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As águas claras do Montenegro

No país que fazia parte da antiga Iugoslávia, um caso típico em que a economia e o amor próprio de um povo dependem do bem estar do meio ambiente em que vivem.

3 de novembro de 2009 · 15 anos atrás

Desde o momento em que cruzamos a fronteira da Croácia, Montenegro impressiona. Os dois povos falam a mesma língua, pertencem à mesma etnia e têm raízes histórico-culturais comuns, entretanto, parece que mudamos de mundo. Há menos de cinco quilômetros da fronteira o dinheiro croata já não é aceito e a camisa do selecionado de futebol do país vizinho atrai olhares indignados. Nesse canto do planeta a guerra ainda causa muitos ressentimentos.

A natureza, assim como o elemento humano, é similar em ambos os países da antiga Iugoslávia. Mares de águas límpidas e montanhas escarpadas de calcáreo combinam-se para emprestar à região uma paisagem de tirar o fôlego. Em Montenegro, contudo, o mar entra terra adentro esculpindo uma geografia ainda mais bela que na vizinha Croácia. Tão logo entra no pais, o viajante é recepcionado pelo fiorde de Kotor, cujas paredes verticais chegam a alcançar os 1700 metros de altitude e flanqueiam uma cidade medieval que é tombada pela UNESCO como Patrimônio Mundial da Humanidade.

Acima de Kotor está o Parque Nacional de Lovcen (veja foto abaixo), uma das cinco áreas protegidas que Montenegro herdou da Iugoslávia quando votou por sua independência em 1996. Lovcen foi declarado Parque Nacional em 1952, ainda durante o regime comunista do Marechal Tito. Cobre uma área de 6.400 hectares e protege 1158 espécies de plantas (quatro endêmicas) e uma fauna variada que inclui lobos e ursos.

Durante o inverno as estradas que cortam Lovcen costumam ficar cobertas de neve e impassáveis. Por outro lado, no verão, turistas de toda a Europa Central descem ao litoral do Adriático em busca de sol e descanso. A grande maioria fica na costa da Croácia, mas muitos dirigem até Kotor. Nem todos querem só praia. Muitos aproveitam para visitar Lovcen. Montenegro preparou-se bem para esse tipo de turismo. Já junto à fronteira placas rodoviárias ensinam o turista a chegar ao Parque Nacional. No centro de Kotor, nova sinalização, direciona o excursionista a trilhas que começam no nível do mar, galgam as paredes do fiorde, atravessam Lovcen e prosseguem até lugares distantes no interior do país.

Lovcen está cortado por uma dezena de trilhas marcadas com sinalização impecável, baseada em um código de cores. Em cada cruzamento mais importante há um poste com setas, nomes dos locais mais próximos e distâncias em minutos e quilômetros. Ao longo do caminho, a sinalização é pintada em árvores e pedras. Um sistema barato e eficiente. Graças a ele, um turista desavisado pode caminhar sem medo pelas matas e pela vegetação de altitude de Lovcen. O risco de se perder é mínimo e o proveito tirado pelo visitante é máximo.

Quem não chega a subir as encostas de Lovcen, também aproveita a natureza montenegrina. O litoral do país é banhado por águas límpidas cujo azul transparente rivaliza com o Caribe. A essas águas Montenegro deve grandeparte dos seus recursos em moeda estrangeira, pois são elas que atraem a turistada e seus euros. Também é nesses mares que o país pratica seu esporte nacional, o pólo aquático. A cada 300 metros, existe um campo de water polo montado na praia, onde a garotada disputa animadas peladas que duram o dia inteiro. Não é para menos que o país, com apenas 600 mil habitantes, aplicou uma sova de 19 a 5 ao Brasil no campeonato mundial de desportos aquáticos que aconteceu em Roma em julho de 2009, ignorando o fato de termos uma população de quase 190 milhões de pessoas.

A relação entre Lovcen no topo da montanha e os mares azuis montenegrinos é fundamental para a saúde do país. A proteção dos cursos d´água e o manejo que evita a erosão são fundamentais para a clareza das águas que atraem os turistas e fornecem a cancha do esporte nacional montegrino. É um caso típico em que a economia e o amor próprio de um povo dependem do bem estar do meio ambiente em que vivem. Oxalá o mundo todo fosse assim.

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