É possível argumentar que todos nós somos ambientalistas. Afinal, quem quer destruir a natureza por gosto? Mas o coração do movimento e dos seus ativistas também envolve a defesa da contenção, da frugalidade; de reduzir o consumo do homem e suas intervenções na natureza. Por isso, as idéias a seguir chocam, a despeito de serem efetivas ou não.
Água “atômica”
Vamos começar pegando leve. A escassez de água é um problema crescente. As causas vão desde o crescimento da população mundial, do uso intensivo nas colheitas, aos efeitos do aquecimento global. Nas grandes e crescentes metrópoles da Índia, o problema é bastante sério. S.S. Verma, físico do Instituto Sont Longowal, localizado em Pujab, propõe uma solução tão criativa quanto controversa. Ele advoga a instalação de reatores nucleares ao largo da costa para produzir energia elétrica barata, não poluente e, de quebra, abastecer de água potável grandes centros como Mumbai.
Usinas atômicas geram como subproduto uma enorme quantidade energia na forma de calor, a qual acaba desperdiçada. No plano de Verma, ela poderia ser usada para mover usinas que dessalinizam a água do mar, tornando-a própria para consumo humano. A tecnologia para levar o projeto adiante já existe.
Termoelétricas a carvão
A consultoria Alliance Bernstein projeta que o investimento em termoelétricas a carvão aumentará de 90 bilhões de dólares, hoje, para 190 bilhões até 2025. A produção de energia elétrica responde por 36% da geração de gases do efeito estufa. Carvão é abundante e barato e os países em desenvolvimento continuam sedentos por mais energia. A capacidade instalada de termoelétricas subirá dos atuais 1.400 gigawatts para 2.100 gigawatts em 2030.
Conter o aquecimento global demanda que as termoelétricas poluam menos. Ao mesmo tempo, seu uso como fonte de energia será expandido. Resultado, surgirá um enorme mercado para o seqüestro e acumulação subterrânea de CO2 emitido por essas usinas. Poços de petróleo exauridos que, no momento valem zero, passarão a ser disputados como local para esse armazenamento. Injetar CO2 em poços no fim da vida útil já é uma prática utilizada pelas empresas de petróleo. Ela passará a ser utilizada para meramente enterrar CO2. A estimativa é de que em 2010 já estarão comprimidos e guardados 600 milhões de metros cúbicos. Esse número crescerá para 12 bilhões em 2030.
Enxofre na atmosfera
E se o aquecimento global sair de mão?
David Keith, cientista da universidade de Calgary, no Canadá, advoga que devemos estudar desde já soluções radicais e rápidas, pois a produção de gases do efeito estufa está crescendo numa velocidade maior do que a prevista nos piores cenários. Nesse caso, pode ser que as mudanças climáticas se tornem catastróficas em duas décadas, apesar de todas as tentativas de mitigação. Teríamos, então, de partir para soluções de geo-engenharia. Uma delas seria saturar a atmosfera com partículas que bloqueiem parte da radiação solar que atinge o planeta.
É um método comprovado de esfriamento. Em 1991, a erupção do vulcão Monte Pinatubo, nas Filipinas lançou uma enorme quantidade de enxofre na atmosfera e esfriou a temperatura global em 0.5 grau Celsius no ano seguinte. Paul Krutzen, um respeitado cientista ganhador do prêmio Nobel, foi o primeiro a sugerir que estejamos preparados para esse plano B.
Ninguém sabe com certeza os efeitos colaterais que resultariam da experiência. Mas sabe-se que seria uma solução muito mais barata do que conter as emissões. Talvez cem ou mil vezes mais barata do que cortar as emissões dos gases do efeito estufa. Por isso, debater essa alternativa não é algo aceito na comunidade ambientalista. A possibilidade poderia ser uma desculpa para adiar o caminho mais duro e garantido: o corte das emissões. Seria um bom pretexto para cruzar os braços até que algo sério aconteça.
Como diz, Keith, esse risco existe. Mas, rebate, não devemos interditar o debate de soluções politicamente incorretas. Se elas forem necessárias, precisaremos saber o máximo sobre suas conseqüências.
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