O petróleo não vai acabar. Essa é uma ótima notícia para o meio ambiente. Afinal, o petróleo está por trás de boa parte dos nossos problemas de poluição. É responsável por cerca de 40% da geração de energia no mundo, seja movendo os motores de carros, caminhões, aviões e navios; aquecendo casas e edifícios; ou queimado para gerar energia elétrica. Tudo isso, resultando em quantidades bárbaras de gases do efeito estufa. Sem contar, quando vaza e polui mares e baías.
A boa nova é que ao alcançar preços recordes, que, nos últimos dias, triscaram os cem dólares por barril, o petróleo está deixando de ser atraente. Está em marcha, por razões meramente econômicas, o movimento para substituí-lo. Com sorte, sobrará em grandes quantidades, adormecido sob o solo e o leito dos oceanos. A Petrobrás será poupada do esforço de perfurar poços a sete mil metros de profundidade. Não precisaremos explorá-lo em áreas protegidas do Alaska ou desvirginar o Ártico.
Ok, esse prognóstico é incerto. Falta muito para viabilizar substitutos seguros e sustentáveis. A energia solar e eólica engatinham. A biomassa contém seus próprios riscos. Por isso, a melhor maneira de defender a obsolescência porvir do petróleo é olhar pelo retrovisor. Um dos sinais de que o passado ensina é a atual saúde da economia mundial. Apesar dos preços crescentes do barril, os últimos anos registraram taxas altas de crescimento. O contrário do que aconteceu durante os famosos choques da década de 70, quando, ajustados à inflação, preços similares causaram recessão.
Por que o mesmo não se repete agora? Duas parecem ser as razões principais. A primeira é que a atual disparada do preço vem a reboque do aumento de demanda, gerada pelo crescimento da economia mundial, como a do gigante China. Na década de 70, o choque foi causado por uma restrição de oferta orquestrada pela OPEP. A outra é bem-vinda: a geração de valor está cada vez menos dependente do uso de energia, em parte por aumento de eficiência, mas também pela porção cada vez mais importante do setor de serviços. Nos EUA, por exemplo, em 1950 eram necessários 19.500 BTUs de energia para cada dólar do PIB. Em 1980, esse número havia caído para 15.130 BTUs. Hoje, são apenas 8.750. E a queda continua rápida.
É verdade que a produção industrial mais suja está migrando dos países ricos para os em desenvolvimento. Mas há bons motivos para otimismo. O primeiro é que, com os incentivos regulatórios corretos, a eficiência energética alcançada pelos ricos pode ser replicada. Igualmente, o padrão de desenvolvimento dos países emergentes tenderá, com o tempo, a privilegiar o crescimento do limpo setor de serviços. Aqui tivemos uma mostra do fenômeno, quando a revisão dos métodos de mensuração do PIB brasileiro mostraram que ele estava subestimado, pois a maneira antiga não contabilizava direito o crescimento das telecomunicações.
Talvez, a lição mais ampla seja de que não é preciso se prender a uma noção de desenvolvimento baseada num consumo cada vez maior de energia. Se o preço do tanque de gasolina tornar os carros inviáveis, usaremos mais transportes públicos, bicicletas e os próprios pés. As viagens internacionais podem voltar a se tornar tão caras quanto no tempo em que só nobres e milionários viajavam. Aviões talvez venham a ser substituídos por lentos dirigíveis e/ou veleiros. Mas nada disso nos impedirá de aumentar o tempo de lazer ou produzir comunicação interplanetária cada vez mais barata. E com ela, o aumento de bem-estar causado pela difusão de tecnologia e pela variada produção de bens culturais que a economia da internet nos mostrou ser possível.
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