ricos está gerando cada vez menos resíduos por unidade produzida. Com a paralela redução de tarifas internacionais, é razoável imaginar que a causa da melhoria fosse a mudança das atividades mais nocivas para o resto do mundo. Mas um estudo feito pelos economistas Josh Ederington, Arik Levinson e Jenny Minier não encontrou essa relação.
Os autores compararam a evolução da produção industrial doméstica dos EUA com a quantidade que ela gera de três categorias importantes de poluentes: Dióxido Sulfúrico (SO2), Sólidos Suspensos em Água e Resíduos Perigosos. Nenhum deles acompanhou a subida da produção industrial. Entre 1972 e 1996, a produção industrial americana aumentou 57%, mas ficou, ao mesmo tempo relativamente mais limpa. Durante o período, a quantidade de SO2 cresceu 21%, menos da metade. Os Resíduos Perigosos cresceram 35%, enquanto os Sólidos Suspensos, ao contrário, caíram 15%.
Durante o mesmo período, as tarifas americanas de importação de bens manufaturados foram cortadas pela metade, de uma média de 8% para menos de 3%. Como apontam os autores, se o comércio mais aberto tivesse “exportado” as indústrias poluentes, as importações americanas deveriam, em contrapartida, ter se tornado mais sujas. Para checar essa hipótese, eles usaram o Industrial Pollution Projection System (IPPS), um detalhado banco de dados do Banco Mundial, que registra a quantidade de 14 poluentes importantes nas mais variadas indústrias.
O comércio mais livre fez as importações explodirem, aumentando 318% entre 1972 e 1994. Mas, para todos os poluentes medidos pelo sistema do Banco Mundial, a quantidade de poluição contida nas importações subiu menos. Em proporção, esse acréscimo foi, no máximo, de dois terços. Ou seja, as importações também melhoraram. Olhando em separado para o comércio com os países em desenvolvimento, o resultado foi parecido: importações com um coeficiente de poluentes menor.
Por fim, um achado surpreendente do trabalho, foi descobrir que as indústrias exportadoras dos EUA não tiveram uma performance tão boa Elas tiveram ganhos ambientais, porém bem menores do que o visto nas compras externas. As indústrias mais poluidoras dos EUA não quiseram migrar. Especula-se que seus sindicatos ou lobbies de empresários sejam suficientemente poderosos para obter benefícios que as permitam continuar operando. O fato é que, no grosso, elas não se mexeram.
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