Caros amigos de ((o))eco
Carlos Gabaglia Penna , um dos maiores especialistas em questões ambientais no Brasil, foi também um dos colunistas mais apreciados por nossos leitores. Algumas de suas colunas, como “O efeito da mineração no meio ambiente” e “A Revolução Verde é insustentável”, estão entre as mais lidas durante os sete anos de vida de nosso site. Penna era professor da PUC do Rio de Janeiro e autor do livro “O Estado do Planeta”, uma obra referência nos atuais cursos de gestão ambiental.
Gabaglia Penna faleceu no dia 9 de junho, no Rio de Janeiro, em decorrência do câncer.
Este espaço está aberto a mensagens de amigos e profissionais que conheceram e foram influenciados pelo trabalho de Carlos Gabaglia Penna. Se você quiser deixar o seu relato, escreva comentários abaixo. Ou envie para [email protected]
Homenagem de Carlos Secchin
Conheci Carlinhos há 30 anos, numa viagem que fiz ao Pantanal e, desde então, nos tornamos amigos. O meu último livro: Peixes do Brasil tem a sua participação no texto com apresentação do Marcos Sá Corrêa.
Não havia limite pelo seu interesse sobre todas as formas de vida e sua preocupação com o nosso futuro próximo e sombrio, baseado, segundo ele, num sistema econômico montado sobre um crescimento crescente, ilimitado e insustentável.
O último trabalho juntos, estávamos no Distrito Federal, quando nos sobrava algum tempo íamos lá dar prosseguimento a um levantamento da avifauna local. Ele com o seu bloco inseparável de anotações e o binóculo no pescoço ia generosamente me apresentado e repassando o seu vasto conhecimento sobre a fauna do Cerrado.
Foram muitos e incontáveis momentos de deslumbramentos, anotando, observando e documentando tudo que nos foi possível. Espero que um dia as pessoas possam conhecer sobre a sua capacidade, conhecimento e dedicação que esse grande brasileiro dedicou à natureza de seu país.
Uma pequena homenagem a um grande defensor da natureza, por Suzana M Pádua
Ambientalista ferrenho, colunista de ((o))eco, conselheiro do IPÊ, participante do PNUMA, professor da PUC-Rio e envolvido de corpo e alma em inúmeros campos de atividades, Carlos Raja Gabaglia Moreira Penna, Carlinhos, passou a uma outra existência nessa última 5a feira, dia 9 de junho de 2011. Tudo o que fez, o fez com paixão e qualidade. Radical em suas opiniões, nada era pela metade. Carlinhos se interessava por muita coisa. Era eclético, apaixonado e carismático. Cultivava os amigos, os pássaros e micos, que frequentavam sua casa na Gávea, onde os jardins os hospedavam com proteção e cuidado. Sempre foi interessante observar a forma de amar de Carlinhos que era um tanto diferente. À primeira vista, não demonstrava a sutileza que carregava em sua alma. Com aparência de brigão, por sempre lutar intensamente pelas suas crenças, assustava quem não o conhecia, ou fazia rir aquelas que sabiam de seu jeitão inadvertido de se expressar. Mas, a delicadeza de sua alma era conhecida por seus amigos e parentes, que lotaram sua casa no dia em que se foi. Que homenagem tocante e merecida! Raramente se vê uma pessoa ser tão querida e por gentes tão diferentes. Muitos eram amigos de longa data (como Claudio e eu), outros o conheciam por meio de suas paixões pelo meio ambiente, pela musica, pelo judô ou pela literatura. Carlinhos lia sem parar, e por isso estava sempre formulando idéias interessantes e instigantes – muitas das quais aplicava em sua vida e transmitia a seus alunos. Escreveu artigos e livros e contribuiu significativamente para a visão ecológica do Brasil. Não foram poucos os depoimentos tocantes de pessoas presentes, confirmando o tanto que era especial.
Esta foto foi tirada na sede do IPÊ – Instituto de Pesquisas Ecológicas, quando formulávamos o programa de Mestrado a ser oferecido por esta instituição na Escola Superior de Conservação Ambiental e Sustentabilidade – ESCAS. Gabaglia está de camisa azul, agachado.
Carlinhos, saiba que sentiremos saudades! Tenho a certeza que não são só as pessoas que sentirão sua falta, mas a natureza como um todo, que perdeu um defensor de sua proteção. Que você siga, onde quer que esteja, cuidando do que te toca na alma. Obrigada por ter compartilhado um pedacinho de sua vida conosco! Que a Christina (sua mulher e amiga da vida toda) se sinta acolhida por todos nós, e que os 40 anos juntos sirvam de inspiração para que siga adiante com a elegância, fleuma, força e entusiasmo que sempre teve.
Homenagem de Fernando Fernadez
Carlos Gabaglia (era assim que o chamava) me foi apresentado por um amigo comum, o ornitólogo Fernando Pacheco, que disse que Carlos era um ambientalista com uma visão muito parecida com a minha, e que certamente iríamos nos tornar amigos.
Fernando estava certo. Carlos logo se tornou um amigo muito especial para mim. Com sua formação original de engenheiro, e sendo uma pessoa muito inteligente e culta, Carlos tinha uma aguda visão crítica da economia atual destruidora e desperdiçadora, assim como da questão da superpopulação. Tudo isso foi espelhado no seu excelente livro, “O estado do planeta”. Mas sua ligação com as questões “ambientais” ia muito além disso. Gostava muitíssimo de bichos, sempre – amava bichos, e isso para mim tem um valor imenso. Era membro assíduo do Clube de Observadores de Aves do Rio de Janeiro; adorava ver as aves e outros animais no quintal de sua casa na Gávea; e até adaptou as luzes de sua casa para que não prejudicassem os animais à noite (quantos de nós temos esse tipo de preocupação com os outros seres vivos?). Adorava viajar para lugares de natureza; numa de suas últimas viagens memoráveis foi ver os gorilas em Ruanda, e voltou com muitas histórias maravilhosas.
Qualidades? Fácil. Eram muitas. Quando o conheci era um cara de meia idade cheio de vida, que num dia bonito sumia de repente para ir para a praia surfar, ou que lutava judô. Sempre foi um brigão, no ótimo sentido da palavra, pelas causas ambientais, alguém que não tinha medo de discutir e brigar com quem estivesse perpetrando barbaridades contra a natureza, fôsse ele (ou ela) quem fôsse. Um característica muitíssimo marcante de Carlos era a generosidade. Ele estava sempre disposto a oferecer uma carona mesmo que saísse do seu caminho, sempre disposto a fazer algo por alguém. Gostava muito também de receber as pessoas em sua casa. Junto com a sua esposa Cristina – ela também uma pessoa muito especial – Carlos sabia deixar todo mundo à vontade, entreter, e a gente sentia que ele se divertia com isso. Suas reuniões eram memoráveis; ele e Cristina formavam um casal de anfitriões maravilhoso.
Momentos marcantes? Destacaria dois. O primeiro, um debate sobre conservação que tivemos na UFRJ, quando Carlos e eu tínhamos acabado de nos conhecer. O público estava achando que com um engenheiro e um biólogo iria sair faíscas, mas que nada. Saiu foi uma ótima cumplicidade, e uma sensação de descoberta, de que tinha alguém ali junto lutando pelas mesmas coisas que eu lutava; foi um momento muito especial. O segundo, quando ele me chamou para a casa dele para ajudar a cuidar de um ouriço-cacheiro ferido que tinha aparecido por lá. Sua preocupação com o bicho, seu carinho por ele foram coisas muito bonitas de se ver.
Perdi um grande amigo, e quando se vai uma pessoa assim – que na vida tanto fez para tornar o mundo melhor para os outros, inclusive de outras espécies – todos nós perdemos.
Homenagem de Hugo Penteado
Carlos Gabaglia Pena tinha a força das palavras nas mãos ao lutar por um mundo melhor, no qual o sistema fosse visto como um todo e não só apenas através do prisma particular de alguma ciência isolada. Com a visão de tudo interligado, ele escreveu com maestria no site O Eco textos com idéias que todos nós defendemos: que a economia é a parte menos importante, que ela deve existir para atender as pessoas e não o contrário. O planeta é o sistema maior, do qual todos nós dependemos e somos vulneráveis. Temos que negociar com a Terra nossa permanência, não como indivíduos, porque todos partiremos, mas como espécie animal, garantindo o lugar para os filhotes dos filhotes. Gabaglia não tinha medo de falar a verdade contra um sistema preso no dogma do crescimento econômico que é a causa do maior colapso jamais enfrentado pela humanidade, sem trazer benefício algum permanente à humanide e se não revogarmos essa idéia equivoca, nossa viagem com a Terra pode ser interrompida.
Gabaglia conhecia muito bem Itatiaia e foi onde eu o conheci e tivemos oportunidade de visitar Agulhas Negras com amigos comuns. Foi uma bela escalada em dia límpido, com uma dormida no antigo Abrigo Rebouças, acalentados pelo silêncio. Ali esquentamos as canecas para tomar algo quente no meio do frio da montanha. Para o Gabaglia fica o voto que suas palavras jamais sejam esquecidas, muita paz na sua jornada que continua depois de sua passagem na Terra e um até logo.
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